Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VI    Nº60    Fevereiro 2003

Destaque

PRESIDENTE DO IPV

Reflexão profunda

Embora não tendo presente em profundidade e plenitude a entrevista do ministro Pedro Lynce ao Ensino Magazine, o presidente do Politécnico de Viseu, João Pedro de Barros, considera que “é necessária uma profunda reflexão sobre as questões de ensino em Portugal, pois, pelo estudo que fiz, não me parece que tenhamos licenciados a mais, mas sim o contrário”.

Adianta que a questão passa por criar mecanismos de formação algo diferentes dos que existem. “Desde que acabaram com as escolas comerciais, após o 25 de Abril, gerou-se a mentalidade em Portugal de que todos temos de ser doutores. Ora, entendo que deve haver reformulações em todas as áreas, de forma a atingirmos níveis médios de formação semelhantes aos dos outros países europeus”.

Perante este cenário, entende que “não deve ser encerrado seja o que for, mas devem ser criados mecanismos de formação compatíveis com as exigências, criando cursos de especialização tecnológica, de nível IV, em todas as instituições, mas sem retirar a possibilidade das instituições fazerem formação na área dos bacharelatos, licenciaturas, mestrados e outros. Tudo pode ser compatível e o mercado irá depois escolher os formados de que mais necessita”.

Já em relação às cedências que as instituições terão de fazer entre si, de modo a reformular a rede de formações em Portugal face ao decréscimo do número de alunos, João Pedro de Barros, considera que as cedências têm de ser mútuas entre politécnicos e universidades. “Todas as instituições de ensino superior devem poder funcionar com os diferentes níveis de formação necessários ao desenvolvimento do País, isto independentemente de serem universidades, institutos ou outra coisa qualquer. Importa agora é criar as condições económicas e sociais para que esta questão seja entendida por toda a gente”.

A ideia que defende visa que os alunos possam concluir o curso de especialização tecnológica e possam ir trabalhar, ou não, mas a instituição de formação garante-lhe a possibilidade de prosseguir estudos até ao grau máximo, o de doutoramento. “Em Portugal existem seis mil doutores e, para atingirmos níveis europeus, necessitamos de 30 mil. Além disso, não temos ainda os técnicos necessários com formações de nível IV ou de bacharelato. Há muito a fazer. Precisamos de uma sociedade mais culta, mas o que temos é uma sociedade menos culta e culturalmente menos desenvolvida”.

Ainda em relação aos politécnicos, defende que “foram as instituições que mais cresceram nos últimos anos, além de terem desenvolvido um trabalho notabilíssimo na fixação de pessoas. Podemos dizer que provocaram um autêntico terramoto em termos de desenvolvimento nas regiões, desde o comércio, indústria, entre outros. Só nos últimos 10 anos, Viseu ganhou 20 mil habitantes, ao que não será alheio o Politécnico, mas também a Universidade Católica, o Instituto Piaget, o Instituto de Estudos de Magualde”
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MANUEL FERREIRA PATRÍCIO, REITOR DA UE

Futuro está em causa

“Entendo as palavras do senhor ministro como um manifestar de preocupações relacionadas com a necessidade de reponderar a gestão do Ensino Superior no seu todo. No caso da Beira Interior, porém, existem problemas particulares porque falamos do Interior profundo e a quebra demográfica escolar vai atingir sobretudo as regiões do interior do Interior, desde o Algarve a Bragança, às regiões autónomas, à própria Universidade de Évora”.

É deste modo que o Reitor da Universidade de Évora, Manuel Ferreira Patrício, comenta a entrevista do ministro Pedro Lynce ao Ensino Magazine. A questão é que existem universidades e politécnicos em áreas próximas, pelo que se defende o entendimento, mas o processo não será fácil. A este respeito, Manuel Ferreira Patrício entende que, “olhando à história do Ensino Superior em Portugal e ao investimento feito pelas instituições e pelas regiões onde se encontram, a questão é complexa. É necessário analisar o caso com muito cuidado e mexer no assunto com pinças. Há várias hipóteses, tal como surge no livro dos professores Veiga Simão, Sérgio Machado dos Santos e Almeida Costa”.

O Reitor da Universidade de Évora refere que o debate que agora se inicia permitirá obter algumas conclusões, mas considera que ainda será cedo. Em Évora ainda não se iniciou as discussão. Logo: “dadas as minhas responsabilidades, devo ser cuidadoso e não me posso antecipar a um debate que tem de ser dentro da própria instituição. Quero que seja a instituição a assumir, e eu com ela, o seu futuro, porque o que está em causa é muito importante. Não vamos é encarar a questão com receios ou preconceitos, mas de olhos limpos, porque é o futuro da nossa casa e o do Ensino Superior para as próximas décadas que está em causa”.

Já em relação à possibilidade do Superior poder ser avaliado antes do debate, por uma entidade como a OCDE, por exemplo, tal como pretende o Concelho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, Ferreira Patrício concorda, mas vai referindo que há cuidados a ter. “Não vejo mal nenhum em que uma entidade exterior com a credibilidade e competência técnica da OCDE faça um estudo dessa natureza, mas os estados devem ter capacidade para analisar os seus problemas e encontrar o seu caminho”.

Entende o Reitor que a OCDE pode ter virtualidades, mas possuirá lacunas. “O modelo de um sistema de ensino superior é uma questão cultural e histórica. Logo, um modelo que serve muito bem num determinado país, pode não servir a outro. Ora, a dimensão historico-cultural é fundamental. Logo, uma entidade externa poderá fazer um diagnóstico que nos ajude a fazer as escolhas, mas teremos de ser nós a escolher o nosso destino”.

 

 

 

LUIS CARRILHO, VICE-REITOR DA UBI

Formação diferente

Até à hora de fecho desta edição, não foi possível saber a opinião do Reitor da Universidade da Beira Interior, Santos Silva, acerca da opinião adiantada por Pedro Lynce ao Ensino Magazine. Ainda assim, dias antes, em diálogo com o vice-reitor daquela Universidade, Luis Carrilho, foi-nos dito que a solução terá de passar por um entendimento entre instituições, de forma a que não encerrem instituições. “O ministro da Ciência e do Ensino Superior tem vindo a alertar, como o fez recentemente numa entrevista concedida ao Ensino Magazine, para a necessidade de serem criadas sinergias entre as instituições, em lugar de haver repetição de cursos”.

Em seu entender, “todas as instituições sabem, e algumas melhor que outras, como é o caso da UBI, que todas as escolas periféricas podem diminuir o número de alunos nos próximos anos. Mesmo que as condições e os cursos sejam muito bons vai ser muito difícil competir com escolas como o Instituto Superior Técnico, com Coimbra ou com o Porto. Vivemos numa região onde o número de alunos que frequentam o 12º Ano não é suficiente para preencher todas as vagas das instituições de Ensino Superior locais, pelo que temos de ir cativar alunos ao Minho, ao Porto ao Ribatejo”.

Perante esta situação, o vice-reitor da UBI entende que as instituições da Beira Interior não podem concorrer no mesmo tipo de áreas, sob pena dos cursos ficarem muito dispendiosos. De caminho, defende um entendimento. “Se não tivermos uma prospectiva forte do futuro das instituições nos próximos 10 anos, não tenho dúvidas que não haverá quorum para fazer funcionar certos cursos, pelo que se corre o risco de desperdiçar recursos humanos e a esbanjar dinheiro público”.

Aquele responsável entende que os cursos de bacharelato e de outro tipo também serão importantes. “O que é que é mais importante, ter todos os indivíduos formados com o grau de master of science, ou ter alguns com o grau de bacharelato”. E dá como exemplo os cursos de especialização tecnológica, cursos pós-secundário, de mil e 500 horas que preparam para o mercado de trabalho. Nesta área a UBI é parceira da Aftebi, associação que tem uma escola onde são feitos cursos de manutenção e do têxtil. “Também a Universidade de Aveiro avançou recentemente para o diálogo com escolas secundárias para avançarem cursos nas áreas onde há empregabilidade. E embora nessa área existam politécnicos, foi a Universidade a avançar nesse sentido”.

Perante este cenário, Luis Carrilho entende que “as instituições podem estar todas a funcionar, mas sem que se centrem em formações iguais”. Defende ainda que “é necessária uma racionalização, pelo que a UBI está aberta a todas as formas de cooperação e melhoria”. Adianta que “os avisos do Ministro da Ciência e Ensino Superior às instituições da Beira Interior são válidos para todo o país”, ainda mais quando se fala em nota mínima. “Este ano concluiu-se que os politécnicos de Porto, Lisboa e Coimbra poderiam perder 45 por cento dos alunos na área de Engenharia, caso a nota mínima entrasse em vigor. O alerta foi feito e a questão foi adiada para 2005. Mas nada garante que acontecesse o mesmo se o problema se verificasse ao nível do Interior”.

 


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