
A geração milénio
A geração milénio, também conhecida por geração digital, reúne todos os que nasceram depois de 1982, os que tiveram, ainda em jovens, acesso aos telefones celulares, aos “pagers” e aos computadores domésticos. São os que se correspondem por correio electrónico, ou por MSN, porque não conheceram o postal, nem a carta, e não fazem a mínima ideia da velocidade que à época tinha uma mensagem enviada por telegrama.
São os que preferem a Internet ao telefone, os que ocupam os tempos livres com os jogos da playstation, os que passam mais de doze horas por semana on-line e comunicam permanentemente em tempo real.
É uma geração que se sente mais liberta e desinibida nos chats, do que na sala de aula. Argumentam que aí conseguem promover mais e melhor comunicação do que no vulgar diálogo cara a cara, ou mesmo no diálogo pelo telefone. Afirmam que é aí que os mais tímidos ousam dizer o impensável, já que os chats travestem as gentes, criam outros egos e indescritíveis duplas personalidades.
O que ainda não sabem é quanto tudo isso acentua o individualismo, a quebra de solidariedade e a solidão junto dos outros, redescobrindo-se nos estudos da psico-sociologia uma nova forma de estar só, em contacto com tudo e todos.
Por tudo isto, e invariavelmente, os educadores esbarram com as perguntas: a maioria dos nossos alunos sabem lidar com a máquina. Será que a escola os prepara para saberem lidar com a informação que ela disponibiliza? As tecnologias da informação e da comunicação facilitaram o ensino. Mas será consensual afirmar que também melhoraram a aprendizagem?
É que a aprendizagem e o uso dessas tecnologias da informação e da comunicação na escola deve ser encarado, como um procedimento que visa o desempenho de mais uma competência considerada indispensável ao êxito profissional e social do aluno, e menos como um procedimento facilitador de todas as aprendizagens com todos os alunos.
Até porque os piores exemplos também estão à vista: a utilização acéfala da máquina inundou as nossas escolas de trabalhos tipo “selecciona tudo, copia e cola”. Nestes casos a produção intelectual revelou-se muito escassa. Os alunos conformam-se em descobrir páginas web que abordem um determinado tema que se lhes mandou investigar. Depois limitam-se a copiar, a editar e a imprimir os textos, sem descodificarem e problematizarem o seu conteúdo. Os professores dão aulas com dados retirados de sites que não fornecem aos alunos e, por sua vez os alunos elaboram trabalhos com dados retirados de sites que omitem aos professores. É a escola do gato e do rato.
A literatura é abundante nas referências ao facto das tecnologias da informação e da comunicação favorecerem a construção das aprendizagens pelos aprendizes, desde que se valorizem os contextos dessa aprendizagem, no entendimento de que os conteúdos só fazem sentido se explorados em contextos dinâmicos. Mas não é a isso que assistimos em inúmeras situações de sala de aula.
Talvez porque, uma vez mais e para não fugir à regra, em Portugal também nesta matéria pomos o carro à frente dos bois: antes de equiparmos os professores estamos a equipar as escolas.

João Ruivo
ruivo@rvj.pt
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