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Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano V    Nº55    Setembro 2002

Cultura

GENTE & LIVROS

Tahar Ben Jelloun

« - Cada caixote - acrescentou ela - contém um grande livro, um manuscrito de um autor anónimo onde a Nápoles de há muito tempo é contada. Há o caixote dos ladrões, o caixote de Deus, o caixote das putas, o caixote dos mentirosos e dos hipócritas, há o caixote do sono e dos sonhos, é incrível como os napolitanos sonham, felizmente esquecem-se, há o caixote das comidas e dos vinhos, há também um caixote que arquiva os bordéis clandestinos, e depois, se procurares bem, há o caixote da morte (...) há o caixote das promessas não cumpridas, acho que é o maior, em todo o caso é o mais pesado, há o caixote das doenças e das epidemias que grassaram em Nápoles no decorrer dos séculos, e depois há o melhor de tudo, um caixote vazio sem nada dentro, é o meu preferido, e ali, no chão, tenho um caderno para ti, folhas que vêm da pequena fábrica de papel de Amalfi, pega nele, deves enchê-lo, será o teu caderno, devolver-mo-ás cheio de histórias, que lerei, e se as achar boas faço com elas um livro que catalogarei na biblioteca, não na dos ratos mas na dos pobres.»

In O Albergue dos Pobres

 

Tahar Ben Jelloun nasceu em Fez (Marrocos) em 1944. Estuda Filosofia na Universidade de Rabat, edita dois livros de poesia e escreve sobre arte e cinema para a revista literária Souffles au Maroc. Em 1971 parte para Paris para realizar o doutoramento em Psiquiatria Social e termina-o dois anos depois com a tese « A Miséria Sexual do Imigrante Magrebino».O jornal Le Monde começa por publicar alguns trechos da sua tese, sob forma de crónica, passando depois Ben Jelloun a colaborar regularmente com artigos sobre literatura e cultura. Em 1976 Jelloun organiza uma antologia de poesia marroquina La Mémoire Future e granjeia o “papel de arauto” do imigrante magrebino em França, ponte entre o Oriente e Ocidente.

Sucedem-se os livros e os prémios; em 1976 com a colectânea de poemas Les Amandiers Sont Morts de Leurs Blessures ganha o Prix de L‘Amitie Franco-Árabe; La Nuit Sacrée, em 1987, consegue o Prémio Goncourt; O romance Jour de Silence à Tanger é prémio das Universidades Mediterrâneas e L‘Homme Rompu em 1994 é Prémio Literário du Grad/Magreb; o Ensaio Le Racisme Expliqué à Ma Fille, em 1998, recebe dois prémios italianos e ainda o First Global Tolerance Award, das Nações Unidas .L‘Aubergue des Pauvres é o vigésimo sexto livro de Ben Jelloun.

O escritor é membro do Conselho Superior da Língua Francesa desde 1989 e colaborador habitual do Le Monde mas tenta sempre demarcar as suas posições políticas publicadas na imprensa em ensaios e artigos da sua expressão literária: « a minha primeira demanda é de salvaguardar, independentemente do compromisso que possa ter com a vida, a expressão literária, de não a misturar com a ideologia ou os imperativos efémeros de ordem política.» 

O Albergue dos Pobres. Larbi Bennya ou Bidun (em árabe significa Sem) é um professor universitário com ambições literárias, desiludido com a carreira, o casamento, a vida e a sociedade marroquina. Um dia ganha um concurso literário e uma viagem para Nápoles, para escrever sobre a cidade. Aí encontra um lugar insólito, o albergue dos pobres, um lugar habitado por personagens cansados da vida com estórias para contar pela voz da “Velha” que é também a voz de Nápoles; do Bem e do Mal, da tolerância religiosa, da harmonia entre os seres e os povos, da mágoa, do desencanto e também do amor.

Eugénia Sousa
Florinda Baptista

 

 

 

Novidades

EUROPA-AMÉRICA. Tudo Sobre os Sonhos de Gayle Delaney é um verdadeiro manual sobre os sonhos. A autora numa linguagem objectiva e cativante aborda a importância dos sonhos para as sociedades humanas ao longo da história. Os intérpretes de sonhos do Egipto, o Talmude Babilónico, as crenças islamicas as tradições hindus, chinesas e católicas ocidentais, as concepções Aristótelicas e Freudianas sobre o sonho bem como um guia prático de interpretação dos nossos sonhos. «Um encontro mental produz um sonho. Um contacto corporal produz um acontecimento» Lie-tseu. Pegue neste livro.

 

ASA. Lutar para dar um Sentido à Vida- Pedagogia do Conto de Fadas, de Isabel Alves Costa e Filipa Baganha. Este livro é de outro reino, pertence ao reino da fantasia, onde as crianças gostam de morar, lugar de contos de fadas e histórias de encanto.
Qual a origem desses contos? Tem um papel na vida real? Ajuda na procura de um sentido? Depois de ler este livro as histórias não mais serão as mesmas.

 

MINERVA. O livro de poesia Ao Longo da Vida da escritora Alice Barroso teve o seu lançamento editoral este mês, pela Editorial Minerva. A coordenação da sessão e reflexão sobre a obra esteve a cargo de Ângelo Rodrigues. Júlio Roberto apresentou a obra e a autora. A selecção e leitura de alguns poemas de Alice Barroso foi da responsabilidade de António Barroso Cruz e a performance musical do maestro Francisco de Assis.

 

PIAGET. Crátilo de Platão «Ó Hermógenes, filho de Hipónico, há um antigo provérbio que diz que as coisas belas são difíceis, quando se trata de aprender; e a aprendizagem dos nomes não será com certeza coisa pequena» (384 a-b). A Sócrates e aos seus interlocutores cabe determinarem a origem dos nomes. São determinados pelo costume e a convenção entre os homens? ou cada um dos seres tem um nome que lhe pertence por natureza? 

 

GRADIVA. A Coisa mais Preciosa que Temos de Carlos Fiolhais. O físico Carlos Fiolhais reúne nesta obra um conjunto de textos sobre ciência e sobre o país: a produção do conhecimento científico, o seu ensino, o papel nas sociedades, a importância que a cultura científica tem e deveria ter em Portugal.

 

 

 

BOCAS DO GALINHEIRO

A outra face de Minnelli

“Deus Sabe Quanto Amei” (Some Came Running), uma obra prima do melodrama, voltou ao grande écran em cópia nova. Realizada em 1958 por Vincente Minnelli, cineasta mais recordado pelos seus musicais, é mais uma das suas incursões no género, onde se destacam, entre outros, “The Bad and The Beautiful” (Cativos do Mal,1952), um filme denso e crítico, “Tea and Sympathy” (Chá e Simpatia,1956), uma minuciosa exposição sobre a sensibilidade, “Home From The Hill” (A Herança da Carne,1960), um claro exemplo do melodrama familiar e “Two Weeks in Another Town” (Duas Semanas Noutra Cidade, 1963).

Nascido em Chicago em 1913, numa família de actores e bailarinos, aos 3 anos Vincente Minnelli já faz parte do “Minnelli Brothers Dramatic Tent Show”. Foi decorador, pintor e fotógrafo. Aos 17 anos está no Chicago Theatre de Balaben e Katz, como decorador e figurinista. Em 1933 vai para Nova Iorque para o New York Paramount Theatre onde inicia uma carreira fulgurante. Em 1934 já é encenador de êxito. “Ziegfield Follies” e “The Show is On”, de 1936 e “Hooray for What !”, de 37, são os seus primeiros êxitos na Broadway e o nascer de uma reputação que não mais perderia. No cinema inicia-se em 1937, na Paramount, como director artístico de “Artists and Models”, de Raoul Walsh. Foi sol de pouca dura. A experiência não foi gratificante. Teve que ser Arthur Freed, quem mais podia ser, a convencê-lo a rumar a Hollywood. Assim, em 1943 confia-lhe “Cabin in the Sky”(O Cantinho do Céu) a que se segue “Dood It”.

O ano seguinte, 1944, marca definitivamente a carreira de Minnelli no cinema. É o ano de “Meet Me in St. Louis” (Não Há Como a Nossa Casa). É o mais caro e ambicioso musical da Metro até então. Com a chancela de Freed. Claro. Daí para a frente já ninguém o pára. Musical onde toque é êxito certo. Enumerá-los seria fastidioso. Mas, não resistimos a referir “Ziegfield Follies” (As Mil Apoteoses de Ziegfield), de 1946, ou esse fabuloso “An American in Paris” (Um Americano em Paris). Perdeu o Oscar da realização para George Stevens, mas o filme levou oito estatuetas, incluindo a do melhor filme. Mas há mais. Há “Brigadoon” (A Lenda dos Beijos Perdidos), há “Gigi” e um largo etc.. Enfim, um senhor.

Mas, entre musicais e comédias, Minnelli foi realizando alguns melodramas. Claramente com menos reconhecimento do que o que teve noutros géneros, achamos. Apesar do inegável Minnelli touch. Porque o têm. Redutor em “Deus Sabe Quanto Amei”.

Quando Dave/Frank Sinatra, um soldado, candidato a escritor, chega à sua terrinha, levando atrás de si Ginny/Shirley MacLaine, uma prostituta que conhecera nos excessos de vapores etílicos em Chicago, mas que, à saída do autocarro passou a ser um fardo difícil de transportar no mundo conservador que afinal é o seu, sem querer que seja, começam aí as contradições que assolarão a meteórica passagem deste par pela cidade. Ele, dividido entre as suas ambições literárias e a professora de literatura, Gwen/Martha Hyer, um bom partido, com a sombra do irmão, bem instalado na vida, e Ginny, que tudo lhe dá sem nada pedir em troca, acabando por lhe dar tudo: a vida. É, jogando com estas contradições, sociais e pessoais, e fazendo uso extraordinário do cinemascope, que Minnelli nos vai mostrando um mundo em que os corpos estranhos, Ginny, Bama/Dean Martin, têm que ser “extraídos”, como se faz ao dente podre. Mas, nem tudo o que parece é. O irmão, Frank/ Arthur Kennedy, afinal não é o tão bom pai de tão bem instalada família, apanhado em flagrante, pela filha, no carro com a secretária. Nem ele a ditar cartas, nem ela a arrumar papéis.

Mas, no meio de tudo, estão as duas mulheres que disputam Dave. A professora, cheia de preconceitos, não aguenta o embate. A outra, MacLaine sem temor, porque ama, não hesita em reivindicar o seu homem à rival. Perdeu-o e voltou a ganhá-lo. Quando tudo parecia ter ido definitivamente por água abaixo, valia-lhe então Dean Martin, um profissional de cartas que por superstição nunca tira o chapéu, tem o seu homem de volta, para um casamento de pouca dura, she came running, desfeito a tiro por um antigo amante ciumento.

Nesta adaptação da novela de James Jones, Minnelli dá-lhe um tratamento de primeira, uma eficácia dramática a toda a prova, de que há a reter ainda a assombrosa interpretação de Shirley MacLaine.

Mas, “Deus Sabe Quanto Amei” destaca-se, porque é neste filme que Minnelli vai mais além do que o vulgar enfrentamento de personalidades opostas, fio condutor do melodrama, para atingir fundo aquele pequeno núcleo urbano, onde se enfrentam duas posturas opostas perante a vida: o respeito pelo socialmente correcto, ou viver a vida, correndo o risco de não ser aceite, mas ter a suprema alegria de ser feliz, ainda que tenha que fugir.

Luís Dinis da Rosa

 

 

 

DIPLOMA DE MÉRITO PARA A RVJ - EDITORES

Outrem apresenta Alertanatur

A Associação de Defesa do Ambiente e Património, Outrem, acaba de distinguir, com o seu diploma de mérito, a RVJ-Editores, proprietária do Ensino Magazine. A distinção ocorreu a 10 de setembro, numa cerimónia em que a Outrém entregou ainda diplomas à Câmara de Castelo Branco e Instituto Português da Juventude. Nos três casos, o diploma destinava-se a reconhecer o apoio que as três entidades concederam à Outrém nas suas acções de defesa do ambiente e património.

E como a actividade da Outrem não pára, na cerimónia que marcou os 13 anos de vida da associação, o seu presidente, José Carlos Moura, anunciou o lançamento do projecto Alertanatur, o qual pretende alertar a Câmara e outras entidades para problemas existentes em matéria ambiental, além de adiantar formas de os poder superar. Nesse sentido, a Associação conta com uma licenciada em Ambiente que fará o enquadramento de cada caso, a fim de enviar os processos à autarquia já com eventuais soluções para cada problema.

Aquele responsável considera ainda que, neste projecto, “o que se pretende é trabalhar em conjunto com os serviços da Câmara, a fim de melhorar a qualidade de vida de todas as pessoas. No fundo, são pequenas chamadas de atenção que até agora têm sido feitas duma forma menos integrada do que vai acontecer, dado que a nossa licenciada irá enquadrar os casos e proporá soluções”.

Na área das publicações, a Outrem vai lançar brevemente a obra “Sentinela da Cidade”, um livro que, de acordo com José Carlos Moura, “resultou dum estudo acerca dos aspectos socio-etnográficos do Bairro do Castelo, em Castelo Branco. Há muitas recolhas feitas acerca de histórias e tradições próprias do Bairro mais alto e mais antigo da cidade, e que agora são publicadas em livro para preservar a memória colectiva do bairro”
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