Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VI    Nº59    Janeiro 2003

Universidade

UNIVERSIDADE DE ÉVORA

As alcunhas dos alentejanos

O “Chico Operário” e o “Braço de Trabalho” passam os dias na taberna do “Bom Ladrão”. Frases do género deixam baralhado o ouvinte comum, mas são frequentes no Alentejo, onde 80 por cento da população tem alcunha.

Quem conhecesse as três pessoas referidas ficaria de imediato a saber que dois preguiçosos são frequentadores assíduos do estabelecimento cujo proprietário tem a fama de errar nas contas a seu favor.

Os exemplos citados integram as 35 mil alcunhas que o antropólogo Francisco Martins Ramos, reuniu num livro que foi apresentado em Serpa e em Lisboa, no Instituto Camões, uma das entidades patrocinadoras da obra, a par da Delegação Regional da Cultura do Alentejo e da Associação de Defesa dos Interesses de Monsaraz.

O “Tratado das Alcunhas Alentejanas”, das Edições Colibri, tem 600 páginas e ocupou o investigador, professor catedrático na Universidade de Évora, durante seis anos, num trabalho que contou ainda com a colaboração de outro docente daquele estabelecimento, o sociólogo Carlos Alberto da Silva.

O “Adeus que te Foste” e o “Rico Depois das Cinco” foram outros nomes falsos reunidos pela meia centena de colaboradores do trabalho e foram colocados a um rapaz cuja namorada o trocou por outro e a um trabalhador rural que trocava de roupa ao final do dia e passava a exibir um ar de ostentação.

Têm ainda em comum o facto de pertencerem ao grupo das alcunhas comportamentais - o maior de todos - que criticam atitudes e modos de estar, excêntricos ou mesmo normais, e englobam, segundo os cálculos de Francisco Ramos, à volta de 32 por cento dos falsos nomes alentejanos.

Em muitos casos estão carregadas de uma grande dose de ironia, como sucedeu com quem começou a chamar “Sabonete” a um homem habitualmente mal cheiroso ou “Espertinho” a um indivíduo considerado idiota.

O segundo maior grupo - à volta de 15 por cento - é o das alcunhas físicas, que sancionam características fisionómicas. É o caso do “Badalo” (homem com pénis grande), “Careca”, “Coxo”, “Bate Estradas” (atribuída a homem com pés grandes), “Apaga Velas” (indivíduo muito alto, característica comum às pessoas que apagavam as candeias de iluminação pública antes de existir electricidade) ou “Retrato de Meio Corpo” (homem de baixa estatura).

Seguem-se as geográficas (cerca de dez por cento), que estão associadas à origem dos alcunhados: “Galego” é um homem oriundo do Centro/Norte do País, “Brasileiro” um ex-emigrante, “Baleizoeiro”, “Barranquenho”, “Beirão”, entre outros exemplos.

Com base na recolha, feita em 37 dos 47 concelhos do Alentejo, conclui-se que a esmagadora dos alcunhados são homens (88,8 por cento), facto que Francisco Ramos explica por no Alentejo o “meio de sociabilidade ser mais masculino do que feminino”.

Numa realidade cultural onde a ruralidade ainda predomina, mesmo nos maiores centros urbanos, “o lugar da mulher é em casa”, pelo que quem mais se relaciona e mais se expõe socialmente são os homens, facilitando o baptismo com a alcunha.
Mas além da forte componente crítica que está por trás do recurso à alcunha para designar alguém, outro grande atributo dos falsos nomes é a “identificação rápida e eficaz” das pessoas, sustenta o antropólogo.

Numa região onde os nomes próprios coincidem muitas vezes e mesmo os apelidos de família são frequentemente iguais, a alcunha surge como uma forma de identificar rapidamente um indivíduo, com a mais valia de quase sempre o nome falso avançar uma característica marcante do nomeado.

Se alguém diz “o Manuel Pereira vai fazer uma casa nova”, é frequente em qualquer terra alentejana ouvir-se logo a pergunta “qual Pereira”, seguindo-se o processo de identificação através da alcunha:”O Pereira, o “Vento Suão”, ou “O Pereira, o filho da Chibinha sem Mãe”.

Outra das conclusões do estudo é que pouco mais de um terço (35,9 por cento) das alcunhas são aceites pelos nomeados, o que significa que são utilizadas principalmente nas costas dos visados.

Será fácil entender que a mulher conhecida por “Bicicleta” pelo facto de ter muita “pedalada” e manter relações com muitos homens não aceita a alcunha, ao contrário do que sucede, de uma forma geral, com os falsos nomes profissionais: “Abegão” (construtor de carroças), “Sapateiro”, entre outras.

Mas dentro do próprio processo de criação das alcunhas resultam muitas vezes designações bem curiosas e imaginativas. O homem que andava sempre a atribuir a razões divinas o facto de não ter alcunha passou a ser o “Graças a Deus”, enquanto o “Mestre Levezinho” passou a ser o indivíduo que confessava frequentemente o receio de vir a ser conhecido por um nome “pesado”.

E como “quem com ferros mata, com ferros morre”, o promotor de muitas dezenas de alcunhas numa vila da Margem Esquerda do rio Guadiana é hoje publicamente conhecido como o “Registo Civil”.

AMN Lusa

 

 

 

TOMADA DE POSSE NA COVILHÃ

Novos órgãos sociais

Os elementos constituintes da Assembleia da Universidade, do Senado e dos Conselhos Directivos das Unidades Científico-Pedagógicas tomaram posse a 8 de Janeiro num mandato de importância acrescida, uma vez que a eleição para o cargo de reitor decorre no final deste ano. A cerimónia pôs fim ao longo processo eleitoral para os Órgãos Sociais da UBI que teve início em Novembro de 2002.

A Assembleia da Universidade é composta por 139 pessoas, entre docentes, funcionários e alunos, e assume-se como o órgão mais importante da instituição. Compete-lhe eleger ou destituir o reitor e aprovar os estatutos. Uma importância acrescida neste mandato derivado às eleições para o reitor que vão ter lugar já no final do ano. O Senado, onde se aprovam as linhas gerais de orientação da UBI é composto por 62 membros. Aos Conselhos Directivos das Unidades Científico-Pedagógicas compete zelar pelo bom funcionamento das respectivas Unidades ou Faculdades. Todos os elementos têm mandato de dois anos.

Santos Silva, reitor da UBI, assegura que os objectivos dos novos órgãos da universidade são os mesmos. “O mais importante para a UBI é a sua afirmação pela qualidade e pela diferença”, refere acrescentando que “o empenho de todos para melhorar a instituição é fundamental”.

Questionado sobre uma possível recandidatura ao cargo de reitor, por mais quatro anos, Santos Silva afirma que ainda é cedo para falar sobre o assunto. “Há iniciativas que gostaria de terminar, mas há pessoas capazes de o fazer até melhor que eu”, salienta. O reitor lembra que existem projectos complexos que vão necessitar de uma atenção redobrada nos próximos anos e um conhecimento profundo dos mesmos para que se possam levar a bom termo.

Catarina Rodrigues

 

 

 

PÓLO ERNESTO CRUZ

Snack duplica

O snack do pólo das Ciências Sociais e Humanas, no edifício da antiga fábrica do Ernesto Cruz está em obras e vai ser aumentado para o dobro. O reitor Santos Silva afirma que esta “não é a situação ideal” e salienta que não vai abdicar da construção da nova unidade alimentar. O refeitório passará a ter dois balcões e 164 lugares sentados. Juntamente com o bar que também pode ser utilizado passarão a existir cerca de 200 lugares. No próximo mês de Março as obras estarão concluídas com receitas próprias da universidade e dos serviços de acção social.

A construção de uma nova cantina no Pólo IV já foi reivindicada várias vezes pelos alunos. A Universidade adquiriu um edifício anexo com receitas próprias da instituição tal como aconteceu com o projecto já realizado para o efeito. O objectivo é albergar nesse espaço a Faculdade de Artes e Letras e a nova cantina. Segundo explica o reitor “a instituição não tem disponibilidade de verbas para avançar com a recuperação do edifício, dado tratar-se de um investimento significativo”.

O Governo tinha dado indicação de financiamento em 2002, mas tal não aconteceu. No Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central (PIDDAC) 2003 também não está contemplada nenhuma verba que permita avançar com a nova unidade alimentar. No plano para este ano apenas estão inscritos a Faculdade de Ciências da Saúde e o Complexo Pedagógico de Ciências do Desporto. “Temos que ser realistas”, frisa Santos Silva. “Mesmo que tenhamos orçamento em 2004, a obra nunca estará pronta antes de 2005/2006”, explica.

 


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