Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano V    Nº56    Outubro 2002

Dossier

VALTER LEMOS, PRESIDENTE DO POLITÉCNICO DE CASTELO BRANCO

Uma instituição de referência

Vinte e dois anos após a sua criação, o Instituto Politécnico de Castelo Branco é uma instituição de referência na Região e no País. Pelo menos é assim que Valter Lemos, presidente daquele organismo, a considera. Com cerca de 5000 alunos, o Politécnico de Castelo Branco já percorreu “uma longa caminhada. Temos tido um caminho ascendente. O Instituto cresceu em todos os sentidos, quer físicos, quer em número de alunos e de cursos, equipamentos e instalações. Mas cresceu também em maturidade e na capacidade de intervenção na Região, através de outras ligações a empresas e entidades”, começa por referir Valter Lemos.

O sucesso alcançado pelo Instituto traz, no entender daquele responsável, aspectos menos positivos como “invejas e dificuldades de relação, o que é natural que também aconteça, pois são as chamadas borbulhas de crescimento”. De qualquer modo, Valter Lemos está satisfeito com o crescimento da instituição teve. “Quando tomei posse, pela primeira vez, há seis anos, as palavras de ordem eram no sentido de aumentar o número de escolas, o número de cursos, criar licenciaturas e chegar aos 5000 alunos, entre outros. Os objectivos traçados foram alcançados com muita persistência, não só por mim, mas pela própria instituição. Ou seja cumprimos claramente essa missão”.

Numa época em que há mais vagas no ensino superior do que candidatos, Valter Lemos frisa que o Politécnico entrou noutra fase. “Estamos a entrar num período de estabilização”. Uma estabilização que há alguns anos atrás já era previsível. “Por isso fizemos um esforço de crescimento, para que quando atingíssemos esta fase a alcançássemos num patamar suficientemente bom, para manter a densidade suficiente, de forma a que a Instituição se mantivesse a funcionar com muita qualidade. O que foi feito”. Em matéria de qualidade, Valter Lemos sublinha também o papel do corpo docente que também melhorou as suas qualificações. “O caminho que se fez nos últimos anos nessa matéria foi notável. Neste momento temos 10 vezes mais doutorados e em fase de conclusão temos mais umas dezenas, isto para não falar em mestres, cujo número ascende a mais de 100. Aspectos que também fazem parte do crescimento da instituição”.

Apesar da época ser de crise, o presidente do Instituto sublinha o facto do “Politécnico ainda não ter começado a decrescer em número de alunos, entrámos isso sim num período de estabilização”. Aquele responsável salienta as apostas efectuadas, este ano, nas escolas superiores de Gestão e Agrária, com a abertura dos cursos de Marketing, Recursos Humanos e Engenharia Biológica e Alimentar, respectivamente. Uma aposta que se veio a revelar positiva. Outro aspecto que contribui para a estabilização do Politécnico diz respeito “ao facto de se terem aumentado o número de estudantes nas escolas mais recentes, que agora estão a crescer”. 

O futuro do Politécnico passa também por alterar alguma oferta formativa, ajustando-a às novas realidades, como este ano foi feito nas superiores de Gestão e Agrária. Esses novos cursos fizeram com que as duas instituições voltassem a recuperar alunos, quando no ano anterior os tinham perdido”. De qualquer modo, Valter Lemos não esconde que existem alguns problemas em cursos da Superior de Educação e da Tecnologia. “Os cursos de Português/Francês e Português/Inglês, assim como o de engenharia Industrial estão identificados como áreas onde há menos procura. Mas esses dados não são exclusivos de Castelo Branco, mas sim de todo o País”.

 

 

 

PRESIDENTE DO POLITÉCNICO EXIGE

Medidas para o Interior

O presidente do Instituto Politécnico de Castelo Branco considera que devem ser tomadas medidas que apoiem o Interior do País. Numa altura em que o número de candidatos ao ensino superior diminuiu, o que deixa muitas vagas do mercado por preencher, Valter Lemos considera que, “o Interior é sempre prejudicado. É preciso reajustar a rede de ensino superior e isso tem que ser feito à custa das grandes instituições do litoral. Esta é uma questão essencialmente política”.

Aquele responsável exemplifica: “neste momento há vagas a mais. Logo, essas vagas deveriam ser fechadas, mas preferencialmente em Lisboa e no Porto. Isto porque o efeito dessa diminuição em instituições muito grandes quase não sente. E também porque é preciso pensar-se em termos de política de coesão nacional. O ensino superior politécnico e as universidades do interior foram criadas como instrumento fundamental para implementar essa política. Neste momento esse investimento está a dar os seus frutos – e veja-se o progresso que o interior do País teve nos últimos anos -, só que arriscamo-nos a andar para trás e a recuar muitos anos”.

A tese de Valter Lemos assenta na ideia de que entre a escolha do ensino superior no litoral ou no interior, independentemente da sua qualidade, a escolha recai, na maioria dos casos pelo litoral. “O interior do País não tem jovens suficientes para as suas próprias instituições, pelo que tem que os importar do litoral. E assim fica a questão: qual é o jovem de Lisboa que quer vir estudar para Castelo Branco, ou para outra instituição do interior do país, quando tem o curso que pretende ali ao lado? Como não temos capacidade de atracção sobre o litoral, a única maneira de resolver o problema é ter-se uma política de intervenção na rede educativa, que permita provocar uma diminuição do número de vagas no litoral, mantendo as que existem no Interior ou até aumentá-las”.

Os receios de Valter Lemos sobre aquela matéria são muitos, até porque como afirma as instituições superiores do interior do País constituem um forte trunfo no desenvolvimento das regiões onde estão implementadas, diminuindo as assimetrias que existem entre o interior do País e o Litoral. “Vamos aguardar para saber qual a política da rede de ensino superior para o próximo ano. Têm existido alguns balões de oxigénio, como com a medicina na UBI, mas essa não é a solução, porque esses balões não duram sempre”. Com a intenção de encerramento de alguns cursos pelo Ministério da Ciência e do Ensino Superior, Valter Lemos considera que o Interior não deve ser prejudicado. “Suponhamos que o ministério chega à conclusão que só é rentável ter três ou quatro cursos nas áreas da formação de professores e de algumas engenharias. O que seria justo é que esses cursos se mantivessem no interior do País e em instituições de referência no Litoral”.

Caso essa política não venha a ser implementada, o presidente do Politécnico de Castelo Branco não tem dúvidas que as instituições de ensino superior do Interior do País vão perder alunos. “O Interior só consegue alterar este desequilíbrio quando tem ao seu lado uma intervenção política determinada. Caso contrário, o desequilíbrio é muito grande”. Numa altura em que a palavra de ordem de Governo parece ser a de racionalizar custos e meios, Valter Lemos recorda que o “interior deve sempre desconfiar dessa política, pois normalmente quando se fala em racionalizar é para dar menos meios ao interior. Assim, as instituições do interior devem defender a lógica de não querer perder nada, pois é injusto perder o que quer que seja. E essa tal racionalização já se verifica no Piddac, onde as instituições de ensino superior quase que ficaram sem verbas. Mas em contrapartida os grandes investimentos do litoral mantêm-se todos, quando alguns deles sozinhos valem mais do que os das instituições do ensino superior do interior todos juntos”.

 

 

 

UM SÓ SISTEMA?

Universidade Politécnica

A alteração de designação de Instituto Politécnico de Castelo Branco para Universidade Politécnica continua a ser analisada. Para já, Pedro Lynce, fez saber que não concorda com o sistema binário de ensino superior (universidades versus politécnicos). “Agora resta saber como é que esse sistema irá acabar. A nossa opinião, aprovada pela instituição passa por definir que a natureza politécnica não é dada pela instituição, mas sim pelos cursos. Nesse sentido não há lógica em fazer-se distinção entre politécnicos e universidades. Por isso, entendo que a partir de determinado patamar todas as instituições são universidades, pois promovem a universalização do saber nos seus vários sentidos”, explica Valter Lemos.

O presidente do Politécnico recorda que na maioria dos países o que acontece “é que se designam por universidades aquelas instituições que detém vários ramos do saber, ou seja várias escolas. Já os institutos destinam-se, apenas, a um ramo do saber”. No caso concreto de Castelo Branco, Valter Lemos explica o facto de ter solicitado a designação de Universidade Politécnica. “Universidade porque possibilita essa universalização do saber. E politécnica porque organiza a sua formação no sentido de preparar os seus formandos para a vida activa”.

 

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