GENTE & LIVROS
Michael Ondaatje
“O nome de Anil - aquele que ela tinha comprado ao irmão aos treze anos - ainda teve de passar por uma outra fase antes de se consolidar. Aos dezasseis anos, Anil era uma jovem sempre tensa e furiosa em família. Os pais levaram-na a um astrólogo em Wellawatta numa tentativa de atenuar estes traços da sua natureza. O homem escreveu a data e hora do seu nascimento, subtraiu e fraccionou-as, analisou os astros que lhe estavam mais próximos, e não sabendo da negociata que havia por detrás daquilo, disse que o problema residia no nome dela. O seu carácter tempestuoso podia ser travado se mudasse de nome. (...) O astrólogo-profeta chegara, finalmente, a uma solução de compromisso: bastava acrescentar um e ao nome e ela passaria a chamar-se Anile. Ela, e o nome, ficariam mais femininos, e o e faria com que a fúria se transferisse para outras bandas. Mas mesmo isso ela recusou.”
In O Fantasma de Anil

Michael Ondaatje nasceu a 12 de Setembro de 1943 em Colombo, Ceilão, actual Sri Lanka. Filho de Mervyn Ondaatje, superintendente de plantações de chá e de borracha, e Doris Gratiaen Michael, após a separação dos pais, motivada pelo alcoolismo do pai, parte em 1954 com a mãe para Inglaterra.
Estuda na faculdade de Dulwich em Londres e em 1962 emigra para o Canadá onde frequenta a Universidade de Bishop´s, a Universidade de Toronto e a Universidade de Queen´s. Começou a sua carreira como professor na Universidade de Ontário Ocidental. Em 1970 publica Obras Completas de Billy the Kid e em 1971 lecciona no departamento de Inglês da faculdade de Iorque em
Toronto.
Com O Paciente Inglês ganha o Booker Prize em 1992 e vê a sua obra adaptada ao cinema pelo realizador Anthony Minghella. O Paciente Inglês ganha nove Óscares, nomeadamente o de melhor filme. O sucesso alcançado pela obra permite-lhe deixar o cargo de professor universitário.
Talvez mais conhecido como romancista Michael Ondaatje é também um dos grandes poetas contemporâneos de língua inglesa, tendo também escrito sobre jazz, Leonard Cohen, uma equipa de desactivação de bombas na II Guerra Mundial e também sobre animais.
Reside actualmente em Toronto, onde edita juntamente com a esposa Linda Spalding-novelista e editora- o jornal literário Brick. O Fantasma de Anil é o seu romance mais recente.
Da sua bibliografia constam os títulos : Obras Completas de Billy the Kid (1970), Coming Through Slaughter (1976), Secular Love (1984), In the Skin of a Lion (1987), O Paciente Inglês (1992) e O Fantasma de Anil (2002).
O Fantasma de Anil. Anil Tissera é uma paleontóloga que integra uma equipa da Comissão Internacional dos Direitos Humanos. A sua actual missão consiste em descobrir provas de crimes de guerra no Sri Lanka, o seu país de origem, devastado por um conflito que opõe as forças governamentais, os rebeldes antigover-namentais no Sul e os Tigres Tamil, guerrilhas separatistas no Norte. Quando Anil e o arqueólogo com quem irá trabalhar, Sarath Diyasena descobrem um esqueleto - «o marinheiro»- numa reserva arqueológica protegida pelo governo este torna-se uma quase obsessão para Anil. O marinheiro é a principal prova dos assassinatos praticados pelo governo. Até que ponto Anil vai ter de confiar em Sarath? 
Eugénia Sousa
Florinda Baptista
Novidades
Europa-América. Drogas - Do Êxtase à Agonia, de Anita Ganeri integra a colecção Ponto de Referência das Publicações Europa América. O que são as drogas? como são? como se tomam? quais os seus efeitos a curto e longo prazo? Para além de uma informação precisa e acessível sobre as drogas este livro inclui ainda relatos de jovens viciados, ex-viciados e terapeutas e questionários que te permitem testar conhecimentos sobre este assunto. Tudo o que tens de saber sobre drogas podes encontrar neste livro, conhecer bem o inimigo é saber como evitá-lo e vencer.
Assírio & Alvim. A Assirinha, colecção para crianças da Assírio & Alvim, lançou novos títulos. O Pequeno Livro de Desmatemática, de Manuel António Pina com ilustrações de Pedro Proença; Poemas com Asas de Jorge de Sousa Braga e ilustração de Cristina Valadas e os Poemas do Coelho Ramon de Helder Moura Pereira, ilustrado por Ruth Rosengarthen. Como diz Álvaro Magalhães, na revista A Phala e a propósito desta colecção «a infância é uma estação poética, um temporário estado de graça, mesmo porque cada infância recria a própria infância do mundo».
Gradiva. James é o personagem que dá o nome e a história para a álbum do cartoonista premiado Mark Tonra. James é a própria essência da “infância”, o anjinho mau e o diabinho bom, «o último a saber, o primeiro a ir-se abaixo, feitio difícil, fácil de amar». O James também é assim e vais gostar de o conhecer.
ASA. Sete Dias e Sete Noites, O Vampiro do Dente, A Rosa do Egipto, e O Assassino Leitor são alguns livros do escritor Álvaro Magalhães para o público juvenil. Considerada pela crítica uma das melhores colecções de literatura juvenil de mistério, o Triângulo Jota engloba vários títulos de Álvaro Magalhães que conta com as ilustrações de José Pedro Costa. Boas Férias com Bons Livros. 
CRISTINA ATAÍDE
REGRESSOU À BEIRA
Respirar comunidades

Levar ao papel o sentir das comunidades beirãs e as sensações transmitidas pela paisagem de uma Beira progressivamente desertificada são os objectivos do próximo trabalho de Cristina Ataíde, porventura uma das melhores escultoras portuguesas, a qual nasceu em Viseu em 1951, mas desde os quatro anos esteve ligada à vila de Alcains, a poucos quilómetros de Castelo Branco, vila onde viveria até aos 16 anos.
Licenciada em Belas Artes no final dos anos 70, passou pelo Secundário e hoje é professora universitária na área das tecnologias artísticas e do desenho. Este mês esteve a trabalhar no Centro de Estudos de Novas Tendências Artísticas, em Vila Velha de Ródão, onde desenvolveu o projecto Comunidades Beirãs, o qual será objecto de exposição no Museu Tavares Proença Júnior, em Castelo Branco, em Outubro próximo.
“Com este trabalho pretendo lembrar-me e mostrar as minhas memórias beirãs, as quais têm tendência a desaparecer, tal como as tradições, como por exemplo o fazer o pão, as danças. Logo, este trabalho é como que uma celebração para lembrar a apanha da azeitona, a vindima... é homenagear a Beira na sala principal do museu”. Para isso pretende ali colocar uma série de masseiras velhas de anos, as quais terão no seu interior os produtos mais tradicionais, do pão ao azeite, da lã ao cardo, do cincho ao granito.
A par das masseiras, serão expostos desenhos, os quais produziu na semana em que esteve no Centa. “Para desenhar a Beira, o espírito da zona, tinha de vir cá, de estar cá. Aqui é que se têm as ideias”. Por isso irá voltar a Ródão e a outros locais da região, algo que poderá fazer até Outubro, dado que a exposição tem inauguração marcada para dia 12 desse mês e ficará patente até 2003, em data a combinar.
DESCENTRALIZAÇÃO. De regresso às origens e já com um percurso notável, Cristina Ataíde considera que a cidade de Castelo Branco tem grandes
potencialidades no campo da arte, sobretudo depois da criação da Escola Superior de Artes Aplicadas. “A Arte está muito mais descentralizada. Quando fui para a Faculdade só existia Lisboa e Porto. Hoje há ensino das artes em vários pontos do país. Em Castelo Branco têm surgido vários trabalhos, como o último que vi na Alma Azul. Ora, para descentralizar é preciso trazer o ensino, o que se fez e bem”.
No entender da escultora, a cultura e a dinamização de um povo só se faz pelo conhecimento. Na arte passa-se o mesmo. “Por vezes as pessoas entendem mal as intervenções que fazemos, mas o papel do artista é problematizar. Quando uma pessoa faz uma intervenção, ela pode ser agradável ou não, mas tem de levar as pessoas a pensar. Acontece que as pessoas só vão aos sítios se tiverem alguma preparação. Imagino que os alunos da Escola de Artes vão ao Museu ver as exposições. Se não estudassem artes, não se interessavam”.
Perante esta problemática, defende que as disciplinas como a Educação Visual terão de ter outra dignidade. “Hoje estamos rodeados de imagens, somos bombardeados com elas, da televisão aos outdoors, pelo que precisamos duma disciplina que nos ensine a descodificá-las. Os professores não dizem o que é bom ou mau, mas apenas dizem como se decifram as imagens. Se aprendemos a ler e a escrever, também podemos aprender a ler imagens. Mas, quando fui professora de Educação Visual, ela ainda era uma disciplina de segunda categoria”.
AULAS. Apesar de ter abandonado o Secundário, Cristina Ataíde lecciona hoje na Universidade Lusófona e sente que “os alunos chegam mal preparados. Têm dificuldade em desenhar. Precisavam de mais apoio no Secundário para poderem ir para cursos como Artes Aplicadas, Design ou outras variantes. Há toda uma linguagem básica nas artes visuais que têm de ser geral”.
A esta respeito fala dum workshop que desenvolveu em Santo Estevão, para cima de Chaves. “Era extraordinário perceber que aquelas crianças nunca tinham pegado em barro, praticamente nunca tinham desenhado. Ora, quando se dá barro às crianças, não é para elas se entreterem, mas porque a problemática dos dedos, de pegar e fazer coisas, é desenvolvida com a arte do barro. As crianças tinham ainda grande falta de concentração porque não estavam habituadas a trabalhar com coisas minuciosas. Trabalhavam cinco minutos e ficavam cansadas”.
A solução passou por explicar a cada criança a utilidade do barro e o que poderiam fazer com ele. Por essa razão defende que os pais devem entender a importância da disciplina, motivando os filhos. Só assim poderão aprender a desenhar as palavras e as coisas, conferindo-lhes uma identidade que é também a identidade de quem vê, de quem desenha.
Será ainda importante entender a importância das artes, as quais estão na moda. “Penso que, de repente, o país percebeu que precisava de designers. As fábricas, para serem competitivas, devem ter pessoas especializadas em criar objectos específicos para aquela área. Aí nasceu um surto e uma atenção especial pela cultura, com mais divulgação, o que despertou mais o interesse das pessoas. A título de exemplo, desde que chegou aqui a Maria João Pires, haverá mais crianças interessadas em aprender música”. 
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