Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano V    Nº49    Março 2002

Editorial


Castigo & Disciplina

Há bons e maus motivos para que a escola seja notícia. Infelizmente para educadores, alunos e pais são sempre as notícias mais negativas que ocupam as primeiras páginas dos jornais e o destaque das rádios e televisões. Particularmente, nas últimas semanas, o problema da violência nas escolas tem merecido abundantes abordagens, esquecendo, quase todas elas, que a violência se previne todos os dias, e que é um fenómeno demasiado complexo para ser apenas enfrentado pelos professores.

Em verdade seja dito que estes pouca ou nenhuma preparação recebem nas escolas de formação para enfrentar este problema. E, acrescente-se, que os investigadores e os teóricos da educação pouco ou nada têm produzido sobre esta temática.

Daí que seja de salientar a edição de uma obra, de rara qualidade, dedicada à abordagem da disciplina e do castigo na educação. Referimo-nos ao livro, dado à estampa pela Amarú Ediciones, intitulado “Del Castigo a la Disciplina Positiva – Más allá de la Violencia en la Educación”.

Os autores, Juan Castro Posada (Catedrático de Psicologia na Universidade Pontifícia de Salamanca), e João dos Santos Pires, (Professor da Escola Superior de Saúde de Castelo Branco), prestam, com a divulgação deste estudo, um inegável serviço à comunidade educativa e aos professores e educadores em particular, pelo que aconselhamos vivamente a sua leitura.

A obra chama a atenção para o facto de os docentes se sentirem impreparados e indefesos perante as manifestações de violência, sobretudo quando a sociedade os considera responsáveis da erradicação de um problema que eles não geraram, nem directa, nem indirectamente. Daí que aposte na divulgação de mecanismos preventivos das condutas marginais, através da criação de uma cultura de anti-violência, baseada na aplicação da “disciplina positiva”.

O livro está estruturado em três partes. Na primeira, aborda-se o fenómeno da “cultura da violência”, propondo-se uma série de conceitos sobre a sua origem, suas formas, seus efeitos, a enumeração dos factores que a predizem, bem como o enunciado das características dos agentes e das vítimas desses actos.

Na segunda parte, analisa-se a oportunidade e a necessidade de mudança. Mudança do paradigma educativo que tem abordado os problemas da indisciplina e dos comportamentos desviantes. Mudança das formas de encarar o castigo, a que se anexa uma legítima fundamentação teórica de um conjunto interessante de propostas concretas, a desenvolver nos capítulos seguintes.

Finalmente, na terceira parte, descreve-se a dinâmica da “cultura da disciplina positiva”, enquanto constituinte de uma “cultura anti-violência” e como fundamento e prevenção dos comportamentos desviantes. Recomenda-se claramente a leitura desta parte, sobretudo aquando a abordagem do conceito de disciplina positiva e dos relatos e testemunhos considerados em contexto.

Os autores estão convencidos que se quisermos ajudar os nossos alunos a desenvolver formas de auto-controle face às diferentes manifestações de violência que se foram mansamente introduzindo nas escolas e nos lares, temos que, em primeiro lugar, ajudar os pais, os educadores e os alunos a compreenderem a importância dos dois pilares básicos sobre os quais assenta a cultura da anti-violência: o auto-controle e a auto-estima, enquanto bases da capacitação para enfrentar os desafios da indisciplina, com elevadas doses de “poder interno” e “dinâmica vital”.

E enfrentar este dilemático problema educativo tem que presumir, da parte de cada educador, a vontade de procurar a informação e a formação adicional que o ajude a superar as situações problema que o exercício da profissão lhe vá colocando. Assim como se exige dos responsáveis políticos e administrativos a adequação do quadro legal às novas circunstâncias que, todos os dias emergem nas nossas escolas.

Neste contexto Juan Castro Posada e João Pires estão no rumo certo, já que acabam de contribuir positivamente para o desenvolvimento da educação, num domínio em que são ainda raros os que se atrevem a investigar e a produzir opinião sustentada.

João Ruivo
ruivo@rvj.pt

 


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