Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano V    Nº52    Junho 2002

Entrevista

GONÇALO SANTOS, ALUNO DA EST DE CASTELO BRANCO

Drime, o monge budista

Gonçalo Santos encontrou o seu caminho espiritual no budismo. Iniciou o percurso há quatro anos quando começou a perceber que “não se pode encontrar felicidade e satisfação fora de nós próprios”.

Todas as pessoas precisam de um caminho espiritual”. Quem o afirma é Drime o nome adoptado por Gonçalo Santos, natural de Castelo Branco, depois de ter sido ordenado monge em Inglaterra em Agosto do ano passado. Foi no budismo que encontrou o seu, há quatro anos, ao saber das aulas de meditação em Lisboa através de uma amiga. Pouco depois percebeu que tinha encontrado algo que dava sentido à sua vida.

O contacto com o budismo sempre lhe despertou interesse e respeito. “Sempre senti que temos um potencial humano que vai mais além do que concebemos. Um potencial vasto e ilimitado”. Aos 18 anos leu os primeiros livros dedicados ao tema mas “faltava estabelecer a relação com um guia espiritual”. A ponte de ligação foi uma amiga que estudava em Lisboa.

Drime é o nome que Gonçalo Santos escolheu depois de ser ordenado monge em Inglaterra, aos 25 anos de idade. Significa “afortunado sem mácula”. “Sou extremamente afortunado porque tenho esta vida humana preciosa que me permite ultrapassar estados mentais negativos, como a raiva e a ignorância”.

Até chegar ao budismo o caminho não foi fácil. “Não me satisfazia com o que a sociedade me proporcionava. Vivia numa crise existencial constante”. Depois de “ter batido com a cabeça numa série de paredes”, entre as quais os estupefacientes, “encontro algo que faz sentido”.

Ainda estudante de engenharia civil na Escola Superior de Tecnologia (EST) de Castelo Branco, começa por participar em encontros em Lisboa e mais tarde organiza sessões de meditação na sua cidade natal. Mais tarde envolve-se na abertura do Centro Budista de Castelo Branco, ligado à tradição Nova Kadampa, uma das quatro escolas budistas.

PAZ INTERIOR. “A essência do budismo é entender que não se pode encontrar felicidade e satisfação fora de nós próprios”, refere Drime. “É entender que a causa da felicidade é a paz interior”. Já a infelicidade humana, segundo o monge, resulta de estados mentais negativos, pelo que é necessário cultivar os positivos, como a paciência, o amor e a sabedoria.

“Ser budista é entender quais são as causas do sofrimento e ir à raiz dos problemas em vez de encobri-los. Para atingir o bem estar interior e eliminar o sofrimento os praticantes de budismo meditam, ou seja, familiarizam a mente com estados mentais positivos, explica Drime. “As pessoas podem por os ensinamentos budistas à prova e colherem o resultado disso. Transmitimos ferramentas para lidar com as pessoas e com o mundo que nos rodeia”.

Depois das aulas na Escola E.B. 2/3 de Alapraia, em S. João do Estoril, onde é professor de Educação Visual e Tecnológica, Gonçalo Santos troca de roupa veste o hábito monástico, em tons de vermelho e amarelo, e passa a chamar-se Drime.

“Ser monge é tomar uma atitude de resolver os problemas consigo próprio e deixar de culpar o mundo e os outros por tudo o que acontece de mau na vida”. Um monge budista “é sobretudo um amigo espiritual de todos os seres. No seu dia a dia Drime dedica-se a transmitir ensinamentos budistas e a dar aulas de meditação, no sentido de “ajudar as pessoas a serem cada vez melhor”.

Nelson Mingacho

 

 

 

AMBIENTALISTAS QUEREM EQUILÍBRIO REGIONAL

Litoral a mais, interior a menos

O interior está cada vez mais desertificado, enquanto o litoral continua a crescer desmesuradamente em construção e população. Os ambientalistas estão contra a situação e avisam que o seu agravamento está a prejudicar seriamente Portugal.

Exigem medidas rápidas e correctas da parte dos responsáveis oficiais e reclamam nova legislação que contribua para inverter um estado de coisas que está a destruir o Turismo, sector essencial do país. É que, avisam, construções a mais descaracterizam as zonas de sol e praias e afastam visitantes, com prejuízo para a economia nacional.

Quercus, Liga de Protecção da Natureza e Geota são unânimes nas críticas à situação actual e apresentam propostas ao poder político. Por entre alertas e apelos urgentes à tomada de medidas. Antes que seja tarde de mais.

É preciso adoptar estratégias de desenvolvimento sustentado do interior, de modo a diminuir a pressão populacional sobre o litoral português o que, por sua vez, travará a desertificação humana promovendo um maior equilíbrio entre as diversas regiões.

O apelo é lançado por Paulo Martins, presidente da associação ambientalista Quercus, em entrevista ao Ensino Magazine.

Na sua perspectiva, o que se verifica hoje é que «as zonas do litoral encontram-se sujeitas a uma pressão maior do que há anos atrás, o que resulta, em boa medida, do desordenamento que o Estado não travou e que, aliás, persiste». É certo que também existe «regulamentação mais abundante» sobre esta matéria, mas «há instrumentos legais que ainda falta elaborar ou concluir para se obter o quadro indispensável», lembra Paulo Martins.

Para além dos aspectos legais, é preciso reforçar a fiscalização, avisa aquele responsável, sublinhando que «os técnicos encarregados dessa missão não existem em número suficiente; deveriam ser muitos mais para cumprirem com eficácia acrescida as funções que lhes estão atribuídas». O presidente da Quercus alerta para os efeitos da descaracterização do litoral, provocados pela excessiva carga populacional e de construção sobre o mesmo. Avisa, por outro lado, que «é necessário ter em consideração outros aspectos, como a criação de equipamentos e de acessibilidades a tais zonas, como forma de atenuar ou evitar a propagação de uma mancha de desordenamento». Isto exige uma acção mais global do que a que tem sido implementada até ao momento, reivindica Paulo Martins. Nada satisfeito com a situação actual, o presidente da associação ambientalista explica que «têm existido apenas algumas tentativas para ordenar a área em causa», mas sem que se adopte um quadro global de tratamento do problema. Paulo Martins critica, igualmente, os Planos Directores Municipais por serem «muito condescendentes» perante as pressões urbanísticas.

No entanto, admite que há alguns factores que contribuirão para a melhoria do actual estado de coisas. Desde logo, o facto dos locais da Rede Natura estarem quase todos inseridos na área do litoral, o que lhes confere protecção acrescida. Os Planos de Ordenamento da Orla Costeira serão outro mecanismo de regularização com benefícios. Tal como salienta Paulo Martins, «Portugal tem de possuir bons planos, tecnicamente elaborados de forma correcta e credíveis, pois só assim poderá responder com eficácia aos problemas levantados com a sobrelotação das suas zonas litorais». Com toda a legislação pronta e publicada será possível dotar o país de uma rede de instrumentos legais, que deverão ter como consequência a defesa global de um vasto território.

A acusação dos ambientalistas é unânime: prossegue o desordenamento caótico do litoral português, apesar das milhentas promessas em sentido contrário.

Joanaz de Melo, do GEOTA e também da Liga de Protecção da Natureza, afirma ao «Ensino Magazine» que até agora só foram resolvidos problemas pontuais, mas «é preciso ir mais além e elaborar um projecto integrado para defender o litoral».
Condena sobretudo o princípio «profundamente errado» que se mantém em vigor, de acordo com o qual «recebem mais dinheiro as autarquias onde se verificar um maior crescimento urbanístico». Uma orientação que «contribui bastante para promover ainda mais construções em zonas já de si muito congestionadas».

A situação do litoral não é fácil de ser solucionada, reconhece Joanaz de Melo. Antes de mais, existe um problema jurídico. Conforme explica, «a única forma que se antevê de responder à questão dos direitos adquiridos sobre terrenos ou projectos aprovados é através de indemnizações e isso implica custos que nem sempre os responsáveis oficiais estão dispostos a suportar». Por outro lado, os Planos Directores Municipais «não foram bem elaborados», porque consideram áreas de possível construção «onde caberiam quatro vezes a população do país». A ter em conta, igualmente, que na grande maioria deles «a reserva ecológica nacional encontra-se mal marcada», devido a «ter faltado trabalho de campo, em que se obtivessem valores correctos», esclarece aquele dirigente associativo. Acrescenta que a metodologia utilizada também não foi a melhor, porque «em vez de se usar uma escala digital de 1 para 10 mil, se optou por uma de papel de 1 para 25».

Joanaz de Melo avisa que o desordenamento do litoral está a «acelerar a erosão da costa portuguesa», que fica, assim, desprotegia perante os avanços do mar. Se, à partida, se poderia pensar que o aumento de construções no litoral permitiria dotar o turismo de mais infra-estruturas, a verdade é que «a situação se vira contra o sector, uma vez que a qualidade das regiões diminui bastante», realça aquele responsável. O seu alerta é taxativo e não poderia ser mais claro: «mataram a galinha dos ovos de ouro, que era o Algarve». O dirigente do GEOTA critica a «situação caótica do nosso litoral» e salienta que «não bastam as boas intenções dos políticos, pois dessas está o inferno cheio». Joanaz de Melo prossegue, num tom contundente, afirmando “sem papas na língua” que, nos últimos anos, «houve apenas dinheiro para embelezar autênticos desastres urbanos; deu-se maior importância aos aspectos estéticos do que à resolução dos problemas estruturais da faixa do litoral». «É esta filosofia que tem de ser rapidamente alterada, pois, só assim será possível inverter a situação calamitosa com que nos defrontamos actualmente», defende o ambientalista.

Na sua óptica, é preciso “arrepiar caminho” e reequilibrar o país, sob pena do interior se afastar cada vez mais dos níveis de desenvolvimento europeus e do litoral crescer tanto que a vida nessa faixa se vá tornando cada vez mais difícil se não mesmo insuportável. Avisos a ter em conta.

Jorge Azevedo

 


Visualização 800x600 - Internet Explorer 5.0 ou superior

©2002 RVJ Editores, Lda.  -  webmaster@rvj.pt