GENTE & LIVROS
Agatha Christie
“Poirot era um homenzinho de aspecto extraordinário. Não devia medir mais de 1,60 m de altura, mas tinha um porte cheio de dignidade. O formato da sua cabeça era exactamente o de um ovo e ele andava sempre com ela um nadinha inclinada para o lado. Usava um bigode muito espetado e muito marcial. A impecabilidade do seu trajar era quase inacreditável. Creio que um grão de poeira de pó lhe faria doer mais do que o ferimento de uma bala. (...) Como detective, o seu faro era excepcional e ele acumulara triunfos ao deslindar alguns dos casos mais intrigantes da época”.
In A Primeira
Investigação de Poirot

Agatha May Clarrissa Miller, Agatha Christie, nasceu em 1890 no Torquay, Grã Bretanha. Filha de pai americano e mãe inglesa passou a infância no Devonshire. Desde muito cedo se interessa pela literatura inglesa com a leitura de Charles Dickens, Jane Austen e Sherlock Holmes, contudo a sua educação escolar resume-se a dois anos de estudo de piano e canto em
França. Em 1915 casa com o coronel Archibald Christie e durante a I Guerra Mundial presta serviço voluntário num hospital, primeiro como enfermeira e depois como funcionária da farmácia e do dispensário. Dessa experiência recolhe informações valiosas para os seus livros. Com A Primeira Investigação de Poirot em 1920 inicia a sua carreira na escrita, seguindo-se o Adversário Secreto.
Em 1926 separa-se do marido e quatro anos mais tarde volta a casar com Max Mallowan, arqueólogo e professor da Universidade de Oxford. Com ele Agatha Christie faz inúmeras viagens participando nas suas escavações arqueológicas, sem nunca deixar de escrever e aí encontrando inspiração para muitos dos seus romances. Crime no Vicariato é publicado em 1930 e nele travamos conhecimento, pela primeira vez, com Miss Marple. Com cerca de 300 obras publicadas, romances de mistério, poesia, peças radiofónicas, teatro, contos, documentários e autobiografia, e traduzida em mais de cem línguas, Agatha Christie recebe em 1956 o título de Commander of the Brithish Empire e em 1971 a rainha Isabel II atribui-lhe o título de Dame of the British
Empire.
A Rainha do crime, ou a Duquesa da morte - como gostava de ser chamada - morre a 12 de Janeiro de 1976, mas deixa-nos personagens tão imortais como Hercule Poirot e Miss
Marple.
Da sua bibliografia destacamos: Crime no Expresso do Oriente, Morte no Nilo, Poirot Investiga o Passado, A Última Razão do Crime, Os Crimes do ABC,A Última Razão de um Crime, Encontro Com a Morte e a Ratoeira.
Depois de ter sido recusado por seis editores, Hercule Poirot, o mais conhecido e carismático personagem de Christie, estreou-se no livro A Primeira Investigação de Poirot (O Misterioso Caso de Styles). Volta a aparecer em inúmeros outros livros, sendo o último Cai o Pano, onde a Dama do Crime põe um ponto final na vida de um dos detectives mais famosos do mundo. Hercule Poirot (pronuncia-se Érquiil Poarrô) foi também herói no cinema. O primeiro a interpretá-lo foi Austin Trevor nos anos trinta, seguindo-se Peter Ustinov, Albert Finney e David Suchet numa série de televisão.
Poirot será sempre recordado pelas suas inconfundíveis características: belga (apesar de muitas vezes ser considerado francês), extravagante, orgulhoso dono de uns enormes e bem tratados bigodes, cabeça em forma de ovo, apaixonado pela ordem e método, não suportava nada que fugisse à simetria. Resolvia crimes recorrendo às suas “pequeninas células cinzentas”, através de deduções inteligentes e engenhosas. Teve muitas vezes como companheiro o ingénuo Capitão
Hastings. 
Eugénia Sousa
Florinda Baptista
Novidades
EUROPA-AMÉRICA. Marta sem Idade é o último livro de João Rui Freire. Jorge conhece Marta quando ambos têm 15 anos. Ela é a nova vizinha da casa em frente e esse acaso parece marcar toda a vida de Jorge «tão perto e tão longe». Marta é distante, misteriosa e inatingível. Mas para Jorge, o seu amor por ela é uma verdade que permanece toda a vida. E o amor pode ser isso e a verdade também. ...«Porque também as palavras morrem, assim como a cabeça que as pensou e sentiu, e as mãos que as desenharam. As palavras morrem. Juntamente com a infância. Não, meu amor, não sou pessimista. Também eu tenho esperança de morrer». Com muito amor, com muita poesia.
INSTITUTO PIAGET. Michel Jouvet escreveu e o Instituto Piaget publicou na colecção Epigénese, Desenvolvimento e Psicologia, Porque Sonhamos? Porque Dormimos? - Onde? Quando? Como?. O autor é um dos maiores especialistas mundiais em sono e sonho e neste livro responde a muitas interrogações relacionadas com o tema: as diferenças e semelhanças entre o sono animal e humano; o sono paradoxal e o sono ortodoxo; quais os ciclos do sono, os seus mecanismos e a função do sonho... Não adormeça sem ler.
ASA. Educação e Formação de Viviane de Landsheere aborda temas como a Filosofia da Educação, a Política da Educação, a Psicologia da Educação e a Teoria Geral do Currículo. A autora é doutorada em Ciências da Educação e apresenta-nos aqui um trabalho de síntese da sua grande experiência e investigação na área da educação e formação.
GRADIVA. Tibério de Allan Massie é o quarto livro do escritor dedicado às biografias de figuras do Império romano. «Um retrato fascinante de Roma, numa empolgante exploração do poder público e da tragédia privada».
FOLHA FLORESTAL. A Associação de Produtores Florestais da Beira Interior acaba de publicar o primeiro número do jornal Folha Florestal, que saíu em conjunto com o semanário Reconquista e foi distribuído gratuitamente na Feira do Nercab. A edição pertenceu à empresa RVJ - Editores.
ALERTA. O Agrupamento 160 do Corpo Nacional de Escutas lançou mais um número do seu boletim informativo, Alerta. A edição e concepção gráfica pertenceu à empresa RVJ - Editores, Lda, com sede em Castelo Branco.
BOLETIM. A Câmara Municipal de Proença-a-Nova acaba de apresentar o seu renovado Boletim Municipal. O grafismo e a concepção gráfica pertenceu à RVJ - Editores, Lda., empresa especializada na elaboração de grafismos, edição de publicação e na gestão de informação e
marketing. 
BOCAS DO GALINHEIRO
Franalento
Quando Billy Wilder decidiu fazer um filme cujo título deveria ser “Not Tonight, Josephine”, o produtor David Selznick disse que iria ser um desastre. “Não podes juntar a comédia com o assassinato”. Quarenta e tal anos depois “Some Like It Hot” (Quanto Mais Quente Melhor), o título definitivo do filme, foi considerada a melhor comédia do Século XX pelo Instituto Americano de Cinema, à frente, entre outras, de “Dr. Strangelove”, de Stanley Kubrik e de “Annie Hall”, de Woodie Allen. Uma comédia construída à volta da matança de S. Valentim, o que obriga Jack Lemmon e Tony Curtis, dois músicos de Jazz que, para mal dos seus pecados, são testemunhas deste ajuste de contas entre gangsters, corria então o ano de 1929, para fugirem à limpeza de que seriam alvo certo, a disfarçam-se de mulheres e juntarem-se a uma orquestra feminina, passando a ser “Josephine”, Curtis, e “Daphne”, Lemmon. Só que na orquestra estava uma tal Sugar Kane, de seu verdadeiro nome Marilyn Monroe, naquela que terá sido a sua interpretação mais marcante, juntando aos seus curvilíneos atributos naturais, um à vontade notável na comédia, como havia profetizado Howard Hawks, quando a dirigiu em “Os Homens Preferem as Louras”, de 1953. E, claro, um deles haveria de se apaixonar por ela. Coube a sorte a Tony Curtis. Mais azarado(?) foi Jack Lemmon, sobre cujos encantos femininos recaíram as atenções de Joe E. Brown. O resto, bem, o resto só mesmo vendo este monumento inolvidável de cinema, assente num argumento fabuloso do próprio Wilder e de I.A.L. Diamond, uma parceria que se manteve até ao final da sua carreira de realizador.
Quando terminou a rodagem de “Quanto Mais Quente Melhor”, Wilder quis fazer outro filme com Jack Lemmon e surge, quanto a nós, a sua obra mais bem concebida: ”O Apartamento”, uma ideia que já o perseguia desde 1948, dado que segundo disse, se inspirou em “Brief Encounter”, 1945, de David Lean, mas que não era fácil de realizar na altura face à rigidez da censura plasmada no, de má memória, célebre Código Hays. É assim que em 1960 a película é estreada, com o êxito que se conheceu, óscares para o melhor argumento, melhor filme e melhor realizador, a que não serão alheias as interpretações de uma Shirley MacLaine, real como a vida, e a confirmação de Jack Lemmon, em mais um dos seus papéis de americano médio, aqui o pequeno executivo de uma companhia de seguros que vai progredindo na carreira à medida que o seu apartamento vai sendo utilizado pelas chefias para outros empreendimentos, enquanto ele se apaixona pela rapariga do elevador, MacLaine. Uma comédia com final feliz, mas que não deixa de ser uma ácida crítica social, quase roçando uma atmosfera
kafkiana.
Os filmes seguintes, parecem-nos marcados por um certo tom teatral, a partir de “Um, dois, três”, uma humorística sátira política; “Irma, La Douce”, novamente com Lemmon e MacLaine; “Beija-me Estúpido”, uma comédia com Kim Novak, numa interpretação sedutora, e o popular cantor Dean Martin, filme muito mal recebido pelas ligas de decência norte americanas, dominadas pelos wasps, mas também um fracasso de bilheteira.
O êxito volta a conhecê-lo quando convoca de novo Lemmon para trabalhar ao lado de Walter Matthau e que viriam a formar uma das duplas mais amadas do cinema, grandes, ambos, mas que já partiram.
“Front Page”, de 1973, a terceira versão de uma famosa peça de Ben Hecht e Charles MacArthur, uma comédia ambientada no mundo do jornalismo nos anos 30, cujo já havia sido tratado por Lewis Milestone e Howard Hawks, em que os caminhos para se ter um exclusivo nem sempre são os mais correctos, principalmente quando o chefe de redacção é Walter Matthau, é um dos grandes momentos deste trio maravilha. Voltam a atacar em 1981 no último filme de Wilder, “Buddy, Buddy”, outro remake, agora da fita francesa realizada em 1973 por Edouard Molinaro, “L’ Emmerdeur” (O Chato), com Lino Ventura e Jacques Brel, em que todo o tom cínico e sarcástico da versão original se mantém, notando-se já uma quebra do toque de Wilder e que marcou muitos dos seus filmes.
Os filmes, dizemos nós, são como as cerejas: começa-se a falar e um e nunca mais se acaba. Com isto tudo faltou-nos espaço para falar dessa notável incursão de Wilder no êxito, na decadência e na mitologia de Hollywood, notavelmente retractados em “O Crepúsculo dos Deuses”, ou essa outra inesquecível direcção de Marilyn em “O Pecado Mora ao Lado”, ou os não menos fascinantes “Fedora” ou “A Vida Privada de Sherlock Holmes”, para só referir estes.
Billy Wilder morreu no passado dia 28 de Março. Nos últimos 20 anos cresceu o culto pela sua obra. Com altos e baixos, como a de todos. Mas, como Joe E. Brown em “Quanto Mais Quente Melhor”, estamos certos que, com um encolher de ombros, diria a já estafada última fala da fita: “Ninguém é perfeito
!”. 
Luís Dinis da Rosa
com Joaquim Cabeças
|