PEDRO ABRUNHOSA EM
ENTREVISTA
Fazedor de canções

Pedro Abrunhosa é hoje um dos artistas portugueses de referência. Os seus primeiros discos ultrapassaram as 150 mil e 200 mil cópias. Natural do Porto, onde nasceu vai para 44 anos, Pedro Abrunhosa tem visto a sua carreira crescer em termos internacionais. O segredo, diz, deve-se apenas ao trabalho.
Em entrevista à RVJ - Editores fala do seu percurso e mostra-se solidário com as gentes de Oleiros, um concelho que no Verão do ano passado viu 70 por cento da sua floresta ser destruída pelas chamas. “Quando no ano passado sucedeu aquela tragédia, mostrei-me solidário e dei instruções ao meu escritório para que se houvesse alguma verba a receber, do espectáculo que foi cancelado devido aos fogos, que ela fosse devolvida”, diz.
Os seus primeiros discos atingiram vendas acima das 140 mil e 200 mil cópias vendidas. Há um segredo para esse sucesso, ou no fundo o segredo é as pessoas gostarem do seu trabalho?
O segredo é o trabalho e tentar fazer canções com as quais as pessoas se identificam. O meu trabalho é fazer canções, pois eu sou um escritor de canções. Há quem seja sapateiro, quem seja homem de amanhar a terra, ou médico, e se cada um fizer o trabalho bem feito, esse trabalho vai ser recompensado. Portanto, eu não tenho segredos, apenas trabalho muito.
Olhando ao sucesso de Silêncio e Momento, acredita que a música portuguesa está a ganhar espaço em Portugal, combatendo a tendência para uma suposta preferência geral pela música estrangeira?
Acredito que tenha havido melhorias, sobretudo nas rádios locais. Mas os movimentos que têm sido feitos de músicos que se têm imposto são importantes para que a música portuguesa ganhe espaço. Repare que não há terra em Portugal que não tenha grupos de música, desde bandas filarmónicas às bandas de garagem ou até aos grupos da «primeira divisão». A música está para Portugal como o futebol, pois toda a gente joga futebol e ouve música. Eu gostava que os portugueses acreditassem tanto na música como acreditam no futebol.
A sua carreira tem crescido em termos internacionais sobretudo em países como França, Canadá, Suiça, Brasil e Estados Unidos. Sendo essa uma tarefa difícil de atingir por músicos portugueses, como encara esse seu sucesso?
Mais uma vez com trabalho, perseverança e insistência. Há muitas coisas das quais nós temos que prescindir, pelo que temos que ter persistência e acreditarmos em nós próprios.
Participou no Quarteto de Professores do Hot-Clube de Portugal e no Quarteto de Carlos Martins. É fundador da Escola de Jazz do Porto, onde leccionou três anos e onde fundou e dirigiu a Orquestra da Escola de Jazz. Como encara a influência do jazz na sua carreira musical?
O jazz é uma escola muito difícil, é talvez a mais difícil das escolas. Logo quando conseguimos, na mais difícil das escolas, resultados bons, como foi o meu caso depois de ter estudado fora de Portugal e de ter tocado nos Estados Unidos, os outros estilos são aparentemente mais fácil. Portanto, eu comecei no jazz e na música clássica e o meu percurso passou para o
pop.
Compôs e executou a música para o filme do realizador Serge Abramovic “Amour en Latin”, do filme do Joaquim Leitão “Adão e Eva”, bem como de peças de teatro como “Possessos de Amor”, “A Teia”, “O Aniversário de Infanta”, e do vídeo “150 Anos do Bonfim”. Escreveu também a banda sonora para o filme de António e Jorge Neves, “Novo Mundo”, com o qual ganhou no Festival de Cinema de Madrid o prémio de Melhor Banda Sonora. Este tipo de trabalho é complementar do músico e cantor ou ocupa efectivamente uma parte importante do seu tempo de criação?
Neste momento eu tenho duas encomendas para dois filmes e outras duas para peças de teatro, não só em Portugal. Mas uma coisa é fazer discos e outra coisa é escrevermos para filmes, mas a minha missão é escrever canções e tento fazer com que elas sirvam o seu propósito. Se um realizador de cinema me pede uma canção para um filme, eu analiso o argumento, falo com ele, vejo qual é a função da canção no filme e tento fazer com que ela funcione.
Foi convidado a participar no filme de Manoel de Oliveira “A Carta”, ao lado de Chiara Mastroianni, onde desempenhou o principal papel masculino. Este filme foi premiado no Festival de Cannes 99 com o Grande Prémio do Júri. Agrada-lhe a carreira de actor?
Eu sou um escritor de canções, não sou actor. Mas a oportunidade de trabalhar com Manuel de Oliveira foi um momento alto na minha carreira. Era um convite irrecusável!
Voltava a aceitá-lo?
Se fosse um pedido tão louco e extravagante eu voltaria a aceitar.
Depois do cancelamento dos espectáculos em Oleiros no ano passado, prontificou-se a vir a Oleiros logo que foi convidado. Como comenta o que sucedeu com os incêndios no ano passado e as acções mais ou menos solidárias que se lhes seguiram?
Quando soube dos trágicos acontecimentos de Oleiros, de imediato dei instruções ao meu escritório para, que se houvesse alguma verba já envolvida ou tivéssemos recebido algum dinheiro como sinal, ela fosse imediatamente devolvida. Mas não era o caso, pois não havia dinheiro envolvido.
Nessa altura encarei o cancelamento de uma forma normal, mas trágico, pois o que aconteceu é que aquela região ficou devastada.
Por isso, prontifiquei-me para fazer tudo o que fosse possível para que a minha presença ou ausência não fosse colidir com os interesses de Oleiros e das suas gentes. Infelizmente é trágico aquilo que se passa no País nessa matéria.
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