Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VII    Nº78    Agosto 2004

Cultura

GENTE & LIVROS

Dan Brown

«Por um instante, ali parada na escada de incêndio, Sophie esqueceu tudo a propósito de tentar sair do Louvre.

O choque que o anagrama lhe causara só se podia equiparar à vergonha de não ter sido ela a decifrar a mensagem. A sua perícia nas técnicas da mais complexa criptoanálise impedira-a de ver um simples jogo de palavras, e no entanto sabia que devia tê-lo visto. Ao fim e ao cabo, não era uma principiante em matéria de anagramas...sobretudo em inglês.

Quando era menina, o avô usava com frequência charadas e anagramas para lhe aperfeiçoar o inglês.(...)

Recordando a sua primeira visita à Ala Denon, quando era uma criança, compreendeu que se o avô tinha um segredo para lhe contar, poucos lugares na Terra poderiam ser mais adequados como ponto de encontro do que a sala da Mona Lisa». 

In O Código da Vinci



Dan Brown

Dan Brown nasceu à 38 anos, numa pequena cidade do Exeter, New Hampshire. O pai, um professor universitário e matemático prestigiado, vencedor do prémio Presidential Award, tinha como passatempo a música sacra. Dan Brown cresceu numa casa cheia de livros de filosofia, ciência e religião na mesma rua onde John Irving viveu. Após a formação, em Amherst College and Phillips Exeter Academy, ensina inglês durante anos em Exeter até conseguir dedicar-se à escrita a tempo inteiro.

A sua primeira novela Digital Fortress é publicada em 1998 mas é com a publicação do romance O Código da Vinci que Dan Brown conhece uma súbita e inesperada notoriedade. 

No início de 2004, todos os seus livros, O Código da Vinci, Anjos e Demónios, Digital Fortress e Deception Point ocupam simultaneamente o primeiro lugar na lista dos mais vendidos do The New York Times.

O Código da Vinci, traduzido em mais de 40 línguas, já vendeu mais de 10 milhões de exemplares em todo o mundo, em Portugal vendeu 110 mil exemplares. Uma produtora de cinema norte-americana já comprou os direitos do livro e a estreia está marcada para 2005 pelas mãos do realizador Ron Howard.

Dan Brown vive actualmente em New England, nos Estados Unidos, com a mulher Blythe que é pintora e historiadora de arte e colabora com o marido na pesquisa dos seus livros. 

O Código da Vinci. Jacques Saunière, o conceituado conservador do Louvre é assassinado dentro do próprio museu. A policia inicia a investigação e as suspeitas caiem sobre Robert Langdon, um famoso simbologista de Harvard, que se encontra em Paris para uma palestra. O nome de Robert Langdon está no cenário do crime mas a neta de Saunière, a criptologista francesa Sophie Neveu não só acredita na sua inocência como o ajuda na fuga. Perseguidos pela policia francesa e também pelos assassinos de Saunière, Robert e Sophie iniciam uma vertiginosa viagem em busca do segredo que Saunière guardou com a própria vida como grão mestre do Priorado de Sião. Uma sociedade secreta onde já teriam militado nomes tão sonantes como Vitor Hugo, Isaac Newton, Botticelli, e da Vinci, o Priorado de Sião partilha com a Igreja Católica, a Opus Dei e os Templários a demanda do Graal. Mas o que é ou quem é o Graal?

Eugénia Sousa
Florinda Baptista

 

 

 

Livros

EUROPA-AMÉRICA. Sob o título de Em Busca do Tempo Perdido, Marcel Proust escreveu no inicio do século passado uma série de livros que marcariam de forma indelével a literatura europeia e que a Europa-América reedita numa tradução totalmente revista e anotada.

“Escritor da noite”, como lhe chamaram alguns, frequentador dos salões mundanos de Paris, Proust encontraria neles a inspiração necessária à criação do seu universo melancólico e sentimental. Marcel Proust terminou em 1911 Do Lado de Swann e até à sua morte em 1922 dedicou-se à obra Em Busca do Tempo Perdido. Os volumes Do Lado de Swann, À Sombra das Jovens em Flor e O Lado de Guermantes encontram-se já disponíveis ao público, devendo os restantes quatro sair ainda em 2004.

PIAGET. Humanismo, Franco-Maçonaria e Espiritualidade de Claude Saliceti. Não perdendo de vista o propósito do humanismo, ensinar cada homem a conduzir a sua vida no respeito pelo outro sempre em vista do destino comum da humanidade como esperança maior na liberdade e fraternidade universais, esta obra aborda também outras questões; a história da Maçonaria bem como o delinear da evolução da ciência, desde o século XVIII até ao presente, e fundamentalmente o papel da maçonaria nas sociedades humanas deste século. 

ASA. Regresso a Madison County de Robert James Waller. Decorreram dezasseis anos depois de Francesca Johnson e Robert Kincaid se terem conhecido, apaixonado e terem passado junto quatro dias que mudariam as suas vidas.

Com o antigo fotografo da National Geographic ficaram as recordação das viagens as fotografias e a memória da mulher que mais amou; Francesca, agora viúva, também vive da recordação dessa paixão, quando Robert decide regressar a Madison County.

É possível voltar ao lugar onde se foi feliz? Regressar a uma felicidade antiga?

GRADIVA. Assuntos de Família de Rohinton Mistry. Assuntos de Família é uma história indiana decorrida na Bombaim dos anos 90. Pela sensibilidade e a pena de Mistry passa o amor e o dever familiar, a corrupção política e pessoal a capacidade de memória para conservar a verdade e também a memória recusada.

 

 

 

BOCAS DO GALINHEIRO

Para miúdos e graúdos

O fenómeno é por demais conhecido. Uma modesta professora de inglês com uma pouco feliz passagem por Portugal, ensinou no Porto, no regresso ao seu país pôs-se à escrita e deu à estampa o mais popular aprendiz de feiticeiro da história da literatura infanto-juvenil, e também agora do cinema: Harry Potter.

A história é simples: Harry Potter é um miúdo de 11 anos, que vive com uns inenarráveis tios, Vernon e Petrunia, e um não menos indescritível primo, Dudley, que o põe a viver numa dispensa desde que os pais, um famoso mágico e uma não menos poderosa feiticeira foram mortos por Valermort, o senhor das trevas, ao qual o então bebé Potter resistiu, carregando desde essa altura uma marca na testa em forma de raio, símbolo da sua vitória sobre o mal e que o vai distinguir no mundo da magia. 

Como nisto da fantasia, o mundo é às avessas, Harry é admitido na Escola Hogwarts de Bruxaria e Feitiçaria. Para tal é levado por Hagrid, um gigante, para um mundo paralelo de magia, cuja entrada se situa num pub dos arrabaldes de Londres e vai dar direitinha à Diagon-Al, a cosmopolita rua comercial desse mundo fantástico onde comprar uma vassoura para voar ou uma varinha mágica é tão corriqueiro como no mundo dos “muggles”, ou seja os que não são mágicos, ir ao supermercado comprar batatas. Depois, bem, depois é só dirigir-se à plataforma 9 e 3/4 da estação de King’s Cross, e apanhar o Expresso de Hogwarts, claro que tanto a linha como o comboio são invisíveis para os toscos olhos dos “muggles”, que leva os estudantes à mais afamada escola de magia de que há conhecimento.

É aí que Harry Potter e os seus colegas e amigos, Hermione Granger e Ron Weasley, vão formar um inseparável trio pronto para todas as aventuras na infindável e redutora luta do bem com o mal. Obviamente que os três se completam: Hermione, filha de “muggles” é a sabichona de serviço, o que é sempre uma ajuda, tanto para Harry, que apesar de ser um eleito no mundo da feitiçaria, é um aluno mediano, destacando-se, isso sim no Quidditch, o desporto oficial de Hogwarts, jogado em vassouras voadoras, como para Ron, o amigo das grandes ocasiões, um dos muitos irmãos de uma família de feiticeiros, cujo pai é funcionário do Ministério da Magia.

Com cinco livros no activo e dois na cabeça, J. K. Rowling é actualmente dos autores que mais vende e, como isto de cifrões não fica só numa cesta, a sétima arte também quis aproveitar a onda e vá de adaptar os livros ao cinema, receita tão velha quanto o cinema ele mesmo.

Os dois primeiros, “Harry Potter e a Pedra Filosofal” e “ Harry Potter e a Câmara dos Segredos” foram realizados por Chris Columbus, realizador americano familiarizado com o cinema juvenil, e um mestre do entretenimento, basta lembrar a sua saga anterior, os dois primeiros “Sozinho em Casa” ou “Papá para Sempre” e “Nove Meses”, à partida garantia de êxito, que se pretendia à semelhança dos livros. E, a receita resultou. Seguindo o essencial do livro, juntando uma dose bem equilibrada de efeitos especiais, misturando equilibradamente os adultos, um magistral John Cleese, breve no Nick “quase decapitado”, e um possante Richard Harris como professor Dumbledore, a que se juntam Alan Rickman e Maggie Smith, com os miúdos Daniel Radcliffe, um puto tanto ou mais bafejado pela magia que o seu Harry Potter, Emma Watson como Hermione e Rupert Grint como Ron, Chris Columbus construiu um campeão de bilheteira, ombreando orgulhosamente com o livro. A dose repetiu-se no segundo filme.

“Harry Potter e o Prisioneiro de Azcaban”, o terceiro da saga tem realização de Alfonsa Quarón, um mexicano que conquistou Hollywood com “E a Tua Mãe Também” . Ao contrário do que se podia antever, não há um corte radical com os filmes anteriores, os livros continuam a ser a base do script, mas há, isso sim, uma maior profundidade no aproveitamento dos personagens, os três inseparáveis, agora na versão pré-adolescentes, continuam a ser os mesmos, pormenor que se vai manter no quarto filme já em rodagem, a que se juntam Michael Gambon no papel do professor Dumbledore, uma vez que Richard Harris morreu, Gary Oldman, como Sirius Black e numa excêntrica professora de Adivinhação, Emma Thompson, a que Cuarón adiciona uma pitada muito leve da atmosfera dos filmes de terror, o que dá o toque inovador e que claramente o separa dos filmes de Columbus. Apesar das mudanças, o êxito manteve-se. Cuáron é que disse não querer mais. O quarto filme, “Harry Potter e o Cálice de Fogo” está a ser dirigido por Mike Newell. A estreia é para 2005. Os putos estão a crescer (disso falaremos outro dia) e ainda faltam quatro filmes se todos os livros chegarem ao cinema. É obra!

 

 

 

MEDICINA DAS LETRAS

Ler e para crescer

No outro dia entrei no hipermercado com a minha filha mais nova. Rapariga decidida e despachada como é, pediu-me um livro. Escolheu-o, como já escolhe tudo o resto na vida, e eu paguei. Espanto o meu ao ver o preço. Dezoito páginas de desenho com alguma escrita e de cá 5.05 Euros. É um escândalo!

Tornei para ver outros livros de histórias, para pintar e didácticos. Sempre o mesmo preço exagerado. 

Não há quem subsidie o livro infantil? Mais preocupante ainda... corredor adiante vejo as imitações das Bárbies e outras bonecas preço mais barato. Fui então ver os carrinhos, as bolas e os bonecos e o mesmo, menos onerosos que os livros.

Não admira pois que se vendam mais bolas, mais carros, mais bonecada, assim e além de ser mais em conta, os adultos sempre podem acalentar o sonho de vir a ter um Figo ou um Michael Schumachen lá em casa.

Há pequenos grandes vícios que se adquirem na infância ou não se ouça dizer que é de pequenino que se torce o pepino. O gosto pela leitura e pelas histórias nasce e floresce podendo mais tarde vir a dar os seus frutos.

Quando os sonhos desportivos não se concretizam e o 12ª ano se aproxima, alguns pais arrependem-se de não ter passado mais tempo a ler histórias da carochinha às suas crianças.

Ler é viciante, até há quem leia dois livros ao mesmo tempo e também quem leia dois livros por dia em tempo de férias...quanta literatura para uns e quão pouca para a maioria.

Miguel Resende
Miguel Resende é médico
e assina esta coluna mensalmente

 


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