Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano V    Nº56    Outubro 2002

Editorial


Sinais do mercado

Para saber qual o sentido que deve ser imprimido à evolução do Ensino Superior... revela-se necessário estar atento aos sinais do mercado. Para compreender a real crise que atravessa o Ensino Superior... revela-se necessário estar atento aos sinais do mercado.

Infelizmente muitas instituições universitárias e politécnicas não perceberam atempadamente os novos desafios que décadas de laxismo de políticas educativas voluntaristas lhes colocavam. Infelizmente muitas dessas instituições ainda persistem em não querer ver o óbvio, ou seja, que a evolução das leis do mercado e das regras da empregabilidade desacreditaram e tornaram obsoletas muitos currículos de formação, sem que os responsáveis dessas instituições tenham dado um qualquer passo para ultrapassar esse obstáculo.

Depois... Bom, depois o resultado está à vista. Num recente estudo publicado pelo Diário de Notícias/Negócios, e trabalhado a partir de dados fornecidos pelo Departamento de Estatística do Trabalho, Emprego e Formação Profissional, concluía-se que, em Portugal, os empresários continuam a empregar poucos licenciados, já que a totalidade do sector privado apenas absorvia cerca de sete por cento dos diplomados certificados pelas diferentes instituições de Ensino Superior.

Segundo esta informação veiculada pelos empregadores ao Ministério do Trabalho, o peso dos trabalhadores com habilitações superiores aumenta à medida que cresce a dimensão da empresa, sendo que, mesmo assim, nas empresas que registam mais de quinhentos funcionários, apenas dez por cento são portadores de cursos superiores.

Os mesmos dados revelam, ainda que há mais licenciados entre os trabalhadores com menos de 34 anos (8,1%), reduzindo-se a percentagem para os 4,9% nos empregados com mais de 55 anos de idade.

Em termos de procura, e ao contrário do que por vezes temos lido e ouvido, são as licenciaturas na área ciências sociais, da gestão e marketing comercial e das ciências jurídicas que maior peso mantêm no emprego privado (46,8%), seguindo-se as engenharias, as industrias transformadoras e a construção (28,9%).

Num país de características marcadamente macrocéfalas não admira que seja o distrito de Lisboa que absorve grande parte desses licenciados, com 19% das empresas a registarem pelo menos um diplomado nos seus quadros de pessoal, seguindo-se Aveiro, Porto e Coimbra.

Note-se, ainda, que entre 1991 e 1999 o aumento do número de licenciados foi mais significativo entre mulheres, que passaram de 2,6% para 7,3%, enquanto que nos homens esse crescimento apenas se situou entre os 3,4% e os 6,9%. O sector financeiro tem 24,6% dos seus trabalhadores licenciados, contra apenas 1,4% no alojamento e na restauração e 3,4% na construção.

O estudo também revela que existe uma clara relação, directa e proporcional, entre as habilitações dos trabalhadores por conta de outrem das empresas privadas e as remunerações auferidas por estes. Nestas, são os licenciados quem mais ganha, em média 1773,20 euros, contra os 488,50 pagos aos trabalhadores com grau de ensino inferior ao básico. Os trabalhadores com o bacharelato auferem vencimentos médios da ordem dos 1279,20 euros, enquanto que os que têm cursos de escolas profissionais se ficam pelos 1074,50 euros, sendo que os que ficam apenas com o secundário auferem, em média, 827,10 euros.

Infeliz sinal dos tempos é ainda o facto de as mulheres licenciadas receberem menos trinta por cento que os homens, sendo que essa diferença é superior do que entre os trabalhadores não qualificados.

Os números valem o que valem. Mas são indicadores interessantes sempre e quando alguém tem que projectar ou protagonizar a mudança. Para quem prefira o imobilismo ou a resistência à evolução tanto faz. Mais dado, menos dado, pouco importa no mundo das (in)certezas absolutas. Sobretudo quando se está desatento aos sinais (tão claros!) do mercado.

João Ruivo
ruivo@rvj.pt

 


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