MOUTINHO DA SILVA,
SINDICATO DE PROFESSORES
Ensino Superior
afasta-se da Europa

A aplicação de cortes orçamentais no Ensino Superior levará o sector a afastar-se em relação aos padrões médios da Europa comunitária.
O aviso é de Moutinho da Silva, presidente do Sindicato dos Professores daquele nível educativo, para quem são sobretudo as escolas do interior que vão sofrer. É que eventuais reduções de investimentos nos politécnicos poderão comprometer o alcance da sua actuação enquanto motores de desenvolvimento dessas regiões, alerta aquele responsável, em entrevista exclusiva ao «Ensino Magazine».
Segundo afirma, os docentes estão desmotivados e a massificação do ensino teve efeitos «terríveis».
As preocupações com possíveis cortes orçamentais no Superior encontram-se na ordem do dia. Moutinho da Silva avisa que tais restrições afectarão sobretudo os estabelecimentos do interior do país, nomeadamente os politécnicos, responsáveis «pelo desenvolvimento das respectivas regiões em que se inserem, como são os casos da Guarda, Castelo Branco e Beja, já para não falar do caso da Universidade da Beira Interior, na Covilhã».
Em causa está «o desenvolvimento do país e a própria possibilidade de equilibrar a faixa interior de Portugal com a do litoral», alerta o presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Superior.
Depois de uma aproximação à média dos países europeus, o Ensino Superior português está novamente em rota de afastamento, defende Moutinho da Silva.
Aquele responsável salienta a «sobrecarga» lectiva a que os docentes estão sujeitos, uma situação agravada pelo facto de que «há muitos professores trabalharem anos a fio sem possuirem um vínculo à respectiva escola». Alho que «é legal» na Administração Pública, já que a Lei o prevê, mas «é inconstitucional», avisa Moutinho da Silva.
Explica que «há docentes a serem dispensados porque o Estado deveria rever os quadros de pessoal, de dois em dois anos mas não o faz». As perspectivas de progressão na carreira são também muito ténues e contribuem para aumentar a desmotivação na classe, segundo o dirigente sindical. «Os lugares de carreira encontram-se ocupados», pelo que está criada uma situação «altamente injusta e que não dignifica este nível de ensino», realça Moutinho da Silva.
Na sua perspectiva, «a falta de vagas nos quadros não incentiva nada a melhoria da qualidade do ensino e a vontade dos professores investirem fortemente na formação, reforçando-a e elevando-a».
Por outro lado, «a progressão na carreira não deve depender da quantidade de docentes colocados em determinadas categorias profissionais, mas antes da qualidade do trabalho realizado», propõe.
«Em estabelecimentos estatais, de acordo com o sistema criado, é praticamente o mesmo o docente esforçar-se intensamente ou nem por isso; as consequências são idênticas», observa o dirigente sindical.
Sem rodeios, Moutinho da Silva critica o Estado por estar a realizar uma «gestão danosa» ao excluir dos estabelecimentos do Superior docentes em que «efectuou um forte investimento, que deram muito tempo das suas vidas às universidades e politécnicos e que, sendo bastante válidos, não são aproveitados».
O presidente do Sindicato vai mais longe e diz mesmo que Portugal «não se pode dar ao luxo de desperdiçar uma massa crítica como esta, altamente qualificada».
Em relação à actividade de investigação, a situação também não é famosa, já que «os professores têm de despender demasiado tempo a preparar e dar aulas e ficam com muito pouca disponibilidade para se dedicarem à pesquisa». Sem esta «a qualidade do ensino ministrado decai, uma vez que se coloca em causa a inovação e actualização mais recente dos conhecimentos», reconhece Moutinho da Silva, que alerta, assim, para a responsabilidade do Estado naquilo que se passa.
A consequência, a prazo, é que «o desenvolvimento do país é comprometido», sublinha aquele responsável.
Sobre o eventual encerramento de estabelecimentos de Ensino Superior, o presidente do sindicato preconiza que «nenhum deve ser extinto».
No que se refere aos cursos (alguns deles apontados como excedentários face às necessidades do mercado de trabalho), Moutinho da Silva defende que «podem existir diversos em que não se verifica, actualmente, uma aplicabilidade imediata mas que se podem revelar fundamentais no futuro». Para além disso, se os cursos em causa terminarem, mesmo que temporariamente, «o vácuo deixado na formação será bastante pernicioso, comprometendo-se a indispensável actualização dos conhecimentos científicos». Em causa fica também a formação de professores nessa área. «foi o que sucedeu na Holanda, onde, subitamente, depois de um vácuo em determinadas formações, foi preciso formar docentes à pressa e sem o tempo de maturação suficiente». Um exemplo com o qual Portugal tem a aprender para não repetir o mesmo erro, avisa o dirigente sindical.
Moutinho da Silva dá um exemplo concreto do prejuízo de acabar com um curso como História de Arte «por vezes, considerado como sem saídas no mercado de trabalho e em que o Estado investe formando alunos». «Se essa área do saber estiver fora do Superior e, de repente, houver um forte incêndio que destrua uma zona histórica e edifícios importantes, do ponto de vista monumental, vai ser urgente encontrar especialistas em História de Arte que poderão faltar, nessa eventualidade», esclarece.
Para enfrentar o problema da discrepância entre certas áreas formativas dos politécnicos e universidades e o mercado de trabalho, o presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Superior propõe «o alargamento das valências de tais cursos que têm uma banda demasiado estreita».
Moutinho da Silva salienta que o encerramento de muitos cursos «não terá vantagens significativas em termos de custos para o Estado, uma vez que compartilham de um tronco comum com outros cursos e apenas algumas cadeiras são lhe específicas». «As poupanças que poderão ocorrer são ridículas», observa.
Por outro lado, responsabiliza o Estado por ser «incapaz de elaborar a radiografia das necessidades do país em termos de tipos de formação». Segundo Moutinho da Silva, nem sequer estão inventariadas as actuais que se fazem sentir hoje e muito menos as que se prevêem para o futuro.
A isto acresce o problema do Estado «ter que desempenhar o seu papel regulador do sector do Ensino Superior, em simultâneo com o de fornecedor de formações».
Moutinho da Silva critica, ainda, governos anteriores por terem apostado na massificação «desregrada» do Ensino Superior, a qual conduziu a «resultados terríveis, como agora se começa a perceber».
Numa breve avaliação da política do Executivo actual no sector, aquele responsável afirma que «é dominada, ao que tudo indica, por preocupações economicistas». Inclusivamente, afirma, a nova Lei da Qualidade do Ensino Superior «mantém preocupações de gestão financeira». E «não era por aí que se deveria começar», refere.
Moutinho da Silva conclui que «o nosso país tem de olhar para o Ensino Superior como um instrumento para o seu progresso indutor do desenvolvimento de múltiplos factores, qualificando a futura mão-de-obra portuguesa e elevando a formação essencial numa óptica de crescente competitividade entre Estados».

Jorge Azevedo
CÂMARA DA COVILHÃ DÁ
PRÉMIOS
Engenho vale euros
O jornalismo será uma das áreas distinguidas pela Câmara da Covilhã com um prémio municipal, ao abrigo de uma medida aprovada, por unanimidade, na reunião do executivo de 17 de Janeiro, medida essa que abrange também a investigação e a escultura.
Todos os trabalhos apresentados devem relacionar-se com o concelho da Covilhã e, segundo Carlos Pinto, podem candidatar-se ao prémio de jornalismo todos os autores de trabalhos publicados, desde notícias, reportagens, crónicas até artigos de opinião. “Este prémio pretende distinguir aqueles que tratam temas relacionados com o concelho e com as suas gentes, de uma forma aprofundada e com rigor”, explica o presidente da autarquia.
O melhor trabalho de investigação apresentado em instituições ou empresas do concelho também será reconhecido. “Produzir bens e serviços com criatividade e com o contributo dos investigadores é cada vez mais importante”, frisa o edil. A atribuição dos prémios, no valor de cinco mil euros será feita no dia 20 de Outubro de cada ano, data em que se assinala a elevação da Covilhã a cidade. As candidaturas podem ser apresentadas a partir do próximo mês de Junho.
A Câmara Municipal pretende ainda beneficiar a sede do concelho e as freguesias com elementos escultóricos. O presidente da edilidade afirma que o prémio a atribuir nesta área deve considerar-se “um incentivo aos artistas da região e ao trabalho por eles realizado”.
Miguel Nascimento, vereador da oposição na autarquia covilhanense, votou a proposta favoravelmente e refere que “é sempre importante estimular a escrita, a investigação e a criação artística. Mas, o socialista alerta para a necessidade de definir o júri, o regulamento e os moldes do
concurso.

Catarina Rodrigues
OPINIÃO
O estudo das imagens
O século XX trouxe-nos o cinema e a televisão e desde então o nosso mundo visual passou a ser outro. Antes eram apenas as palavras que nos traziam as notícias do mundo distante, no espaço e no tempo. Agora temos as imagens do passado, das guerras, dos discursos dos políticos, dos acontecimentos que marcaram a história, e as imagens que nos chegam de longe, de terras e povos distantes, e até imagens do planeta Terra visto da Lua.
Para lá das imagens directas das coisas, acessíveis pela visão, tal como os homens sempre tiveram ao longo dos milénios da sua história, temos agora - e essa é a diferença - as imagens fabricadas, guardadas, mediadas, transmitidas, contadas. A possibilidade e a facilidade que a técnica nos deu de manusear as imagens, de trabalhar com elas, alterou radicalmente a maneira como tomamos conhecimento do que se passa no mundo, do modo como contamos histórias, da forma como aprendemos, ensinamos e nos cultivamos. As imagens mediadas juntam-se, associam-se às palavras mediadas, na escrita ou nas gravações sonoras, e competem muitas vezes com elas.
As palavras foram sempre um objecto privilegiado de estudo nas universidades. As Faculdades de Letras, as filologias, testemunham esse estudo intensivo e aturado. Com a revolução tecnológica na mediação das imagens, impõe-se agora que as universidades, pela sua vocação universalista de chamar a si todos os saberes, institucionalizem ao seu jeito o estudo das imagens, ou seja, lhe dêem a forma de ensino e de investigação.
As jornadas sobre “Novas tecnologias e Filme Documentário”, realizadas em 17 e 18 de Janeiro de 2003 na Universidade da Beira Interior, foram mais um passo, importante, na inclusão do estudo das imagens no cânon universitário, tal como é realizado aqui e agora pela nossa
universidade.

António Fidalgo
AFTEBI COM ACTIVIDADES
Jovens e indústria
Eliminar os preconceitos existentes em relação à actividade industrial é o principal objectivo da Associação para a Formação Tecnológica e Profissional da Beira Interior (AFTEBI). Para alcançar este objectivo a associação vai ser a primeira do País a integrar o projecto “Pense Indústria”, uma medida anunciada pelo presidente da AFTEBI, Brás Costa, na apresentação do plano de actividades para 2003 que teve lugar no passado dia 14.
A AFTEBI é promotora de duas escolas tecnológicas, a Escola Tecnológica da Beira Interior (ESTEBI) e a Escola Tecnológica Têxtil (ETT) em Vila Nova de Famalicão. Na ESTEBI vão continuar a ser leccionados os cursos de Especialização Tecnológica em Manutenção Industrial e Design Têxtil. Na ETT serão leccionados os cursos de Confecção e Ultimação Têxtil. Brás Costa assegura que esta formação vai de encontro às necessidades apresentadas pelo mercado”.
O presidente da AFTEBI garante que “os alunos formados nestas escolas têm um nível de empregabilidade total”. No entanto, reconhece a “dificuldade em recrutar candidatos devido à falta de informação que há sobre empresas de cariz tecnológico”. Segundo Brás Costa “a actividade industrial ainda está cheia de fotografias a preto e branco”. O “Pense Indústria”, que terá continuidade até 2006, poderá permitir despertar o interesse dos jovens para a carreira técnica. A utilização de campanhas de informação e de marketing poderão ser algumas das técnicas utilizadas para o efeito. “Apesar do sector têxtil atravessar algumas dificuldades, há empresas competitivas que solicitam formandos às escolas tecnológicas”, sublinha o presidente da
AFTEBI.
Ao todo são 74 os alunos já formados nas escolas da AFTEBI, dos quais 41 tiveram diploma e 13 terminaram o curso mas como não concluíram o 12.º ano não tiveram direito a diploma. Vinte alunos estão em fase de conclusão de
trabalhos.

Catarina Rodrigues
RUAS TEM GARANTIA
Comboio em Viseu
O presidente da Câmara Municipal de Viseu, Fernando Ruas, diz ter a garantia do secretário de Estado dos Transportes de que a cidade vai constar no próximo Plano Ferroviário Nacional, pelo que o comboio voltará a Viseu a médio prazo, o que é um velho anseio.
A questão foi levantada, há vários anos, com a proposta de ligação da Linha da Beira Alta à Linha do Norte, passando por Viseu, o que, na opinião de Fernando Ruas, “era o ideal, mas era pedir muito”. A ligação de Viseu à Linha da Beira Alta mostrou-se mais realista porque, depois de uma análise ao mapa, concluiu-se que “era pertinho”, acrescentou.
Há cerca de quatro anos, quando a Câmara Municipal de Viseu estudava o assunto, durante uma reunião promovida por um partido, o presidente da CP afirmou que ia pensar nessa ligação ferroviária. “Nunca mais o larguei, insisti com ele e ele cumpriu”, frisou Fernando Ruas, acrescentando que o estudo já está concluído.
Segundo o autarca, a ligação de cerca de oito quilómetros ficará orçada entre 100 a 125 milhões de euros (20 a 25 milhões de contos), o que considera barato. “É muito menos do que dotar, por legítimo que seja, uma área metropolitana do metro”, afirmou, acrescentando que se trata de uma infra-estrutura importante para a capital de distrito.
Actualmente, a Câmara de Viseu está a negociar um acordo com a REFER relativo ao património que tem no concelho, que Fernando Ruas espera estar pronto em finais de Fevereiro.

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