Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VI    Nº60    Fevereiro 2003

Editorial


E venham mais cinco!

O Ensino Magazine comemora, neste número, o seu quinto aniversário. É obra! Após seis dezenas de edições apresentadas desde o número zero, vale a pena cometer o pecado da imodéstia para referir que o projecto mereceria ser objecto de estudo de mercado, no quadro da imprensa temática nacional.

Poucas são hoje as publicações que se dedicam a temas de educação, cultura e investigação científica. Raras as que sobreviveram, colocando os jornais nas bancas e nas escolas gratuitamente. E nenhuma terá alcançado o mérito de, partindo de uma região do interior, progressivamente acolher o reconhecimento e a aceitação numa parte significativamente interessante do território nacional.

Como se sabe, o jornal atingiu a confortável tiragem de cerca de dezasseis mil exemplares. É distribuído (e reconhecido) nos distritos de Castelo Branco, Portalegre, Guarda, Viseu, Évora e Beja. Alargou a qualidade e diversidade dos seus colaboradores, ganhou audiência na região da Raia espanhola, lançou-se na publicação online das suas edições, patrocina, divulga e apoia, anualmente, dezenas de eventos culturais.

Tal só foi possível devido ao inesgotável profissionalismo, criatividade e dedicação da dinâmica equipa da RVJ, a que se juntou, em boa hora, a experiência do saber e do fazer do semanário Reconquista.

Este projecto editorial e empresarial justifica-se, talvez hoje mais do que nunca, dado que vamos entrar no segundo ano consecutivo em que o Ensino Magazine comemora o seu aniversário em cenário de crise educativa, académica e institucional.

No passado ano, por esta data, subia ao palco um “Manifesto para A Educação da República” assinado por quinhentas insuspeitas personalidades, e no qual a educação e a função social da escola eram postos em causa.

Nesse Manifesto salientava-se o facto de a generalidade dos estudos, nacionais e internacionais, apontarem para a conclusão de que o País estava a educar mal os seus filhos e essa seria uma das razões fundamentais por que os portugueses continuavam a não ser capazes de produzir a riqueza que consomem.

Passado um ano, e apelamos também à memória dos leitores, não conhecemos qualquer medida de fundo que visasse alterar o diagnóstico crítico que aquelas personalidades traçavam. Há quem chame a isto a maneira peculiar de ser português.

Este ano a nuvens da apreensão e da incógnita desviaram-se, desorganizada e caoticamente, para os lados do sistema de Ensino Superior. Muda-se a cena, pouco os actores. Continua-se a pagar bilhete para assistir à representação. Depois, sai-se do teatro, pacatamente, uma vez mais, para entrar noutra peça, quem sabe se mais apetecível.

Como sinal dos tempos que correm, aí temos, nas páginas desta edição, as polémicas declarações dos representantes institucionais dos Politécnicos de Castelo Branco, Guarda e Portalegre, bem como os das Universidades da Beira Interior e de Évora. O problema não pode, nem deve, ser por mais tempo escondido, pelo que o Ensino Magazine se compromete no acompanhamento da busca de soluções.

Sabemos, todavia, que, face à escolaridade média dos portugueses, e em presença dos números que nos colocam na cauda da Europa quanto a rácios de quadros superiores qualificados, podemos convir que não temos demasiadas instituições de Ensino Superior, sobretudo se quisermos perspectivar o desenvolvimento do País para as próximas duas décadas.

Sabemos, também, que numa luta fratricida serão sobretudo as regiões do Interior as mais vitimadas por qualquer medida de descriminação negativa. Porque, finalmente, também reconhecemos quanto o Ensino Superior contribuiu para o desenvolvimento destas regiões que, durante décadas, foram condenadas ao ostracismo pelo poder central.

Somos, por isso, daqueles que nutrem a convicção de que vivemos realidades irreversíveis, pese embora o pendor mais ou menos nostálgico, mais ou menos conservador, mais ou menos canibalista que, nestes tempos de crise e de cólera, se vai apoderando do mais angelical dos governantes, ou de alguns dos seus arcanjos de serviço.

João Ruivo
ruivo@rvj.pt

 


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