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Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano V    Nº57   Novembro 2002

Cultura

GENTE & LIVROS

Antonio Tabucchi

«Assassinado um jornalista. Depois mudou de linha e começou a escrever: «Chamava-se Francisco Monteiro Rossi, era de origem italiana. Colaborava no nosso jornal com artigos necrológios. Escreveu vários textos sobre grandes escritores da nossa época, como Maiakovski, Marinetti, D‘Annunzio, García Lorca. Os artigos não foram ainda publicados, mas talvez o sejam um dia. Era um rapaz alegre, que amava a vida e que todavia fora encarregado de escrever sobre a morte, tarefa a que não se furtou. E esta noite a morte veio procurá-lo. Ontem à noite, quando jantava em casa do director da página cultural do «Lisboa», o doutor Pereira, que escreve este artigo, três homens armados irromperam pela casa dentro. Declararam pertencer à polícia política, mas não mostraram nenhum documento que o confirmasse (...) Estava apaixonado por uma bonita e doce rapariga cujo nome desconhecemos. Apenas sabemos que tinha o cabelo dourado e que amava a cultura. A esta rapariga, caso nos esteja a ler, apresentamos os nossos mais sinceros sentimentos e a nossa afectuosa saudação.

Pereira mudou de linha e em baixo, à direita, pôs o seu nome: Pereira.»

In Afirma Pereira

 

Antonio Tabucchi nasceu em 1943, em Vecchiano (Pisa). Foi professor de Literatura Portuguesa na Universidade de Génova e director do Instituto Italiano de Lisboa, onde viveu alguns anos. Antonio Tabucchi é um dos melhores especialistas em Fernando Pessoa, acabou por traduzir e dirigir a edição italiana da obra do autor português. Escreveu ensaios sobre Pessoa e publicou uma antologia de poesia surrealista portuguesa. O escritor divide a sua vida entre Portugal e a Itália e é membro fundador do Parlamento Internacional dos Escritores. Antonio Tabucchi já ganhou vários prémios literários o Médicis Etranger em 1987 com a obra Nocturno Indiano; O Pen Club em 1992; o prémio Via Reggio e Campiello, em 1994 com Pequenos Equívocos sem Importância; e o prémio Jean Monet em 1995.

Da sua bibliografia constam os títulos: O Jogo do Reverso (1981) A Mulher de Porto Pim (1983) Nocturno Indiano (1984) Pequenos Equívocos sem Importância (1985) O Fio do Horizonte (1986) Os Voláteis do Beato Angélico (1987) Chamam ao Telefone o Senhor Pirandello (1988) Tentações (1989) O Anjo Negro (1991) Requiem (1992) Sonhos de Sonhos (1992) Afirma Pereira (1994), Os Últimos três Dias de Fernando Pessoa (1994) A Cabeça Perdida de Damasceno Monteiro (1999). Afirma Pereira foi adaptado ao cinema em 1996 numa realização do italiano Roberto Faenza com Mastroianni no principal papel.

 

Afirma Pereira. Pereira trabalha como jornalista na página cultural de um jornal de Lisboa, no Portugal de Salazar numa Europa “vergada” por ditaduras. Mas Pereira mantêm-se à margem de políticas vive no seu mundo de escritores, limonadas e longas conversas com o retrato da mulher já falecida. Há já muito tempo que uma ideia o acompanha, a da sua própria morte. Quando decide contratar um ajudante para escrever o necrológio de escritores falecidos, Pereira conhece Francisco Monteiro Rossi. Rossi é um jovem que escreve sobre a morte mas ama a vida e a liberdade, um antifascista que levará o solitário jornalista a mudar a sua atitude perante o mundo e a intervir.

Eugénia Sousa
Florinda Baptista

 

 

 

Novidades

ASA. Uma Pedagogia da Libertação – Crónica Sentimental De Uma Experiência de Miguel A. Santos Guerra. «Este não é um livro científico. Trata-se de um livro sobre organização. Não há aqui teorias, mas antes vivências, não há alunos apenas papel, mas sim personagens de carne e osso que hoje em dia continuam a tentar subir a íngreme e tortuosa escada do pretensiosamente chamado “sistema educativo”. Este livro não trata de aulas quiméricas, mas de espaços reais.»

 

EUROPA-AMÉRICA. Nunca Diremos Quem Sois é o último romance de Urbano Tavares Rodrigues numa edição comemorativa dos 50 anos de carreira literária do escritor: “Neste livro, que me serviu de ligação à vida, pus ideias e personagens, amores, avisos e horrores, o dramático e o burlesco, a poesia que há na natureza e nas coisas que vemos e tocamos, no belo e no feio, e que só a palavra pode desencantar”.

 

 

 

BOCAS DO GALINHEIRO

Que viva o cinema

A 19 de Janeiro de 1955, pelas 21 horas, o Cine-Clube de Castelo Branco, em organização, levava a cabo a 1ª sessão no então, novo em folha, Cine-Teatro Avenida.O filme escolhido, francês, foi “Deus Precisa dos Homens” (Dieu a Besoin des Hommes), de Jean Delannoy, de 1950, galardoado com prémios da “Bienal de Veneza” e do “Office Catholique Internacional du Cinema”. Um êxito, atento o que se escreveu no nº1 do boletim do clube: “ a 1ª Sessão decorreu, como é do conhecimento do todos os associados, num ambiente de simpatia e interesse, sintoma de melhores dias e de cabal realização das finalidades que presidem a um Cine-Clube”.

Já numa folha que correu na cidade na altura, se podia ler: “todos conhecem a importância do Cinema na vida moderna. Poderoso meio de expressão e divulgação, desempenha, tal como a literatura, um papel primacial na elevação do nível cultural e artístico dos povos. Reconhecido o seu valor, brotaram por esse mundo fora milhares de associações de espectadores chamados ‘Cine-Clubes’. No nosso país esse movimento está lançado. O Cine-Clube de Castelo Branco, graças à boas vontade e compreensão da Empresa do nosso Cinema, dará a sua 1ª Sessão em 19 de Janeiro de 1955. Inscrevendo-se como sócio, e só assim, poderá rever os melhores filmes que ‘passaram na onda’, tomar contacto com os melhores críticos mundiais, escolas e estilos cinematográficos, o que lhe proporcionará uma melhor compreensão da evolução do cinema, da sua estética, etc.”

Homens como Armindo Ramos, Vasco Silva, Mário Barreto, Amado Estriga, Carlos Costa ou Dias Castanheira, com o apoio “logístico” de José Sérgio Feijão, da Livraria Feijão, uma vaga memória para a nossa geração, mas marcante para a destes pioneiros, onde eram recebidas inscrições e o pagamento da cota, mensal de 7$50!, de Tomás Mendes, um dos donos do Cine-Teatro Avenida, e, anote-se, de João Carlos Abrunhosa, que deu a mobília para equipar a sede, que contra ventos e marés, se lançaram nessa aventura chamada associativismo,nos tempos que corriam, conotado com “os do contra”, uns com fama, no caso seguramente também com o proveito. Obviamente, um termo muito acarinhado e perigoso à época, não durou, muito. E foi pena.

Agora, mais de 46 anos volvidos, depois de um pequeno ensaio que foi a secção de cinema da Associação Cultural Amato Lusitano, outro grupo de “suspeitos do costume”, lançou mãos à obra e esta fez-se. O Cine Cidade – Clube de Cinema de Castelo Branco, depois de alguns percalços de pequena monta, levou a cabo nos passados dias 14, 16 e 17 o 1º Ciclo de Cinema, que fica a marcar a abertura das actividades do clube.

Com o objectivo de abarcar um leque o mais alargado possível de cinematografias, iniciou-se o ciclo com “Dançando em Lughnasa”, de Pat O’Connor, um filme irlandês. Numa amostra daquilo que será outra das vertentes das futuras sessões, passou um clássico do cinema americano dos anos 50, “A Águia Voa ao Sol”, de John Ford e a encerrar, de novo o cinema europeu, mas num registo completamente diferente, “Gato Preto Gato Branco”, de Emir Kusturica, tal como o primeiro, de 1998.

A adesão do público foi excelente. Podíamos aqui repetir o que foi escrito em 1955, aquando da 1ª Sessão do Cine-Clube. Quase três centenas de pessoas passaram nos três dias pelo renovado Cine-Teatro Avenida. Pensamos que foi um bom prenúncio para o que poderão ser as exibições regulares que, estamos em querer, se iniciarão em Janeiro do próximo ano.

Se em 1955 não foi difícil contar com “a boa vontade e a compreensão de Empresa do nosso Cinema”, mais fácil será hoje, uma vez que aquele equipamento é propriedade da Câmara Municipal de Castelo Branco, obter da edilidade um dia por semana para que o Cine Cidade possa dar aos seus associados e à população em geral, as sessões são abertas, cinema de qualidade e com regularidade. Porque, só com regularidade se podem criar hábitos de fruição cultural. Se foi possível há quase 50 anos, fica mal a todos, deitarmos fora esta oportunidade!

Agora, mãos à obra. Há que alargar o número de associados, e acima de tudo, acarinhar e apoiar este projecto que só enobrece a cidade que o acolhe.

E, que viva o cinema!

Luís Dinis da Rosa
com Joaquim Cabeças

 


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