Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VI    Nº63    Maio 2003

Aniversário

EMPRESÁRIOS QUEREM ESCOLA-EMPRESA E...

Qualidade deve ser premiada

“A nossa pirâmide de formação está invertida. Ter 40 por cento dos alunos ao nível do saber-fazer, e 60 por cento ao no nível do saber, está errado. Devíamos ter, pelo menos, o contrário”, considera Manuel Ferreira Oliveira, o responsável da Unicer que esteve em Lisboa, o qual defendeu também que o que importa no mundo do trabalho é a qualidade e a competência e não o título.

Por isso, os seus quadros superiores têm ordenados diferenciados, e pensa que deveria ser assim com os professores. “Os salários têm de ser diferentes. Se eu desse salários iguais aos 70 directores que tenho, levava a Super Bock à falência. Importa premiar a qualidade e não remunerar em função do título académico”.

Ludgero Marques, da Associação Empresarial de Portugal, adiantou que a formação profissionalizante é urgente e necessária, pois “Portugal tem uma produtividade abaixo dos 50 por cento da média europeia”, pelo que tem muito a ganhar e evoluir. Idêntica posição assumiram José Vieira, da Movicortes (Leiria) e Carlos Melancia, com investimentos em Castelo de Vide.

Vaz Pato, presidente da Associação Nacional de Criadores de Ovinos, adiantou que a colaboração da associação com as escolas superiores agrárias de Coimbra e Viseu tem dado frutos, desde a contratação de técnicos à formação de quadros, bem como na melhoria genética e no aumento da produção de leite, que é agora de 166 litros por cabeça contra os 105 anteriores.

ESCOLAS. O presidente da Unicer, Manuel Ferreira Oliveira, gestor experiente que trabalhou cerca de 20 anos na BP, em Londres, dirigiu-se ainda aos presentes para referir que na Unicer não contam os graus académicos mas sim o desempenho e competência das pessoas, e é a partir daí que são definidos os salários.

Disse que esta mentalidade deverá ser incutida nos jovens, a fim de começar a mudar mentalidades. Entende por isso que os jovens formados devem trabalhar um ou dois anos numa empresa com a dimensão necessária, podendo aí aperceber-se de como funciona o mundo empresarial. No final desse período estarão bem mais adaptados e poderão ser alavancas fundamentais para empresas de menor dimensão ou até para a criação de empresas próprias.

Uma ideia que Valter Lemos aceita a proposta, embora afirme que não serão os politécnicos a poderem implementá-la. “O que acontece hoje é que as formações, por muito práticas que sejam, dão capacidades básicas, mas não treinam as pessoas para tudo o que há a fazer no trabalho. Assim, as grandes empresas têm a obrigação de colaborarem na fileira da formação, absorvendo os recém licenciados, através de acordos, permitindo dar uma formação em serviço, de forma a que façam a chamada indução. A partir daí estarão em condições de serem quadros mais evoluídos”.

A bola está agora do lado das empresas, sendo certo que muitos dos cursos politécnicos já incluem estágios, alguns em pequenas empresas. “Os acordos que temos com empresas é para isso. Muitas vezes não se consegue é um período tão longo como seria desejável”.

 

 

 

A ANÁLISE DO DISCURSO DE JORGE SAMPAIO

A palavra dos presidentes

Valter Lemos
(IP Castelo Branco)

Um discurso realista

O presidente do Politécnico de Castelo Branco, Valter Lemos, comentou também a intervenção do Presidente da República, Jorge Sampaio, a qual considerou fundamental para explicar o contributo do Ensino Politécnico no desenvolvimento do País ao longo dos últimos anos, sobretudo ao nível da democratização do Superior e criação de um ensino mais vocacional e profissionalizante, mas também no seu contributo para o desenvolvimento das regiões. Levantou depois algumas questões específicas.

“A primeira questão é que não há licenciados a mais, mas sim emprego a menos. Assim, o País não pode desperdiçar os licenciados que tem, nem criar a ideia que a qualificação das pessoas é indesejável. Ficou claro que, na opinião do senhor presidente, a qualificação das pessoas é desejável e há momentos históricos em que o desenvolvimento dos sistemas educativo e económico se fazem de comum acordo”.

A verdade é que esse acordo será agora mais necessário do que nunca, dada a situação do País, pelo que será necessário desenvolver e não “«desinstalar» a capacidade de formação ou a capacidade científica e tecnológica associada ao Superior”. É que, como disse Sampaio, “o futuro do País joga-se fundamentalmente ao nível da sua capacidade de recursos humanos e ao nível da capacidade de inovação”.

Já em relação à diminuição do número de vagas, “o presidente veio dizer para não subsistir uma visão de curto prazo, pois, em educação, as visões têm de ser a médio e longo prazo”. Será nessa lógica que acabou por afirmar que “os politécnicos são a única parte do sistema tecnológico e científico nacional a que muitas regiões do País têm acesso”, pelo que este sub-sistema “não pode ser encarado como um peso para o país, mas como uma enorme potencialidade”.

 

José Luis Ramalho
(IP Beja)

Mestrados vêm aí

O presidente do Politécnico de Beja, José Luis Ramalho, ficou agradado com o discurso do Presidente da República, sobretudo no que diz respeito à defesa e manutenção das estruturas de ensino superior. “Espero que nunca tenha de se chegar à situação de ter de encerrar instituições, tal como referiu”.

Já no geral considera que o discurso, “sem trazer muito de novo, reconhece o papel do ensino politécnico no desenvolvimento do país e principalmente no Interior”. Considera interessante esse reconhecimento, ainda mais num momento em que se assiste à “diminuição do número de alunos, falta de racionalização da oferta formativa, o que pode colocar em causa algumas instituições”.

Já em termos de futuro e dos cinco desafios deixados por Sampaio a dirigentes de instituições, autarcas e empresários, Ramalho considera que “os politécnicos têm uma articulação cada vez maior com as autarquias e empresas. Apesar dos politécnicos serem instituições jovens, muito se tem feito e mais se fará em matéria de cooperação com autarquias e empresas, bem como entre instituições de Ensino Superior”.

Além de racionalizar a oferta, a lógica passa agora por cooperar e ganhar novos públicos, nomeadamente através da “requalificação de licenciados, formação ao longo da vida, acreditação de experiências e conhecimentos não formais”.

Já em matéria de cursos de mestrado e doutoramento, há duas situações. “De certo modo está assente que poderemos leccionar cursos de mestrado. Nos doutoramentos persiste a teimosia de ser um grau a atribuir só pelas universidades. Mas aqui concordo com o sr. Presidente, quando diz que temos de esquecer os nomes, ter em conta as competências das instituições e formar as pessoas”.

 

Jorge Mendes
(IP Guarda)

Cooperação já existe

“Gostei muito do discurso do senhor Presidente da República e do presidente do CCISP, dado que deram ênfase a duas questões fundamentais. Jorge Sampaio lembrou que hoje se fala em desinvestir no politécnico, mas a hora será de continuar a investir, enquanto o professor Luis Soares destacou o trabalho dos politécnicos ao longo dos últimos 20 anos”.

As palavras são do presidente do Politécnico da Guarda, Jorge Mendes, para quem a presença de Sampaio e o discurso que fez “são determinantes para o Ensino Superior Politécnico”. Por isso, aceita os desafios deixados, designadamente o da cooperação entre instituições, a fim de racionalizar a oferta.

A cooperação, diz, tem de acontecer entre instituições que se encontram numa certa área geográfica e ainda com empresas e autarquias pois “é deste diálogo que podem surgir as ideias para o médio prazo”. A nível local adianta que “entre o Politécnico da Guarda e o de Castelo Branco tem existido essa articulação. Dialogamos várias vezes sobre ofertas de formação, para que não cometam erros do passado”.

Jorge Mendes garante que os dois politécnicos “não estão a propor áreas de formação idênticas”. Já com a Universidade da Beira Interior, “tem sido mais difícil porque a UBI teve, pelo menos em tempos, uma estratégia de quase tentativa de absorção de áreas científicas dos dois politécnicos. Por isso tem sido mais difícil o diálogo”.
De qualquer modo, adianta que os politécnicos da Guarda e de Castelo Branco “estão disponíveis para dialogar com o senhor reitor nesta matéria”, pois, Pedro Lynce “já chamou a atenção para o acordo relativamente a alguns cursos e estamos a aguardar pela segunda ronda de negociações”. Disponível está também o Politécnico da Guarda para aprofundar relações com a Câmara e com empresas, “a qual cresceu muito nos últimos três anos”.

 

 

Nuno Oliveira
(IP Portalegre)

A confirmação da realidade

Para Nuno Oliveira, presidente do Politécnico de Portalegre, o discurso do Presidente da República confirma o que os politécnicos têm reclamado, como é o caso da continuidade do investimento e “do respeito pela defesa das assimetrias, dando atenção especial às instituições do Interior do País, as que estão mais desfavorecidas”.

Aquele responsável recorda que Sampaio se questionou publicamente: “O que seria dessas regiões do Interior, se não estivessem lá localizados os institutos politécnicos”, algo que considera “bastante elucidativo em relação à posição do senhor Presidente da República relativamente ao Ensino Superior Politécnico”.

Em matéria de articulação, Nuno Oliveira considera que “pode ser sempre favorecida”, mas vai lembrando que o nível já é bom. Ainda em recente visita de Sampaio a Portalegre, foi apresentado o Projecto Portalegre Distrito Digital, “no qual o Politécnico está lado a lado com as associações de municípios e com os presidentes das câmaras do Distrito”.

E se a ligação com as autarquias é boa, com as empresas (que não abundam no Distrito), está em bom nível. Para o debate em Lisboa, o presidente do Politécnico convidou Rui Nabeiro, o qual não pode estar presente por compromissos judiciais da Delta Cafés em Madrid. Convidou por isso Carlos Melancia, com investimentos em Castelo de Vide, “o qual aceitou de imediato, o que mostra o relacionamento que a instituição tem com as empresas”.

Nuno Oliveira lembra ainda as palavras de Jorge Sampaio, quando refere que “o futuro de Portugal se joga no sector educativo”, pelo que o País ganha “com a relação entre Ensino Superior, empresas e autarquias”, podendo assim caminhar para a tão desejada meta de aumentar a produtividade.

 

 

João Pedro de Barros
(IP Viseu)

Não ao desinvestimento

“A intervenção do senhor presidente da República foi muito serena, objectiva e de esperança relativamente à acção dos institutos politécnicos no que concerne à criação de cultura e de capacidade científica em regiões do País, nas quais, até há bem pouco tempo, existia praticamente um deserto em termos culturais. Por isso, não aceito nem acredito no desinvestimento nesta área”.

É desta forma que o presidente do Instituto Politécnico de Viseu, João Pedro de Barros, encara a posição de Jorge Sampaio, adiantando que o discurso valorizou claramente o Interior. “Mostrou estar dentro dos assuntos e que espero uma força muito grande do Ensino Politécnico, o qual deve ter condições para desenvolver o País e nomeadamente o Interior”.

Embora Sampaio não tenha avançado o nome de instituições específicas, Barros acredita que “politécnicos como o de Viseu, Castelo Branco, Guarda e Portalegre estiveram perfeitamente subjacentes nas palavras proferidas”. No caso concreto de Viseu adianta que o contributo para o desenvolvimento é bom mas pode ser incrementado, com uma melhor relação com autarquias e empresas.

“Essa relação é perfeita. No Instituto funciona a Associação para o Desenvolvimento e Investigação, a qual é de direito privado, mas tem um papel importante na ligação ao sector empresarial público e privado. Este trabalho já tem anos, mas será aprofundado, melhorando o funcionamento da Associação, tornando-a mais agilizada, para responder a todos os desafios”.

 


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