CRÓNICA
Marchar, marchar!

América quando poremos fim à guerra entre os homens?
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América no fim de contas tu e eu é que somos perfeitos não o outro mundo.
Alleen Ginsberg
Depois de tanta guerra em directo com os pormenores mais sórdidos, com tanto Carlos Fino, Nuno Rogeiro, Tenente - coronéis e até generais a opinar, a desenhar, a debitar para o povo, atónito, tudo quanto não necessita de saber, estive para não escrever esta crónica. Reflecti depois e achei melhor por algumas coisas no papel, que mais não seja para dizer o que é óbvio, mas que quase todos rodeiam e escamoteiam.
À luz do Direito Internacional, se algum sentido faz a sua evocação nos dias que correm, a guerra movida pela coligação (ler EUA) ao Iraque é deixemo-nos de eufemismos, um acto terrorista. E se tal acto é resposta aos atentados dos fundamentalistas islâmicos, isso não iliba aqueles que agora se intitulam salvadores do mundo civilizado, antes agrava a condenação de quem toma a mesma atitude que antes serviu para acusar.
Mais: o objectivo desta guerra é pelo petróleo e pelo domínio estratégico do médio oriente, à custa do povo palestiniano e iraquiano.
Entretanto, no linguajar de quem sabe muito de palavras com muitas consoantes e de estratégia militar, há a lamentar os danos colaterais, mais o fogo amigo (que frase esta!) os mortos e feridos civis, as crianças, as mulheres. É de lamentar, sim, que haja gente capaz de justificar tais meios.
Os generais são como os deuses: às vezes distraem-se e deixam-nos à deriva, à mercê do instinto preguiçoso que possuímos de nos auto flagelarmos sempre que entramos em becos sem saída Pensamos: não nos teremos enganado? Teremos entendido bem o itinerário?
Não apontamos o dedo nem a uns, nem a outros. Afinal de contas, assim como era no princípio, eles nunca se enganam.
Porém, emergiu um terceiro elemento na história, um tal W de seu enigmático nome e putativa voz universal, como se retirado da porta de uma sala de banho pública. Este veio a revelar-se suficientemente ignorante para ser notado por todos e ao mesmo tempo poderoso para outros se lhe juntarem, incluindo o nosso primeiro a esta hora despido já do seu eloquente disfarce de cherne para trajar a rigor de tubarão.
Ninguém saberá a ementa da vitória: não foi divulgada por motivos de segurança. Por isso as hostes mantêm o seu itinerário rectilíneo, com excepção das paragens inerentes à condição humana, até que as balas acabem ou não haja mais que destruir e ainda é tempo se saúdem de acordo com as respectivas praxes e se afastem progressivamente, com a cadência de que só os militares são capazes ainda que continuem sem saber por que afinal são inimigos.
Com o epílogo desta guerra sinto um misto de contentamento e de preocupação: contente por saber que o futuro pode ser daqui a um minuto; preocupado pela dúvida de saber se é este o futuro que desejo.
João de Sousa Teixeira
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