Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VI    Nº64    Junho 2003

Cultura

GENTE & LIVROS

Michael Cunningham

«Sim, pensa Clarissa, já é tempo de o dia acabar. Damos festas, abandonamos as nossas famílias para vivermos sós no Canadá, batalhamos para escrever livros que não mudam o mundo apesar das nossas dádivas e dos nossos imensos esforços, das nossas absurdas esperanças. Vivemos as nossas vidas, fazemos seja o que for que fazemos e depois dormimos: é tão simples tão normal como isso. Alguns atiram-se de janelas, ou afogam-se, ou tomam comprimidos; um número maior morre por acidente, e a maioria, a imensa maioria é lentamente devorada por alguma doença ou, com muita sorte pelo próprio tempo. Há apenas uma consolação: uma hora aqui ou ali em que as nossas vidas parecem, contra todas as probabilidades e expectativas, abrir-se de repente e dar-nos tudo quanto jamais imaginámos, embora todos, excepto as crianças (e talvez até elas), saibamos que a estas horas se seguirão inevitavelmente outras, muito mais negras e mais difíceis. Mesmo assim, adoramos a cidade, a manhã, mesmo assim desejamos, acima de tudo, mais.

Só Deus sabe porque amamos tanto isso».

In As Horas

 

Michael Cunningham é um dos mais promissores escritores americanos da actualidade, com o seu último romance, As Horas, vence em 1999 os principais prémios literários do seu país: o Pulitzer Prize e o PEN/Faulkner Award.

Cunningham nasceu em Cincinnati, Ohio em 1952 e cresceu na Califórnia, Europa e Los Angeles. Enquanto estudava na Universidade de Stanford pensava em ser pintor mas licencia-se em Literatura Inglesa e mais tarde faz o doutoramento na Universidade de Iowa.

O escritor confessa-se fascinado pela obra de Virginia Woolf e o seu romance As Horas é disso testemunha e homenagem. O primeiro contacto com a obra da escritora inglesa acontece quando era ainda adolescente, e tenta impressionar uma colega de escola que lhe fala dela. Michael Cunningham vai à biblioteca da escola e lê o Mrs Dalloway.

Apaixonado pela música atravessa a juventude e o Oeste americano a trabalhar em bares e a ensaiar os “primeiros acordes” na escrita. Instala-se em Nova Iorque, emprega-se como secretário da Carnegie Corp.e nesse mesmo ano, publica o seu primeiro romance, Estados Dourados (1984), cumprindo assim uma meta auto-imposta de publicar um livro antes dos 30 anos. Em paralelo escreve artigos e contos nas revistas The New Yorker, The Atlantic Monthly, Redbook, Esquire, The Paris Review Metropolitan Home e Vogue.

Em 1988 sai no The New Yorker o seu conto White Angel que um ano depois ganha o prémio Best American Short Stories.

Com a publicação do segundo romance Uma Casa no Fim do Mundo (1990), - uma história de amizade entre uma mulher e dois homens - Michael Cunningham entrega-se inteiramente à escrita. Cinco anos depois Sangue do meu Sangue - crónica de três gerações de uma família greco-americana - ganha o Whiting Writer‘s Award. As “novas famílias do século XX”, as famílias homossexuais, são um tema constante na obra de Cunningham.

Actualmente o escritor vive em Nova Iorque com o companheiro Ken Corbett e viu este ano As Horas adaptado ao cinema pelo realizador britânico Stephen Daldry.

Sobre As Horas disse o escritor: «Toda a gente neste livro está a tentar criar algo impossível, maior do que eles próprios».

As Horas. Qual a ligação entre a vida de três mulheres em lugar e tempo distantes num dia do mês de Junho? No início do século XX, em Richmond, Virginia Wolf escreve o livro Mrs Dalloway e debate-se com as primeiras manifestações da sua doença mental. No final do século XX, em Nova Iorque, Clarissa Vaughan uma bem sucedida editora lésbica prepara uma festa de homenagem para um amigo que venceu um prémio literário. Richard, o poeta doente de SIDA que há muitos anos atrás, a apelidou carinhosamente de Mrs Dalloway. Em Los Angeles no ano de 1949, Laura Brown, dona de casa, mãe de um filho e grávida de outro, prepara a festa de aniversário do marido. Enquanto decorre o dia, vai-se refugiando na leitura do Mrs Dalloway, para escapar a uma família que ela já não quer.

Eugénia Sousa
Florinda Baptista

 

 

 

Novidades

EUROPA-AMÉRICA. God Bless America é o último conto de Urbano Tavares Rodrigues e fotografia de Rui Ochôa. Em Bagdade um grupo de amigos ama, trabalha, sofre debaixo de fogo norte-americano. Sílvio, o actor desempregado e escudo humano português; a namorada Amina, a bonita jornalista argelina de aparência frágil; José Afrânio que nada percebe de política e economia mas conhece tudo sobre amizade e Gianmaria o homem que declama poesia para o mundo porque a poesia também é vida. 

 

ASA. Felicidade de Will Ferguson. Edwin de Valu é um americano, neurótico e desinteressante funcionário da editora Panderic Press. Tupak Soiree é o misterioso escritor de um calhamaço de auto-ajuda O que Aprendi na Montanha . Quando o manual é proposto para publicação, Edwin de Valu destina-o à categoria CL – Caixote de Lixo. Mas este é o único manual do género que funciona e o seu poder vai mudar o mundo. Felicidade é uma sátira extremamente divertida. Enquanto ninguém faz o filme, o melhor remédio é ler o livro.

 


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