Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VI    Nº70    Dezembro 2003

Cultura

GENTE & LIVROS

Alain de Botton

«Mas o que tem a sabedoria a dizer sobre o amor? É algo a evitar absolutamente, como o café ou o tabaco, ou será permitido em certas ocasiões, como um copo de vinho ou uma tablette de chocolate? (...)

Se certos sábios pensadores deram a sua aprovação ao amor, tiveram o cuidado de distinguir nele variedades, de forma muito semelhante aos médicos, que nos aconselham a não comer maionese, mas já a permitem se for preparada com ingredientes pobres em colesterol. Fazem a distinção entre o amor imprudente de Romeu e Julieta e a veneração contemplativa de Sócrates pelo Bem, contrastam os excessos de um Werther com o amor fraterno e compassivo sugerido por Jesus.» 

In Ensaios Sobre o Amor

Alain De Botton nasceu em Zurique em 1969 e cresceu entre a Suíça e a Inglaterra. Fala francês, alemão e inglês e formou-se em Filosofia em Cambridge. Alain de Botton vive presentemente em Londres, dá aulas na universidade, assina uma coluna ao Domingo no jornal Independent e é autor de sete livros. O primeiro livro, Ensaios Sobre o Amor, foi publicado em Novembro de 1993 e traduzido em Portugal. Sempre pelo amor, parece ser o lema de Alain De Botton que em 1994 publicava O Movimento Romântico, um livro sobre o romantismo dos affairs da Londres moderna, e um ano depois Beija e Diz (1995). 
Inspirando-se em Proust, o famoso autor de Em Busca do Tempo Perdido, Botton escreve o seu quarto título, primeiro na categoria de não ficção, Como Proust Pode Mudar a sua Vida (1997). Um misto de crítica literária, biografia de Proust e manual de auto-ajuda, o livro foi um best-seller nos EUA e na Inglaterra onde deu origem a um documentário na BBC2. As Consolações da Filosofia (2000) vendem no Reino Unido 150.000 cópias e transformam-se num programa da televisão Inglesa, a série de seis episódios “Filosofia : um guia para a felicidade”, exibida no Channel 4. A Arte da Viagem, “vai longe” e torna-se um campeão de vendas na Europa, Estados Unidos e Austrália. O último livro sai no próximo ano e chama-se Ansiedade do Status. Aborda o receio que todos nós temos, em maior ou menor grau, do julgamento dos outros.

O escritor John Updike afirmou, «De Botton escreve em Inglês com a sabedoria francesa.» 

“Ensaios sobre o Amor” é um convite a acompanhar o narrador num itinerário ao país do Amor. Ele conhece Cloe no avião, ficam juntos no aeroporto e no táxi, e a relação progride de encontro em encontro, da ilusão ao desgosto, dos primeiros afagos às últimas palavras. Porque segundo Woody Allen, “o melhor especialista”, dos nossos tempos, em relações amorosas, «o amor é eterno enquanto dura». Ensaios sobre o Amor é simultaneamente um romance e um ensaio sobre as relações afectivas, que todos nós já vivemos, com tudo aquilo que têm de fatalismo romântico, idealização, vocabulário e lições de amor.

Eugénia Sousa
Florinda Baptista

 

 

 

CIÊNCIA

Uma questão de chutar

No dia 1º de Dezembro muito se diz, se escreve, se planeia mas na realidade pouco se avança no combate à SIDA.

De todas as parangonas escritas uma merece-me especial comentário. Disse o Coordenador Nacional da Luta Contra a Sida que “ A mulher é hoje a grande pessoa de risco”. Não poderia estar mais de acordo, contudo acrescentaria também a criança, nessa sua preocupação.

O da criança porque nada fez para nascer seropositiva, sendo no caso vertente, sobretudo crianças filhas de pais toxicodependentes e que, posteriormente, nem a adopção tem sido solução para elas.

Em Portugal o nº de mulheres com SIDA é muito inferior ao nº de homens, o que na realidade penso só ser possível estatisticamente. Senão vejamos: a nível epidemiológico, as mulheres são mais vulneráveis. Tradicionalmente casam-se ou juntam-se com homens mais velhos, que provavelmente tiveram mais parceiros sexuais anteriores. No nosso país existem poucas figuras públicas abertamente homossexuais. Muitos deles virão a casar-se, mas os seus amantes e amores são e serão homens ou meninos. Quem se pode esquecer da pedofilia?

A prostituição é no sexo feminino que tem maior expressão e muitas vezes associada à toxicodependência. Nas relações de risco, o uso ou não de preservativo, depende geralmente mais do querer do homem que da mulher.

Será que as “Mães de Bragança” deste País já fizeram testes ao HIV?

Culturalmente, penso que a mulher ainda é mais fiel dentro da relação que o homem e, não devem faltar neste País esposas e namoradas enganadas!

Biologicamente o corpo da mulher (e que corpos há!, muitas vezes sem qualquer correspondência ao estado saudável), permite a infecção com mais facilidade.

A mucosa vaginal, além de ter maior extensão é também mais fiável que a mucosa peniana. O esperma possui uma concentração de vírus superior aos fluídos vaginais. Não nos podemos esquecer das relações que acontecem durante o período menstrual o que também aumenta o risco.

Por estas razões a chamada de atenção do Prof. Dr. Meliço Silvestre no Dia mundial da SIDA, é para levar a sério agindo em conformidade, pois Portugal, infelizmente neste campo, ganha na Europa dos países desenvolvidos.

Miguel Resende

Miguel Resende é médico e assina esta coluna mensalmente

 


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