Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano V    Nº53    Julho 2002

Entrevista

PACHECO PEREIRA POSTULA GRANDES MUDANÇAS NO ENSINO

Exigência é a palavra de ordem

O Ensino Superior em Portugal deve sofrer uma revolução tão grande quanto rápida, a qual deverá ser alargada aos níveis de ensino inferiores e à própria divulgação da cultura. Esta é, pelo menos, a opinião de Pacheco Pereira, eurodeputado social-democrata que analisou o actual estado da Educação numa entrevista concedida ao Ensino Magazine no edifício do Parlamento Europeu, em Bruxelas.

Pacheco Pereira mostra-se descontente com o que se fez até aqui e adianta que Portugal tem apenas de seguir os passos de vários países da Europa, nos quais existe um ensino superior desenvolvido e adaptado às necessidades reais de um mercado cada vez mais exigente. “A Europa, para Portugal, deve ser um exemplo, dado que em muitos dos países, a qualidade do ensino é superior à qualidade do Ensino em Portugal. Logo, para que os nosso jovens tenham lugar na Europa, é preciso aumentar os standards de qualidade do nosso ensino”.

Nesta área, Pacheco Pereira considera que “a exigência é a palavra-chave da revolução que é necessária no nosso ensino, a qual deve começar logo no 1º Ciclo, dado que há problemas que começam no básico e se prolongam por todos os ciclos, como é o caso da dificuldade da leitura, as dificuldades de aprendizagem da Matemática e do Português. Isso manifesta-se no Básico, pelo que o que está mal, está mal desde o início e ao longo de toda a cadeia”.

MUDANÇAS. Resta saber para onde caminham os formados em Portugal. “Hoje o mercado é essencialmente europeu, pelo que os nossos licenciados, ou mesmo que possua graus inferiores, nenhum deles está em condições de competir com os alunos dos outros países. Este é um problema de fundo, até porque o que funciona mal, é o mais importante, como a primeira língua, ou seja, o Português, a segunda língua e a Matemática. Ora, estas disciplinas são fundamentais para haver competitividade no nosso sistema de ensino”.

Outras alterações propostas pelo eurodeputado centram-se na própria formação de professores, em certos casos inadaptada porque ultrapassada, o que limita a possibilidade de ter melhores formados. “A chave está essencialmente nos professores. Temos de, alguma maneira, voltar à exigência no ensino. Nos últimos anos houve muito laxismo e penso que os professores são os primeiros a terem consciência disso”.

A lógica de inversão passa também pela avaliação efectiva dos professores. “O sistema que vigorou nos últimos anos favorecia quase que a passagem administrativa dos alunos, punia os professores exigentes e favorecia carreiras pedagógicas praticamente sem nenhum teste, exame ou estudo. Os professores são das poucas profissões em que as pessoas fazem toda a carreira por antiguidade. Isso não tem sentido. A passagem dum nível para outro, desde o salarial às condições de horário ou outro, deveria ser feita através dum exame”.

CURSOS. Numa altura em que há formados em demasia em determinadas áreas, a questão da formação de professores terá de ser reavaliada, prevendo-se desde já o encerramento de alguns cursos. A questão é que a experiência holandesa, que rumou por aí, veio a revelar-se negativa, dado que actualmente faltam professores e até chegou a ser reduzida a semana de aulas num dia.

Em Portugal poderá ser diferente. “Pode acontecer que um dia faltem professores, mas é preciso ter em conta que hoje se formam muitos licenciados para o desemprego. E como o Estado tem poucos recursos, é preciso racionalizar a sua distribuição. O encerramento de cursos, porém, pode ser correcto ou demasiado. Depende das condições em que será feito, dos locais e até da procura dos professores”.

Um dos casos mais falado nesta área passa também pela duplicação de cursos entre universidades e politécnicos, o que já leva alguns políticos a falarem na possibilidade de fusão entre escolas e até entre instituições. “Todas as soluções são possíveis, mas tal deve ser estudado caso a caso e dentro duma arquitectura global do sistema de ensino. Esse estudo ainda não está feito, mas deve ter em conta as solicitações do mercado de trabalho. Só a partir daí se pode ordenar, fundindo ou mantendo a independência de cada um dos ramos, conforme as exigências do mercado de trabalho, pois uma solução única não é suficiente”.

FORMAÇÃO. O eurodeputado social-democrata considera ainda que se vive um défice de formação em Portugal que deveria ser colmatado, mas que apenas se mantém, do Secundário ao Superior. “Em Portugal existe uma enorme deficiência de preparação de carácter técnico e tecnológico de grau superior. Ora, é preciso compreender que o nosso sistema de ensino não pode apenas produzir doutores em letras. São necessárias pessoas que correspondam e apoiem a modernização do nosso sistema produtivo”.

No entender de Pacheco Pereira, essa era a intenção e vocação dos politécnicos, mas “a obsessão de o querer tornar igual ao universitário foi negativa. Explorando as características próprias do ensino politécnico e levando-as até ao seu último limite, talvez fosse mais vantajoso do que querer uniformizar todos os tipos de ensino. Essa já foi uma experiência que deu mau resultado no antigo ensino liceal, quando, praticamente, foi fundido com o ensino técnico, prejudicando a qualidade do ensino”.

Os problemas, porém, não resultam apenas destas lacunas, mas também do próprio domínio da Língua Portuguesa, o qual, não sendo o melhor, limita o acesso a uma cultura de base, o que reduz o nível cultural do cidadão português comum. “Isso já se verifica. É certo que se deu a massificação do ensino, o que foi um aspecto positivo, mas é evidente que temos um problema de qualidade, o qual é flagrante quando comparado o nosso ensino com o europeu. E a nossa cultura é frequentemente mais baixa”.

Jorge Azevedo

 


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