Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano V    Nº56    Outubro 2002

Politécnico

TIMORENSES FORMAM-SE EM BEJA

Novos enfermeiros

A Escola Superior de Enfermagem de Beja tornou-se há uma semana na “nova casa” de dois “caloiros” timorenses, os únicos estudantes de enfermagem do seu país em Portugal, cujo maior sonho é regressar com o diploma na mão. “Já formamos uma pequena família com os colegas e os professores. Os enfermeiros são iguais em todo o mundo”, garantiu à Agência Lusa António Boquifai, de 28 anos, perante o olhar atento do colega, Augusto de Deus, de 24 anos.

Chegados a Portugal há cerca de um ano, para estudar em Évora matéria básica de Português e de outras disciplinas necessárias ao curso que agora iniciam, os jovens timorenses afirmam-se orgulhosos de ter conseguido uma bolsa para fora do País.
“Já trabalhava na minha região (Ermera, próximo de Díli) como enfermeiro mas não era licenciado e, após a independência, quando surgiu a oportunidade de vir estudar para Portugal com bolsa, fiz os exames e consegui passar”, relata Augusto de Deus.
Percurso semelhante teve António, que residia e trabalhava num hospital do enclave de Oecusse, na parte ocidental da ilha de Timor. “Tínhamos a prática mas não a teoria. Os exames foram complicados mas acabámos por ser os únicos a entrar em Enfermagem”, disse.

Os olhos de António brilham quando recorda a experiência como enfermeiro, durante os tempos conturbados do fim do domínio indonésio, em que diz ter ganho especial afecto por doentes em fase terminal.

“Eu até era para ir para um seminário para ser padre, mas depois tive de desistir, porque economicamente era muito caro, e acabei em enfermagem”, acrescenta de seguida, como quem quer mudar de assunto, voltando a centrar-se na sua vinda para Beja.

Apesar de as aulas só agora terem começado, divididas com as brincadeiras de recepção aos caloiros de que são alvo por parte dos “veteranos”, estes dois jovens timorenses prometem trabalho extra para concluir o curso em quatro anos. “No início tudo parece muito difícil. Vamos trabalhar muito para conseguir o diploma”, afiança António, com um grande e confiante sorriso, corroborado por Augusto: “Vim para cá para estudar e é para isso que me vou esforçar. Acredito que os professores vão ajudar”.

Alojados na residência universitária do Instituto Politécnico de Beja (IPB), do qual a Escola Superior de Enfermagem faz parte, os estudantes encaram com agrado a colocação numa cidade de média dimensão, uma ajuda para esticar a bolsa que lhes é atribuída. “A nossa colocação dependeu das notas que tivemos e das vagas para o curso. O Governo colocou-nos em Beja e estamos muito contentes aqui”, frisou António.
Um pouco mais tímido do que o colega, Augusto começa a soltar as palavras em português, embora prefira olhar para as canetas com que se entretém a brincar, e refere a vantagem de não ter de gastar dinheiro em transportes (a residência, cantina e escola ficam no campus do IPB). “Está tudo perto e poupamos dinheiro”, argumenta, entreolhando-se com António e mostrando-se algo renitente quando questionado sobre se o montante da bolsa dá para os gastos.

“Estamos longe da família e, por vezes, é difícil sobreviver no dia-a-dia”, diz, com o ar embaraçado de quem não quer mostrar as fraquezas, enquanto António ajuda a completar a resposta: “Mas vamos ultrapassando os problemas. Não dá é para nos irmos divertir...”. O pior, asseguram quase em uníssono e com ar conformado os dois jovens, vestidos da mesma maneira, com camisas aos quadrados e calças de ganga, são as saudades de Timor e da família. “Timor fica muito distante. Falamos por telefone mas é muito caro e só dá para perguntar se está tudo bem”, lamenta Augusto.

A comida portuguesa, em especial a alentejana, constitui uma autêntica dor de cabeça para os dois estudantes timorenses, que todos os dias almoçam e jantam na cantina do IPB sem ainda se terem habituado às diferenças gastronómicas entre os dois países. “A comida é muito diferente. Estamos habituados e comer tudo com arroz e aqui é só batata frita, batata cozida...”, atreve-se a criticar António, acrescentando: “Não consigo mesmo comer é lulas. Vocês têm pratos muito fortes”.

O riso instala-se novamente e Augusto não resiste a acrescentar que uma das melhores iguarias alentejanas, a famosa sopa de cação, não lhe caiu em graça. “Não gosto nada, nada. Feijoada é que sim”, afirma, com ar bem disposto, enquanto dá também nota positiva ao café português: “É bom, muito bom”.

Brincadeiras à parte, os jovens enfermeiros têm aproveitado o tempo em Portugal para comparar também as diferenças entre os cuidados de Saúde prestados aqui e em Timor, realçando o atraso com que o seu país ainda se debate nesta área. “Enquanto estávamos integrados na Indonésia havia facilidade em garantir medicamentos e transporte dos doentes para o interior. Depois da independência passou a ser mais difícil”, explica Augusto, frisando que, contudo, “os sacrifícios valem a pena porque agora somos (timorenses) livres”.

Conscientes da carência que o seu país tem de profissionais licenciados e formados, Augusto e António esperam poder fazer parte do “puzzle” de reconstrução do território e anseiam pelo dia do regresso, embora alimentem objectivos de trabalho diferentes. “Gostava de voltar para Timor para dar aulas de enfermagem. Assim não esquecia o que aprendi aqui”, argumentou Augusto, interrompido pelo comentário de António: “Ele é muito doido da cabeça! Eu não. Gostava era de regressar ao hospital onde comecei como enfermeiro. Mas vou para onde o Governo me colocar”, disse.

Rita Ranhola
(Agência Lusa - Beja)

 

 

 

NO TEATRO VIRIATO

Vá para fora cá dentro

O Teatro Viriato, em Viseu, vai ser palco da estreia absoluta do espectáculo Vá para fora cá dentro, o qual conta com o bailarino Romulus Neagu e que se realiza nos dias 1 e 2 de Novembro a partir das 21h30. Romulus Neagu nasceu em Bucareste em 1973, tendo feito a sua formação nessa cidade. Entre 1989 e 1990 trabalhou no Teatro Lirico (Craiova Romania). Entre 1991 e 1996 trabalhou na Ópera Nacional de Bucareste, passando seguidamente pela Orion Ballet Company também na mesma cidade e pela Ventura Dance Company, Zurich.

Das suas criações coreográficas daquele bailarino da Companhia Paulo Ribeiro destaca-se o poema “Manole”, a miniatura coreográfica “Fabulations” e o solo “Remember” (1995); entre outras. Recebeu ainda, enquanto coreógrafo e intérprete, diversos prémios na Roménia. Destaca ainda a sua residência em Portugal organizada pelo Forum Dança em 1998, para preparação da obra “The Rite of Spring”.

Em Março de 2001, criou, no seguimento de um workshop com amadores, no Teatro Viriato, “Absolutamente... trabalho em progresso”, e em Fevereiro de 2002 criou “Calusarii”, apresentado no Museu da EDP (Feira de S. Mateus), em Viseu, com o apoio do Programa Polis. Desenvolve desde 2000 uma actividade regular de formação na área da dança no Teatro Viriato. Trabalha com a Companhia Paulo Ribeiro desde 1999.

CONTRADICIONAIS. O Teatro Viriato vai organizar o Ciclo Contradicionais entre 8 e 30 de Novembro, o qual conta com espectáculos de música, teatro, dança, conferência temática e exposição de fotografia. Assim, de 8 de Novembro a 22 de dezembro estará patente ao público no foyer a exposição de fotografia Dança do Existir, uma retrospectiva do trabalho de Vera Mantero.

Nos dias 8 e 9 de Novembro haverá música feita a partir de instrumentos elaborados com materiais reciclados, um espectáculo LixoLuxo Poético, o qual está a cargo de João Ricardo e Barros Oliveira. A 12 de Novembro, às 18 horas, com entrada gratuita, decorre uma conferência sobre “O corpo e a Identidade”, na qual estarão presentes Eduardo Prado Coelho, José Bragança de Miranda e Paulo Cunha Silva.

Nos dias 15 e 16 de Novembro, às 21h30, também haverá entrada gratuita para assistir ao espectáculo solos de dança irreverentes, a cargo de Vera Mantero e João Fiadeiro. A 22 e 23 decorre o fantástico concurso de televisão Cubos de gelo, um espectáculo destinado a maiores de 12 anos, e que tem início às 21h30. Finalmente, nos dias 29 e 30 de Novembro será apresentado o espectáculo Transfer, a partir das 21h30, o qual se destina a maiores de 12 anos
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JOVEM DE VISEU GANHA PRÉMIO

Craque em Física

O estudante português Pedro Braz obteve uma das cinco medalhas de ouro atribuídas nas Olimpíadas Ibero-americanas de Física de 2002, que decorreram em Antigua (Guatemala), e nas quais participaram delegações de quinze países, num total de 50 estudantes inscritos.

Actualmente com 18 anos, aquele estudante concluiu o 12º ano na Escola Secundária Alves Martins, em Viseu, e ingressou na Licenciatura de Engenharia Electrónica e de Telecomunicações da Universidade de Aveiro. Desde sempre fascinado pela Física, sobretudo pelas suas aplicações práticas, obteve 20 valores no exame de Física do 12º ano mas, na altura de escolher um curso superior, não optou pela Física, por preferir “algo com mais saídas profissionais”.

A Olimpíada Ibero-americana de Física é uma competição anual entre jovens não universitários dos países ibero-americanos, em torno da resolução de problemas de Física com graus de dificuldade superiores aos exigidos no ensino secundário.

A competição é composta por duas provas, uma teórica, com um valor de 60 por cento, e outra prática (40 por cento), em que é apresentada aos alunos uma montagem experimental, tendo os estudantes de realizar determinadas medidas e analisar como se relacionam umas com as outras, através de fórmulas matemáticas realizadas mentalmente na altura.

“Esta foi a melhor classificação de sempre obtida por um aluno português”, sublinhou, em declarações à Agência Lusa, Manuel Fiolhais, um dos dois professores do Departamento de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra que chefiaram a delegação portuguesa.

No entanto, realçou, estas olimpíadas regionais apresentam um grau de dificuldade inferior às olimpíadas internacionais, que decorreram em Julho, na Indonésia, e onde Portugal não obteve qualquer medalha. “As olimpíadas Ibero-americanas são mais compatíveis com o que os estudantes destes países aprendem no ensino secundário”, explicou, realçando que a classificação necessária para obter as medalhas é variável e fixada pela média dos melhores.

Por exemplo, a medalha de ouro é atribuída aos alunos que obtiveram 90 por cento ou mais da classificação determinada pela média dos três melhores. Além do português Pedro Braz, foram distinguidos com a medalha de ouro três cubanos e um brasileiro.

Os outros três participantes portugueses foram Luís Pedrosa, do Colégio Marista de Carcavelos, que obteve uma medalha de bronze, Mariana Cardoso, da Escola Secundária Prof. Herculano Carvalho (Lisboa), que obteve uma menção honrosa, e Gael Oliveira, da Escola Secundária Joaquim Carvalho (Figueira da Foz). A selecção e preparação dos jovens portugueses presentes nas Olimpíadas de Física Ibero-americanas é da responsabilidade da Sociedade Portuguesa de Física e tem contado com o apoio do Programa “Ciência Viva”
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