Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VI    Nº65    Julho 2003

Opinião

CRÓNICA

EDP

De certa forma, o meu amigo Necas tinha da EDP - Electricidade de Portugal uma imagem mítica do tempo em que o respectivo logotipo se assemelhava a uma janela (a janela de um lar), de cujas vidraças sobressaiam as iniciais H E A A.

Embora não o soubesse explicar, o “boneco” tinha qualquer coisa de português e respeitoso. Nesse tempo não era uma cegonha qualquer que punha em causa tão doméstica instituição. A verdade é que então havia outros pássaros, de maior envergadura e de voos mais rasteiros.

Porém, esta ladainha não significa que o bom do Necas se considere um saudosista empedernido e muito menos que o tema de hoje seja a nostalgia de águas passadas.

Afinal, a relação que o meu amigo tem com a EDP é igual à de milhões de concidadãos e resume-se àquela inexorável factura mensal, que até hoje tem pago a tempo e horas. Só por isso deveriam tê-lo em boa conta. Julgava ele.

Há dias, depois de vários cortes na corrente eléctrica, lá se lhe foi o aparelho de televisão. Por isso surgiu-lhe a peregrina ideia de reatar aquela relação antiga e platónica:

Eis a minha oportunidade - pensou.

Escreveu uma carta amável relatando os factos a quem de direito da empresa, solicitando ressarcimento dos prejuízos contra factura, sobre cuja responsabilidade, não tinha quaisquer dúvidas, cabia inteiramente à EDP.

Pouco tempo depois foi correspondido. Uma carta no mesmo tom, dava-lhe conta de que era comum o sentimento de perda avisando no entanto que iriam proceder à respectiva averiguação, prometendo uma resposta definitiva para breve.

Passado um mês obteve a resposta: que era verdade, sim senhor, houve cortes de fornecimento de energia eléctrica nesse dia e a essa hora susceptíveis de produzir os constrangimentos em epígrafe, mas não faziam tenções de pagar fosse o que fosse. Motivo: o Necas foi o único consumidor a apresentar queixa.

Qual curto-circuito, deixou momentaneamente de pensar coisa com coisa, ao mesmo tempo que lhe desfilavam no cérebro pequenos resumos de anedotas antigas, anões virtuais rindo a bandeiras despregadas, cegonhas brancas com aspecto delinquente e até um papagaio, certamente ali posto por engano.

O atendimento personalizado e a optimização dos serviços com vista à satisfação do cliente são tretas, - diz agora o meu amigo, ainda atordoado - conceitos que fica bem importar quando as empresas atingem grandes dimensões e/ou de monopólio. No fundo, visam apenas os resultados. E (ra) D (e) P (rever).

Da sua pueril ideia, hoje em dia não resta mais que uma imagem disforme sem saber definir de que animal.

João de Sousa Teixeira

 


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