SANTOS SILVA, REITOR DA
UBI, EM ENTREVISTA
Governo tem que ajudar
o Interior

As instituições de ensino superior do Interior do País devem criar condições para atrair alunos, o que se faz pela qualidade de ensino, condições de excelência e bons níveis de empregabilidade dos formados. Mas isso não chega. Para que as instituições possam sobreviver à actual falta de candidatos, importa que o Estado direccione investimentos público e privados para o Interior, a fim de fixar pessoas onde mais se necessita delas.
A opinião é do reitor da Universidade da Beira Interior, Santos Silva, que acaba de ser reconduzido no cargo e definiu já como metas para a universidade a convergência gradual com os princípios de Bolonha, além de abrir as portas a candidatos dos países africanos de língua oficial portuguesa. Nesse sentido, alargou a equipa e haverá um pró-reitor por cada um daqueles cargos, ou seja, um que trabalhará na melhoria da qualidade de ensino e outro mais atento aos países africanos.
“A Universidade cresceu e faz todo o sentido envolver mais pessoas em tarefas de gestão, pois é preciso preparar o futuro, além de cumprir o grande desafio de adaptar todo o ensino ao processo de Bolonha”, esclarece. De caminho, refere que a adaptação “é um desafio enorme” e lamenta o atraso na definição acerca do que se pretende para o ensino superior em Portugal.
Perante este cenário “a UBI está a mudar e tem de o fazer necessariamente”, mas isso não chega. Santos Silva diz que é necessário defender as instituições de ensino superior, pois “nos últimos 30 anos foram o único factor que impediu que o Interior desertificasse. Foi no âmbito da reforma Veiga Simão que nasceu o ensino superior de Bragança à Guarda, Covilhã, Castelo Branco, Évora, Beja e outras. Essa terá sido a melhor forma de desenvolver o Interior do País”.
Santos Silva considera que as instituições como a UBI são as únicas que contribuem para inverter o processo de despovoamento. “Trazemos jovens para a Covilhã, que vivem aqui quatro ou cinco anos. Criam hábitos e alguns ficam por cá. Mas não podemos ficar à espera que seja assim. Já temos boas vias de comunicação, pelo que têm que surgir empresas que permitam fixar as pessoas. Governo e autarquias têm de se empenhar no sentido de criar condições para que se instalem empresas, sobretudo as que necessitem de massa cinzenta”.
PASSOS DECISIVOS FORAM
DADOS
UBI no caminho de
Bolonha
“Adaptar a Bolonha não é definir apenas quantos anos terá o primeiro ciclo do superior ou se continuamos com o sistema binário ou não. Mas também é preciso definir isso e a definição tarda. É que tudo isto tem a ver com financiamentos”, refere Santos Silva, que gostaria de ver publicada uma nova Lei de Bases da Educação o mais depressa possível.
Mas se o desafio é grande e tarda, na UBI caminha-se nesse sentido há algum tempo, existindo já cursos com a lógica de auto-aprendizagem e tutorias, como é o caso do curso de Medicina e também no de arquitectura, ambos integrados num modelo que se pretende alargar a todos os outros. Para tal, já está nomeada uma comissão para estudar o processo, a qual inclui os vice-reitores, pró-reitores, presidentes de faculdades, “os quais já têm vindo a trabalhar neste processo”.
TECNOLOGIAS. Além da adaptação, Santos Silva aponta como meta a promoção da qualidade do ensino-aprendizagem, o que liga a processos de avaliação, acreditação e introdução de novos modelos pedagógicos, além do aproveitamento de todas as potencialidades das novas tecnologias de informação e comunicação.
“Temos uma estrutura laboratorial como poucas universidades têm. Os laboratórios estão sempre abertos aos alunos, pois queremos promover um ensino com base na experimentação e investigação. A biblioteca central não funciona em moldes tradicionais, pois a informação não está apenas em suporte de papel. Isto pretende motivar os alunos a aprender”.
Nesse sentido, “grande parte das infra-estruturas já têm acesso à rede wireless e possuímos uma média de um computador por cada três alunos, quando a meta europeia pretende atingir a de um computador por cada oito alunos”. Os números são agradáveis, mas Santos Silva diz que não chega. “Não estou satisfeito. Temos de ir mais longe, pois neste índice há muitos computadores alocados a docentes e a outros serviços, ou seja, nem todos disponíveis para os alunos”.
FORMAÇÃO. A lógica é a de facilitar a vida aos alunos, em termos de acesso à informação, numa altura em que vão começar a ter outras responsabilidades no processo de formação. Por outro lado, o professor passa a ser mais um tutor que auxilia o aluno na procura da informação, pelo que “os docentes têm de se preparar para esta verdadeira revolução de mentalidades”.
Para já, mais de 50 por cento dos professores são doutorados e “se todos os inscritos em doutoramento terminarem em tempo oportuno, daremos um salto para mais de 80 por cento de doutorados, o que prova o esforço da UBI, uma universidade jovem que tem mais de 30 por cento do corpo docente em formação, sendo que grande parte está dispensado do serviço docente para poder desenvolver os seus projectos de investigação”.
Ciente que o prestígio da universidade cresce pela produção de saber, considera que o actual nível da UBI “é bom, mas pode crescer”. É nesse sentido que vai lançar o desafio ao corpo docente, procurando ao mesmo tempo melhorar as infra-estruturas e dotá-las dos meios necessários para a evolução.
APESAR DA CRISE
ECONÓMICA
Estruturas precisam-se
Embora diga que a sua “primeira prioridade vai sempre para os meios humanos, sejam professores, alunos ou funcionários”, Santos Silva considera que as infra-estruturas são fundamentais. Fala na qualidade da biblioteca, no edifício das engenharias e nas instalações provisórias da Medicina. E embora compreenda a situação económica do país, não esquece as necessidades da instituição.
Em breve estará pronta a residência Pedro Álvares Cabral, com capacidade para 335 camas, entre quartos simples e duplos. Se a solução passar por quartos triplos, a capacidade cresce para mais de 400 camas, mas os quartos duplos são a aposta, pelo menos nos primeiros tempos, garante Santos Silva.
Junto à nova residência funciona o edifício das ciências humanas, “o qual, embora seja qualitativamente bom, está sobrelotado, existindo uma média de 0,8 metros quadrados por aluno”, pelo que continua a ser necessário o edifício imediatamente em frente ao actual, já adquirido pela UBI, com projecto final elaborado e candidatado ao
Prodep.
Enquanto não avança, a primeira necessidade será a da construção de uma unidade alimentar nas imediações. “Este ano
reestruturámos o snack-bar, mas estão ali cerca de dois mil alunos, podendo crescer até 2500, pelo que esperamos conseguir o apoio para construir a unidade alimentar, já candidatada ao Prodep”. Algo que poderia servir de rampa para desenvolver um sistema de catering na universidade, centralizando as cozinhas, melhorando a qualidade e reduzindo custos.
A falta de espaço sente-se também na Reitoria. “É absolutamente necessário construirmos uma infra-estrutura com cerca de mil metros quadrados, que permita melhores condições. Por exemplo, o pessoal que processa os salários trabalha num hall, pelo que esperamos ver a obra no Piddac de 2005, nem que a instituição tenha de apoiar com algumas receitas próprias”, uma vez que já existe projecto e terreno.
A construção do bloco pedagógico das Ciências do Desporto também deverá avançar, pois há autorização do Ministério para abrir concurso, o qual deverá ser adjudicado no próximo ano. A obra inclui salas de aula e laboratórios, os quais já eram reclamados desde 2001 e está em Piddac desde 2002. “Deverá demorar cerca de um ano a construir, pelo que em 2005 já será possível ter o edifício pronto”.
O maior desafio é a construção da Faculdade de Ciências da Saúde. “Não basta construir o edifício. Tem laboratórios muito específicos que exigem cuidados especiais de construção. Depois vem a questão financeira, mas o Estado tem apoiado e penso que haverá dinheiro para a construção. Para já há verba e esperamos iniciar a obra ainda em Dezembro ou no início do próximo ano”.
|