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Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VI    Nº60    Fevereiro 2003

Cultura

GENTE & LIVROS

Antoine de Saint-Exupéry

«Para mim, esta é a mais bela e mais triste paisagem do mundo. É a mesma paisagem da página anterior, mas eu voltei a desenhá-la para vocês a verem melhor. Foi aqui que o principezinho fez a sua aparição na Terra e, depois, desapareceu. Fixem bem esta paisagem para a poderem reconhecer se um dia fizerem uma viagem a África e forem ao deserto. Se passarem por este sítio, suplico-vos: não tenham pressa, fiquem um bocadinho à espera mesmo por baixo da estrela! Se vier um menino ter convosco, um menino que se está sempre a rir, com cabelos cor de ouro e que nunca responde quando se lhe faz uma pergunta, já sabem quem ele é. E então, por favor, sejam simpáticos! Não me deixem assim triste: escrevam-me depressa a dizer que ele voltou...»

In O Principezinho



Antoine de Saint-Exupéry nasceu em Lyon, a 29 de Junho de 1900. Faz os seus estudos em Sainte-Croix-du-Mans, na Suiça e em Paris. Prepara-se para entrar na Escola Naval mas chumba o exame de admissão e entra em Belas-Artes.

Em 1921 ingressa na Força Aérea em Estrasburgo onde aprende a pilotar. Em 1926 entra na companhia de aviação Latécoère assegurando o transporte do correio entre Toulouse e Dacar. Quando é nomeado chefe de escala no Rio do Ouro escreve o seu primeiro livro Correio do Sul (1929).

Parte para a América do Sul com o objectivo de estudar a viabilidade de criação de novas linhas aéreas nesse continente.

Em 1931 publica Voo Nocturno alcançando um sucesso considerável.

A companhia de aviação atravessa problemas financeiros e Saint-Exupéry torna-se jornalista, viajando por todo o mundo. Em 1938 arrisca fazer a ligação aérea de Nova Iorque à Terra do Fogo mas sofre um acidente. No seu tempo de convalescença em Nova Iorque escreve Terra dos Homens (1939) - Grande Prémio do Romance da Academia Francesa. Com a 2ª Guerra Mundial alista-se no Exército de Libertação Francês mas devido à sua idade é proibido de pilotar e parte com a esposa para os EUA. Alista-se como voluntário na Força Aérea Americana e em 1942 é publicado o seu romance Piloto de Guerra. A 3 de Julho de 1944, Saint-Ex como era chamado pelos amigos, parte para a sua última missão. O seu avião é abatido pelos alemães sobre a ilha da Córsega, um ano antes tinha publicado a sua melhor obra O Principezinho.

O LIVRO. Quando o narrador tem de aterrar de emergência o seu avião no deserto encontra uma magnífica personagem, o Principezinho que lhe narra a mais bela história, a do seu planeta, onde cresce uma rosa que ele ama e quer proteger a todo o custo. O Principezinho também lhe fala de outros planetas por si visitados: o do rei, do vaidoso, do bêbado, do homem de negócios, do acendedor de candeeiros, do geógrafo e o sétimo planeta a terra.

Eugénia Sousa
Florinda Baptista

 

 

 

Novidades

RVJ - EDITORES. Sentinela da Cidade, memórias da memória do Bairro do Castelo de Castelo Branco, é a mais recente edição da RVJ - Editores, em parceria com a Associação Cutural Outrem. O livro vai ser apresentado brevemente em Castelo Branco.

PUBLICAÇÕES EUROPA-AMÉRICA. O Método V. A Humanidade da Humanidade - A Identidade Humana. «Quem somos nós? Quanto mais conhecemos o ser humano, menos nos compreendemos: a dissociação entre as disciplinas fragmentam-no, esvaziam-se de vida, de carne, de complexidade e determinação, ciências consideradas humanas, esvaziam-no até da noção de Homem».

PIAGET. Estudos Sobre Contaminação Ambiental na Península Ibérica dos Editores Científicos Ricardo Prego Armando Duarte Alexandre Panteleitchouk, Teresa Rocha dos Santos. «A atmosfera e a água são dois dos principais agentes no transporte de poluição e têm dois capítulos próprios neste livro sobre contaminação ambiental na Península Ibérica.»

ASA. O Natal do Pedro de Bernardo Pinto de Almeida com ilustração de Júlio Resende. «O Pedro era um menino com muita imaginação, como aliás costumam ser todos os meninos antes de fazer 5 anos (...) No Natal desse ano, que foi o primeiro em que se deu conta da magia do presépio e também de que Jesus era um menino como, ele, o Pedro não quis deixar de partilhar a festa com esse seu novo amiguinho».

GRADIVA. Introdução à Geopolítica Philippe Moreau Defarges. As principais doutrinas geopolíticas. As raízes da moderna reflexão geopolítica no Séc.XIX, a luta das grandes potências pelo domínio mundial, o novo discurso geoeconómico e a extraordinária expansão da geopolítica pós-guerra fria pelo discurso académico, político e dos media.

EXPOSIÇÃO. O cartoonista Luís Afonso tem uma exposição a decorrer na Galeria de Arte Jean Piaget no Campus Universitário de Almada. Luís Afonso é o autor dos bonecos Barba e Cabelo; Humor Ardente; Bartoon, Semana Política; Histórias Invertebradas e Lopes, Escritor Pós-Modernista e ganhou o Prémio Nacional de Cartoon 1993, Prémio Nacional de Humor de Imprensa 1999 e o Prémio Nacional de Humor de Imprensa 2000.

 

 

 

Educação às tiras

Desenho: Bruno Janeca
Argumento: Dinis Gardete

 

 

 

BOCAS DO GALINHEIRO

Simenon ou Maigret eis a questão

A personagem do comissário Maigret, criação de George Simenon, é um dos casos emblemáticos da criação que obnubila o seu criador. Por mais esforços que fizesse, e foram muitos, nunca o escritor belga consegui escapar àquela referência única da literatura policial. Como disse o nosso “inspector” Varatojo, o fascínio de Maigret residia no facto de ser um detective igual a nós, pois até se constipava! Mas, também há aqui alguma dose de injustiça para com Simenon: dos seus 400 livros, apenas pouco mais de uma dezena têm como protagonista o celebérrimo polícia.

Filho de pais de origem modesta, George Joseph Christian Simenon nasceu em Liége. Se fosse vivo teria feito no passado dia 13 cem anos. Não admira pois que seja um dois “protagonistas” de 2003, ano para que estão reservadas várias iniciativas de homenagem ao profícuo escritor, nas quais se inclui a reedição da sua obra.

Simenon começou cedo na prática da escrita. Aluno brilhante, aos 16 anos já era repórter e tinha na imprensa a sua própria coluna e os seus escritos apontavam para um estilo sensacionalista. Aos 25 era já um autor popular. Em 1929 dá a conhecer aos seus leitores o “nosso” Comissário Maigret, através do romance “La Nuit du Carrefour” (A Noite da Encruzilhada), assinado por Christian Brulls, um dos 21 pseudónimos que utilizou. Segui-se a publicação de “Pietr, o letão”, já como George Simenon. Maigret continuou a caça aos culpados durante 103 aventuras, entre novelas e contos, culminando com “La téte d’un homme”. Maigret não é um herói. É um simples funcionário que gosta de comer, beber e fumar cachimbo. As suas armas são o “olfacto” e a paciência: pode perder horas, dias, atrás de um suspeito até ao dia em que no Quai des Orfébres confessa. Sempre. Não censura, apenas tenta compreender.

Por estas e por outras não estranha que a obra deste autor sustente uma longa filmografia de cerca de centena e meia de títulos, além de séries para televisão.

Em 1932 Simenon interveio na elaboração dos primeiros filmes baseados em obras suas. “Le Chien Jaune”, de Jean Tarride e “La Nuit du Carrefour”, dirigido por Jean Renoir, que lhe dá um toque realista. Obra muito elogiada por Godard e Claude Chabrol, em que Maigret é interpretado por Pierre Renoir, irmão do realizador.

Actores de várias nacionalidades reflectiram na tela o modo de investigação do encorpado comissário. De Abel Tarride, Harry Baur (O Preço de Uma Vida, de Duvivier), Albert Prifeau, visto em três filmes, Jean Gabin, esse mito do cinema francês, e que melhor define o tipo do investigador, categórico, mas muito humano, Michael Simon, Boris Tenin, numa produção da ex-URSS, a Charles Laughton, esse “monstro” da representação que fez um notável Maigret no único filme dirigido pelo actor Burgess Meredith, de 1948, “O Homem da Torre Eiffel”.

Embora o Comissário Maigret seja a figura mais conhecida do grande público e a mais vista no écran, outras novelas que fazem parte dos escritos de Simenon , - de grande qualidade, diga-se, cujo clima de tensão e angústia, dando-nos retratos humanos profundos, sempre num ambiente aparentemente calmo - mereceram igualmente os favores do cinema, como “Les inconnus dans la maison”, que teve três versões: “A sua maior causa”, de Henri Decoiu, “L’ étrnger dans la maison”, de Pierre Rouve, com James Mason e a 3ª versão, de Georges Lautner, com Jean Paul Belmondo.

Da adaptação da novela “O homem que via passar os comboios” resultou uma aceitável película dirigida em 1952 pelo inglês Harold French, cujo papel principal é interpretado por Claude Rains.

Merecem ainda uma referência as películas vindas de Hollywood como “Irmãos e assassinos”(1957), de Phil Carlson, dentro do chamado “filme negro”, “O fundo da garrafa”(1956), de Henry Hathaway, uma obra não muito querida ao seu realizador, mas bastante elogiada pelo exigente crítico francês André Basin e “Entre a vida e a morte”(1954), de Harry Honner, num confronto entre Richard Montalban e Lee Marvin, no papel de um inquietante assassino.

Marcel Carné realiza em 1949 “Maria do porto”(na foto), com Jean Gabin (que, com dez títulos, é sem dúvida o actor que mais vezes interpretou Simenon) ao lado da jovem Nicole Courcel.

No ano de 1947 um tentáculo de George Simenon penetra na Península Ibérica na produção luso-espanhola de “Viela, rua sem Sol”, sob a direcção de Ladislau Vadja, com Milú, Barreto Poeira, Augusto Fraga, Maria Olguin e Oliveira Martins.

Doutros filmes podíamos falar. Do autor fica uma obra riquíssima para conhecer, se ainda há alguém que não tenha lido as aventuras do comissário, muito mais comedido que o seu excessivo “pai”, compulsivo escritor, fumador e frequentador de belas mulheres. Afinal, dos fracos não reza a História.

Luís Dinis da Rosa
com Joaquim Cabeças

 


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