Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano VI    Nº62    Abril 2003

Cultura

GENTE & LIVROS

Fedor Mikailovitch Dostoievski

(...) «Assim, para reparar o meu erro, decidi informar-me a seu respeito da maneira mais pormenorizada possível. Como, porém, não conheço ninguém que me possa informar, será o senhor mesmo quem terá de me contar tudo, tudo até ao mais ínfimo pormenor. Portanto, diga-me: que espécie de homem é o senhor? Depressa, comece, conte a sua história!

- A minha história? - exclamei, assustado. - A minha história? Mas quem lhe disse que eu tinha uma história? Eu não tenho história...

- Então, como viveu até agora, se não tem história? - interrompeu-me, rindo-se.

- Tenho vivido absolutamente sem a mais pequena história! Tenho vivido, assim, como se costuma dizer, metido no meu buraco, isto é, só, absolutamente só, perfeitamente só...Compreende o que isto significa: só?

- Que entende por só? Quer com isso dizer que nunca vê ninguém?

- Não é isso! No que se refere a ver pessoas, vejo-as, mas no entanto, estou só.

- Então, nunca fala com ninguém?

- No sentido mais estrito da palavra: a ninguém.»

In Noites Brancas
Dostoievski

 

Fedor Mikailovitch Dostoievski nasceu em Sampetersburgo a 30 de Outubro de 1821 como o segundo de sete filhos do médico Mikail Andreevitch e de Maria Fedorovna. Aos 16 anos perde a mãe e aos 17 o pai envia-o para a Academia Militar de San Petersburgo, onde faz a graduação. Em 1839 o pai é assassinado pelos seus servidores. Aos 25 anos Dostoievski publica a sua primeira novela, Pobres Gentes, conquistando de imediato público. Uma Novela em Nove Cartas e as histórias Um Coração Débil, Polzunkov e Noites Brancas são publicadas em 1848. Em 1849 em Sampetersburgo Dostoievski integrava um grupo de jovens intelectuais que lia e debatia as teorias dos escritores franceses socialistas, na altura proibidos na Rússia dos czares. Vítima de denúncia todo o grupo foi preso. Dostoievski foi condenado à morte, mas a pena foi-lhe comutada por um exílio na Sibéria e serviço militar obrigatório. No fim de Janeiro de 1850 o escritor chega a Omsk para quatro anos de trabalhos forçados que se saldaram num sofrimento que o acompanhou por toda a vida. Em 1857 casa com Maria Dmitrievna Isaieva e regressa dois anos depois a Sampetersburgo onde retoma a sua carreira literária. Em parceria com o seu irmão Mikail lança uma publicação mensal, Tempo, e nela publica em capítulos A Memória da Casa dos Mortos e Humilhados e Ofendidos - 1861- obras que falam do seu exílio e das condições infra-humanas com que os prisioneiros se debatiam na Sibéria . Em 1862 conhece aquela que seria o grande amor de sua vida, Apolinaria Suslova, e faz a sua primeira viajem ao estrangeiro que fica retractada em Notas de Inverno sobre Impressões de Verão (1863). Em 1864 morria a sua mulher Dmitrievna e o seu irmão mais velho. Dostoievski estava na ruína. Em 1866 sai a sua novela O Jogador, baseado na sua própria paixão pela roleta. Para escrever este livro ele contrata os serviços de uma secretária, Anna Snitkina, com quem casava um ano depois. Com muitas dívidas, algumas contraídas no jogo, Dostoievski passa os anos seguintes fora do país para escapar aos credores. Atravessa um período de pobreza mas também de inspiração, finaliza Crime e Castigo (1866), que tinha começado a escrever na Rússia, escreve O Idiota (1868) e O Eterno Marido (1870). Autor de personagens sofredores e de enorme profundidade psicológica, Dostoievski regressa à Rússia em 1873 e o seu último livro, Os Irmãos Karamazov fica concluído pouco antes da sua morte, a 28 de Janeiro de 1881, na cidade onde nasceu. 

NOITES BRANCAS. O destino de dois jovens cruza-se em Sampetersburgo. Ele é um solitário que gosta de se passear pela multidão, ela encontra-se momentaneamente só, à espera daquele que foi o seu primeiro amor. Durante umas poucas noites estabelece-se entre eles uma relação baseada no diálogo e na confissão, com o acordo de não ultrapassarem a fronteira da amizade. Mas ambos sabem que a cruzaram e ficar juntos não é possível. São só Noites Brancas....

Eugénia Sousa
Florinda Baptista

 

 

 

Novidades

EUROPA-AMÉRICA. Lançou uma nova colecção, Biografias Essenciais de Deus, Buda, Dalai Lama, Freud, Marx e Shakespeare. Uma visão abrangente da história de Deus e das mais significativas religiões numa abordagem ao mesmo tempo teológica, política e científica. Quem foi Buda? Quais os ensinamentos do Budismo? Em que pressupostos radica e qual o seu enfoque histórico?

Conheça a fascinante personalidade daquele que se tornou líder espiritual de um povo aos 14 anos e que se encontra exilado do Tibete à mais de quarenta anos; «o pai da psicanálise», a sua vida e o trabalho que haveria de revolucionar para sempre o campo da psicologia; qual a visão de Marx sobre a sociedade até ao desenvolvimento da teoria comunista; quem foi e como viveu Shakespeare e porque foi proclamado como o maior dramaturgo de todos os tempos.

 

PIAGET. Três Ensaios Sobre o Cancioneiro Infanto-Juvenil de Alexandre Castanheira. O autor é professor jubilado do Instituto Piaget e integra uma equipa de Investigação do Cancioneiro Infanto-Juvenil para a Língua Portuguesa. Alexandre Castanheira tem por missão incentivar a produção de poesia junto das crianças e para isso tem percorrido jardins-de-infância, escolas básicas e secundárias em todo o país. O resultado desse trabalho é este belo livro. «Alexandre é seu nome/nome de poeta/poeta que inventa e vive/ vive como um Homem/Homem que escreve/escreve poemas/poemas que nos dão alegria.» - alunos do 3º ano de uma escola básica do Laranjeiro.

 

ASA. Isso Vai Sair no Teste? - Vozes, Ruídos e Múrmurios Numa Escola Secundária de Rui Trindade e Ariana Cosme. Ana é uma jovem bem comportada que frequenta o ensino secundário, por ela iremos conhecer os sonhos, anseios e relações com os amigos, «É, por isso, uma obra onde se sente o pulsar do coração. O pulsar dos corações das pessoas presas, mas que não desistem do voo».

 

GRADIVA. O Que É a Cultura de António José Saraiva «A última obra do autor, um testemunho vivo do saber e da lucidez que sempre o acompanharam, da vertente polémica ou mesmo provocatória da personalidade de António José Saraiva, estratégia para fomentar o inconformismo e o espírito crítico, para agitar e fazer sair do marasmo a cultura portuguesa:» - Leonor Curado Neves.

Eugénia Sousa

 

 

 

Educação às tiras

Desenho: Bruno Janeca
Argumento: Dinis Gardete


Visualização 800x600 - Internet Explorer 5.0 ou superior

©2002 RVJ Editores, Lda.  -  webmaster@rvj.pt