Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano V    Nº52    Junho 2002

Actualidade

PAULO NEVES, PRESIDENTE DA RTA

Interior acrescenta valor ao Algarve

O interior do Algarve dá mais valor à imagem do Algarve. É o que defende Paulo Neves, presidente da Região de Turismo, para quem a requalificação da oferta é uma linha central a desenvolver.

Aquele responsável reconhece os efeitos positivos do “Euro 2004” para a zona mais a Sul de Portugal e aponta o golfe como um exemplo de diversificação turística em que se deve apostar.

Qual o papel do Euro 2004, em termos de projecção da região, com efeitos promocionais do seu Turismo?

O Euro 2004 está perfeitamente integrado no desenvolvimento de uma acção estratégica que ambiciona um crescimento qualitativo do turismo nacional, numa óptica de diferenciação, competitividade e complementaridade.

No âmbito do Euro 2004, vai nascer um novo espaço estruturante para a região, entre Faro e Loulé, denominado Parque das Cidades, que integrará um conjunto de novas infra-estruturas, nomeadamente uma unidade de saúde, jardins e espaços de lazer e um Pavilhão Multiusos, destinado a dar apoio às actividades ligadas ao turismo especialmente na época baixa. Contemplará valências para congressos, seminários, desportos e eventos culturais, contribuindo para a dinamização destes segmentos de mercado e também para atenuar os efeitos da sazonalidade.

É de salientar, igualmente, o efeito promocional deste evento desportivo para Portugal, em geral, e para o Algarve em particular, considerando que, só pela televisão, os cálculos apontam para cerca de 12 mil milhões de telespectadores em todo o mundo.

Pretende-se para o Algarve um Turismo de qualidade. Quais as principais acções da Região de Turismo (RTA), tendo em vista alcançar esse objectivo?

O apelo à qualificação da oferta turística e à preservação dos recursos naturais e culturais do Algarve tem sido um constante na acção desenvolvida pela RTA, quer através de campanhas de sensibilização, quer de acções de formação.

Actualmente, através do Plano Regional de Turismo do Algarve, têm sido realizados vários projectos que visam a requalificação da oferta turística da região. É o caso de diversos processos de requalificação urbana a serem implementados, de intervenções em zonas históricas e frentes de mar.

Encontra-se, ainda, em curso o Projecto “Agenda XXI – Acções para um Turismo Sustentável”, que visará transformar o Algarve num destino turístico sustentável. Para desencadear este processo, irá ser realizada uma forte campanha informativa e educativa, serão efectuados vários estudos e implementadas acções. São exemplos de iniciativas que se encontram em curso no âmbito do projecto o processo de limpeza de praias e das áreas envolventes.

O Algarve não pode viver apenas dos produtos “sol e praia”. Em que outros deve apostar numa perspectiva de diversificação da oferta?

A par do sol e praia, que é e continuará a ser a principal motivação dos turistas que nos visitam, o golfe é um produto turístico que contribui significativamente para a captação de visitantes estrangeiros para Portugal e, em particular, para o Algarve. Assume-se como um dos produtos com maiores potencialidades para reduzir a dependência do “sol e praia” e combater a sazonalidade, dispondo de um invejável conjunto de infra-estruturas e de condições climatéricas para a prática daquele desporto durante todo o ano, representando actualmente entre dez e doze por cento das receitas globais.

O segmento de congressos e incentivos é outra das apostas para fazer frente aos efeitos negativos da sazonalidade. A dinamização de espaços para a sua realização aumentará nos próximos anos, com a conclusão das obras no Pavilhão do Arade e com a construção de um espaço multiusos no Parque das Cidades (Faro/Loulé). Os espaços oferecidos pelas unidades de alojamento também têm aumentado.

No que diz respeito a marinas, o grande investimento em curso é o da Marina de Albufeira, que trará à oferta hoteleira desta área um novo enquadramento. Em conjunto com as obras a realizar no âmbito do Programa Pólis mudará a imagem actual de Albufeira. O desassoreamento do rio Arade até Silves, a dinamização do Porto de Cruzeiros e da Marina de Portimão contribuirão igualmente para a qualificação da oferta turística, constituindo um importante atractivo para um novo destino turístico a partir do rio Arade.

Por outro lado, a Região de Turismo criou recentemente o Algarve Convention Bureau / Algarve Congressos e Incentivos e está a desenvolver o Algarve Sports & Golf Bureau, este último com vista à dinamização da promoção interna e externa de tão relevante segmento da oferta turística. Neste âmbito, terão destaque os estágios desportivos.

O que pode ser feito com vista a diminuir a dependência da sazonalidade do Turismo algarvio?

Nos últimos três anos, a sazonalidade do Algarve tem vindo a descer. Tem-se registado uma maior procura de ocupação hoteleira na época baixa, por parte dos turistas estrangeiros.

Em relação aos turistas nacionais, continua a verificar-se uma procura nos fins-de-semana, mas as férias concentram-se, cada vez mais, em Agosto. Há aqui uma diferenciação da procura que faz com que haja uma melhoria do desempenho da ocupação hoteleira na época baixa, o que permite, ao mesmo tempo, que o Algarve vá podendo aproveitar outras potencialidades e desenvolvendo outros produtos que não apenas o “sol e praia”.

O interior da região tem um claro desequilíbrio de desenvolvimento em relação à faixa litoral. Mas, tem também as suas potecialidades turísticas. De que modo se pode explorá-las?

A RTA tem vindo a desenvolver esforços no sentido de promover o interior como oferta complementar ao “sol e praia”. O interior algarvio já tem, até 2003, um protocolo de promoção que inclui toda a zona de baixa densidade habitacional do distrito. Para o barrocal e serra algarvia, existe um acordo com as associações de desenvolvimento local, com a Agência de Desenvolvimento Regional e com a Comissão de Coordenação da Região do Algarve para a sua promoção.

O interior acrescenta valor à imagem do Algarve porque mantém as tradições e a cultura de um povo e distingue a região de outras zonas do mundo que também têm “sol e praia”, mas não possuem a riqueza cultural, natural e paisagística. É importante criar condições para que as pessoas se mantenham no interior com novas oportunidades de negócio desenvolvendo as suas próprias tradições, permitindo que o Algarve seja um destino turístico diferente da bacia do mediterrâneo.

A capacidade hoteleira do Algarve é suficiente para as necessidades da região?
Penso que sim. Neste momento, o Algarve dispõe de cerca de 400 estabelecimentos hoteleiros, aldeamentos e apartamentos turísticos, disponibilizando no seu conjunto cerca de 88 mil camas. Para além disso, existe ainda uma oferta bastante considerável no Turismo em Espaço Rural, colónias de férias e pousadas de juventude, bem como em parques de campismo (com capacidade para cerca de 43 mil pessoas).

As acessibilidades são elemento essencial no progresso do Algarve. Quais são as premências maiores, a este nível?

Ao nível das acessibilidades, as necessidades maiores são, seguramente, o alargamento da Via do Infante até Lagos, que estará concluído em Março de 2003 e a conclusão da auto-estrada para o Algarve (A2). A entrada em funcionamento destas infra-estruturas permitirá o aumento do conforto, segurança e rapidez no acesso ao principal destino turístico português, bem como a atenuação da sazonalidade na época baixa com o incremento do gozo de fins-de-semana, melhorando globalmente o desempenho do desenvolvimento da região.

Falta agora a modernização da ligação ferroviária a Sul e a sua articulação com a Andaluzia, o que possibilitará uma maior diversificação da procura, além de alargar os mercados menos dependentes dos operadores turísticos internacionais.

J.A.

 

 

 

JOÃO GUERREIRO, PRESIDENTE DA CCRA

Algarve pode ajudar o Alentejo

O Algarve pode ajudar o Alentejo a desenvolver-se, defende o presidente da Comissão de Coordenação Regional da primeira região.

Para João Guerreiro, não existem limites geográficos que impeçam o Algarve de contribuir, de modo significativo, para que o Baixo Alentejo saia do atraso económico que tem registado.

As novas acessibilidades previstas e as estratégias delineadas para incentivar um Turismo de elevada qualidade vão permitir ao Algarve incrementar o seu desenvolvimento.

Ao nível das acessibilidades à região, quais os projectos mais importantes que ainda estão por concretizar?

A auto-estrada até Lisboa está prestes a ser concluída, representando uma das mais importantes vias de que a região necessitava. Quanto à via do infante, deverá estar pronta em Abril de 2003, de acordo com o planeamento efectuado. Por outro lado, encontra-se em fase de construção a estrada que fará a ligação de Vila Real de Santo António a Beja, numa outra obra de grande relevância não apenas para o Algarve, como também para o Alentejo. Penso, aliás, que a nossa zona pode desempenhar uma importante missão de “puxar” o desenvolvimento da região vizinha. Conhecendo-se o fraco nível de progresso económico do Alentejo, não apenas no panorama nacional como Europeu, é minha convicção que o Algarve pode ajudá-lo a desenvolver-se, já que as fronteiras geográficas não impõem compartimentos estanques em termos económicos e existem impactos que se expandem para além dos limites do distrito de Faro.

Em relação ao aeroporto, as obras efectuadas respondem eficazmente às necessidades da região?

Vêm melhorar, de forma substancial, as condições que o aeroporto possui para receber viajantes da região. Se o nosso objectivo não for o do crescimento permanente do número de visitantes, mas antes em que cheguem turistas de qualidade elevada e com assinalável poder de compra, então o aeroporto terá as infraestruturas suficientes. Na minha óptica, deve-se enveredar, precisamente, por esta última alternativa, como forma de promover um Turismo de qualidade sustentável e que trará vantagens inegáveis para o Algarve.

De que forma será possível promover o desenvolvimento do Algarve interior?

É verdade que subsiste ainda um grande diferencial de desenvolvimento entre a faixa costeira da região e a sua zona mais interior. É preciso equilibrar o Algarve o que pode ser realizado, na minha óptica, através de um conjunto diversificado de medidas. Uma delas consiste em valorizar e promover as peças de artesanato fabricadas nessa área da região economicamente mais desfavorecida. Outra acção fundamental refere-se à necessidade em apoiar a actividade agrícola aí com grande relevância, sem esquecer a divulgação de monumentos e paisagens com significativo interesse turístico e complementares da oferta que a faixa litoral disponibiliza aos visitantes.

Estas são, pois, algumas das estratégias que defendo para incentivar um equilíbrio dentro da região que é importante alcançar.

O Turismo vai continuar a ser o eixo central de desenvolvimento do Algarve?

Será, certamente, um elemento essencial das linhas de progresso da região. Mas, na nossa concepção, o turismo encontra-se estreitamente relacionado com outras áreas em que é necessário intervir. Desde logo, com o património cultural, valorizando-se produtos diferentes do sol e praias. Há também a considerar o ambiente que pode proporcionar a rentabilização das potencialidades turísticas do Algarve. O aproveitamento das energias renováveis é outro domínio a considerar, assim como a colocação em destaque da fileira agro-alimentar.

A Comissão de Coordenação da Região do Algarve, embora esteja consciente da especificidade de cada um destes aspectos, também não esquece as interligações fortes que se podem desencadear entre os mesmos.

Daí a importância das parcerias entre entidades públicas e privadas?

Sem dúvida. Temos vindo, aliás, a realizar um trabalho com vista a estimular o estabelecimento dessas parcerias. É um processo gradual. Há resistências, claro, de alguns agentes, mas o caminho é no sentido de todos colaborarem num projecto global comum de desenvolvimento do Algarve.

Pode concretizar a relação que se pretende reforçar entre a fileira agro-alimentar e o sector turístico?

Uma das vertentes em que, de facto, estamos a apostar é a da oferta de produtos tradicionais aos visitantes da região. Elementos típicos desta zona de Portugal, com características próprias, que devem ser valorizados e amplamente promovidos. Repare-se que é sobretudo na área do interior do Algarve que tais produtos têm uma importância acrescida. Se conseguirmos desenvolver a fileira agro-alimentar, estaremos a apoiar os agricultores da região e, simultaneamente, a incentivar o progresso das zonas com níveis de progresso mais baixos do conjunto do Algarve.

Jorge Azevedo

 


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