Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VI    Nº61    Março 2003

Entrevista

JÚLIO MAGALHÃES, JORNALISTA DA TVI

As televisões têm de olhar mais o Interior

É um dos principais “pivots” da informação da TVI. Em entrevista exclusiva ao «Ensino Magazine», Júlio Magalhães criticou uma boa parte dos jornalistas que se afastaram dos problemas dos cidadãos comuns e se aproximaram demasiado do Poder.

Satisfeito com a qualidade do trabalho jornalístico que as televisões portuguesas transmitem, não deixou de apontar o futuro: está nos directos e em mais investigação. 

Defensor da aposta televisiva nas regiões, deixou um recado muito directo: as estações nacionais têm de prestar mais atenção ao interior.

Que avaliação faz da qualidade da informação televisiva actual?

Está muito melhor do que há anos. Em Portugal, produz-se boa informação nas estações, ao nível do que se faz no estrangeiro, que não se tenha dúvidas disso. Os avanços têm sido notórios e muitos significativos, em particular nos últimos anos, com um grande esforço dos jornalistas. Existe uma preocupação pelos aspectos técnicos e também pelo conteúdo dos trabalhos. Penso que o surgimento de canais privados, passado o regime de monopólio, proporcionou a inversão da situação e essas melhorias. A abertura do espectro televisivo permitiu novas linguagens, formas de fazer notícias e reportagens, o que foi bastante positivo para o conjunto da sociedade portuguesa.

Foi todo o modo de fazer televisão que sofreu profundas modificações e continuará, certamente, a registar mudanças.

As televisões continuam demasiado afastadas do interior do país?

Sem dúvida. Muitas vezes, vão lá apenas quando acontecem catástrofes naturais, crimes ou incêndios. E, como, na maioria das vezes, nem sequer sabem como chegar a certas regiões, demoram imenso tempo. Por outro lado, os jornalistas estão muito habituados à proximidade dos corredores do poder e habituaram-se a obter rapidamente os dados que precisam das suas fontes privilegiadas. Realizar reportagens no interior implica um trabalho e um esforço acrescidos que não é desejável por muitos profissionais.

Lisboa é já um mercado bastante saturado. E, efectivamente, a capital só é essencial porque aí se situa a sede do Poder Político Central. A região Norte possui um “peso” económico, cultural e artístico que não pode ser negligenciado.

As televisões já deram alguns passos importantes em termos de descentralização, mas há, ainda, um longo caminho a percorrer.

O Porto até tem alguma atenção, mas as televisões têm de olhar mais para outras áreas, nomeadamente do interior como Trás-os-Montes, a Guarda ou o Alentejo.

As populações daí sentem que não se revêem nas emissões das estações nacionais, porque só muito raramente surgem nos écrans notícias já não digo da sua terra, mas da região em que se inserem. Pelo país fora, acontecem imensas iniciativas que quase ninguém conhece.

Dou-lhe um exemplo: quando participei numa palestra na Universidade da Beira Interior, organizada pelo Departamento de Ciências da Comunicação, os alunos de lá disseram-me que tinham organizado uma iniciativa, creio que uma exposição, que recebeu cerca de 100 mil visitantes, sobretudo da Espanha.

Um acontecimento desses em Lisboa ou Porto seria extremamente importante, mas como se realizou na Covilhã, pouca gente teve conhecimento.

Aliás, é sintomático que, especialmente nas áreas fronteiriças do nosso país, a Televisão Espanhola seja vista por muitos portugueses. Na minha perspectiva, as estações nacionais vão ter que apostar mais fortemente na informação regional, para se adaptarem melhor à realidade de Portugal.

Os jornalistas estão desfasados dessa realidade?

Em boa medida, sim. Antigamente, os jornalistas eram pessoas oriundas do povo, que sentiam e compreendiam os seus problemas e dificuldades. Ao se manterem numa posição intermédia em relação às elites, eram capazes de assumirem uma postura de independência e rigor no seu trabalho. Agora, tudo mudou: aproximaram-se do Poder e passaram a desligar-se do dia-a-dia do cidadão comum. Já não conseguem perceber certos aspectos da sociedade. Muitos até transformam-se em assessores de imprensa. Não critico que o façam, mas considero que é um verdadeiro escândalo o facto de, depois, voltarem ao Jornalismo. Quem opta por ser assessor deve abandonar de vez a profissão de jornalista. Infelizmente, não é nada disso o que acontece.

Os jornalistas são hoje bastante mediáticos e pretendem, com a estreita ligação ao Poder, ganhar maior visibilidade, uma vez que sabem que as notícias relacionadas com decisões políticas importantes são mais projectadas do que as de acontecimentos do interior do país. Há até preconceitos, pelo menos, nalguns profissionais, em relação a efectuar trabalhos em zonas fora das grandes cidades como se fosse menos importante, o que, obviamente, não é.

De que forma avalia a nova geração de profissionais?

Os jovens jornalistas vêm com uma maior bagagem cultural do que antigamente. A sua preparação de base é superior. É certo que lhes falta a “tarimba” ou experiência, mas com o tempo adquirem-na. As televisões estão extremamente bem servidas. Não haverá lugares para todos e poder-se-ão cometer injustiças, porque bons valores talvez não tenham oportunidades. Contudo, o mesmo sucede em todos os outros sectores.

Estou certo, no entanto, que os que se destacarem pela qualidade e rigor do seu trabalho irão singrar no meio. Com os anos, vão ganhar conhecimentos profissionais que reforçarão a sua qualidade, mas a base, em muitos jovens, existe. É com agrado que vejo muitos e com talento já a mostrarem o seu valor nas televisões. Esforçam-se muito e preocupam-se com muitos aspectos ligados ao trabalho, como o rigor e a análise correcta dos acontecimentos; é bom que assim seja.

O futuro do jornalismo televisivo passa por que apostas?

Antes de mais, pelo directo; a televisão é o directo. O público pretende, cada vez mais, assistir pela TV aos acontecimentos da actualidade no preciso momento em que os mesmos estão a decorrer e as estações têm de lhes dar isso.

Mas, é preciso também desenvolver o trabalho de grande investigação, que, na minha opinião, é a principal lacuna da informação televisiva que existe. Reconheço, no entanto, que é de difícil rentabilidade ter uma equipa que está a pesquisar durante um mês ou mais sem que apresente um trabalho imediato como é natural que suceda, mas que as televisões normalmente não estão dispostas a aceitar. Mas, se vierem a ganhar uma estrutura organizacional e de meios financeiros que o permitam, será muito desejável. Os telejornais transmitem o essencial do que sucedeu no dia. Pela sua própria natureza, não podem conter habitualmente e por sistema trabalhos de grande investigação. E é muito complicado manter um programa semanal, por exemplo, só destinado a tais trabalhos. O caminho é, no entanto, por aí...

A TVI tem sido acusada de sensacionalismo a mais...?

Admito que num ou noutro momento não estivemos bem... cometemos erros. Mas, devo salientar que as outras estações também têm “telhados de vidro” e não estão isentas de críticas.

Recordo-me que ainda quando trabalhava na RTP, passámos a ter que colocar nos alinhamentos dos telejornais mais notícias de crimes (ligados ao tal sensacionalismo), porque a SIC estava a ganhar terreno, em termos de audiências, abrindo-os sistematicamente com aqueles. Por isso, nenhuma estação se encontra isenta de erros ou de ter caído em situações com que depois condena as outras.

Por outro lado, se se assistir aos serviços informativos de canais estrangeiros, depressa se concluirá que não são menos sensacionalistas ou mais rigorosos do que os nossos.

Há é uma tendência para se olhar para eventuais aspectos menos bem conseguidos nas televisões nacionais, sem se avaliar se aquilo que se faz lá fora é melhor ou não.

Isto não significa, é claro, que nos devamos escapar a uma atitude crítica, porque a meta tem de ser sempre a de melhorar constantemente o trabalho que se produz. Mas, é necessário ter alguma ponderação, equilíbrio e sobretudo justiça nas análises que se formulam
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Jorge Azevedo

 

 

PEDRO LYNCE PROMETE SOLUCIONAR O PROBLEMA NO IPCB

Obras do Campus com luz verde

O Ministro da Ciência e do Ensino Superior, Pedro Lynce, garantiu ao presidente do Instituto Politécnico de Castelo Branco que iria dar andamento ao processo relativo à construção do campus politécnico que envolve a edificação das Escolas Superiores de Artes Aplicadas e de Saúde. “O ministro garantiu que iria despachar o processo para que ainda este ano se efectuasse o concurso público, pelo que estou a aguardar formalmente a aprovação dos projectos pelo parte do senhor ministro”, explica Valter Lemos, presidente do Politécnico.

A garantia de Pedro Lynce foi feita em Castelo Branco, no final do último mês, durante a visita de o ministro efectuou ao Politécnico de Castelo Branco. Aquele foi um dos temas que o responsável pelo ensino superior em Portugal discutiu particularmente com o presidente do IPCB. Já na discussão pública sobre o estado do ensino superior em Portugal, Pedro Lynce, voltou considerar urgente a aplicação de novos diplomas que vão alterar, significativamente a Lei de Bases do Ensino Superior. De caminho sublinhou que “é impossível pensar-se em fechar os institutos politécnicos”, mas lembrou que é necessária uma forte articulação entre as várias instituições de ensino superior. Aquele membro do Governo reforçou deste modo a ideia que já tinha lançado na entrevista exclusiva que concedera ao Ensino Magazine, na sua edição de Janeiro, onde no caso da Beira Interior exigia um entendimento entre as instituições. “Se isso não for feito e se não formos rápidos em implementar os novos diplomas, dentro de alguns anos há instituições que não vão resistir, e esses organismos certamente não serão os do Litoral”.

O ministro é da opinião que o “Estado deve ter um papel regulador, pois o sistema cresceu muito a partir da década de 90, quando o número de vagas era superior ao de candidatos. Facto que não é uma crítica, mas que serve para evitar excessos no futuro. Ou seja tem que se fazer um tempero entre a qualidade e o desenvolvimento”. Outro dos aspectos focados por Pedro Lynce diz respeito à realização de uma avaliação credível das instituições, “que circule entre as famílias e os jovens candidatos”. Aquele membro do Governo lembrou ainda a questão da formação do corpo docente que “considera fundamental, pois as infraestruturas de uma escola podem construir-se em pouco tempo e a formação dos docentes demora anos”. 

SINTONIA. Tanto Eduardo Marçal Grilo como Augusto Santos Silva, ex-ministros da Educação, mostraram-se favoráveis à existência do sistema binário do ensino superior português, que apresenta os sub-sistemas universitário e politécnico. “Não ganhamos nada se dissolvermos as diferenças entre as instituições, pelo que devemos aproveitar a revisão da Lei de Bases do Ensino Superior para acentuar a diferenciação entre os dois sub-sistemas. A nossa economia necessita de um sub-sistema politécnico, mais ligado ao mundo profissional e de investigação, que permita o desenvolvimento regional. E isto os politécnicos sabem fazer melhor que as universidades”, disse Augusto Santos Silva.

“A grande questão sensível é a transformação em universidades dos politécnicos. Esse é que é o problema. Da minha parte defendo o sistema binário”, acrescentou Eduardo Marçal Grilo, que sublinhou a importância da nova legislação apresentar “um compromisso com a simplicidade, através de Leis simples. Quando não há condições para a aplicabilidade das leis, criam-se situações instáveis, o que não interessa ao ensino superior. Por isso, vale mais dar um passo seguro que dar dois para trás”.

O debate, que durou cerca de duas horas, serviu ainda para se discutir algumas questões relacionadas com o pagamento das propinas, as notas mínimas de acesso, a questão dos graus académicos, quer de formação inicial quer da pós graduação, e, ao de leve, da revisão do ensino secundário e das suas consequências para o ensino superior
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