Um olhar para toda a
vida
Um dos aspectos que ressalta da mais
recente produção, em matéria educativa, oriunda dos organismos da
Comunidade Europeia, reporta-se a um novo entendimento da formação de
professores que os prepare para assumirem a mudança permanente como uma
das condicionantes do seu percurso profissional.
Segundo essa documentação, a aposta na melhoria da formação inicial dos
docentes não deve esconder a sua função certificante para o exercício da
docência, entendendo-a, todavia, como ponto de partida para a formação
permanente. Isto é: a formação deve tornar-se contínua. Mas para ser
verdadeiramente contínua a formação inicial deve ser considerada como
condição necessária, mas não imperativamente suficiente.
O que se exige de um sistema de formação de professores é que procure
corresponder, simultaneamente, ao desenvolvimento pessoal e profissional
dos docentes, reconhecendo-se que, cada vez mais, esse desenvolvimento se
reparte por diferentes etapas: a do formando candidato a professor, a da
indução - que corresponde aos primeiros anos de carreira - , e a do
professor em exercício, já com experiência profissional.
Este triplo entendimento tem beneficiado, infelizmente de mais produção
teórica do que de correspondentes medidas práticas, pelo que quase que nos
atreveríamos a considerar que estamos perante um dos grandes mitos das
ciências da educação, o qual tem acompanhado os investigadores no decurso
dos últimas três décadas.
Considera-se que o professor deve ser formado, durante a formação inicial
para ter uma grande capacidade de adaptação. Que deve ser sujeito a uma
formação plástica e em banda larga que lhe permita enfrentar os ventos de
mudança científica, tecnológica, social e cultural, que ocorrem a um ritmo
exponencial. Com tal pretende-se não comprometer a inovação e a renovação
desejadas, e consideradas condições indispensáveis à melhoria da qualidade
de ensino e da eficácia organizacional das escolas.
Mas essa formação deve evitar, de igual modo, que o docente se assuma
apenas como um experimentador inconsequente de receituários e de
metodologias sorvidas por aconselhamento casual, como se os pacotes de
formação constituíssem produtos formativos a comercializar num mercado em
que a oferta e a procura de formação fosse considerada o único mecanismo
regulador dessa mesma formação.
Daí a importância da aprendizagem ao longo de toda a vida, da aprendizagem
permanente. Daí a responsabilidade que todos aqueles que se encontram
envolvidos na educação têm em descobrir que também eles são aprendizes. E
este facto releva a principal mudança a que nos referíamos: da educação
para a aprendizagem permanente. O que pressupõe uma mente que interroga,
uma atitude dinâmica e uma capacidade para continuar a reformular o nosso
próprio entendimento das coisas e das nossas convicções pessoais.
Entendida neste contexto, a formação ao longo do percurso profissional
deverá fundamentar-se na necessidade e exigência da alteração de atitudes,
mentalidades e competências profissionais e pessoais, com vista a um
melhor desempenho da prática lectiva, tendo como horizonte a consequente
melhoria da aprendizagem desenvolvimento integral dos alunos. Alunos que
são, afinal, a única razão porque ainda existem escolas e professores.
Resta saber até que ponto todos os intervenientes no sistema educativo
estão receptivos a assumir e aceitar a decisão de passar do que se diz, ao
que faz. Ou, melhor, ao que deveria ser feito. Já que nesta matéria, e no
que respeita ao sistema educativo português, poucas experiências
significativas alteram a percepção de que, em termos de custos eficácia, a
formação permanente, quantas e quantas vezes, não tem passado do estatuto
mediano de um incontornável jogo de mútuos equívocos.
João Ruivo
ruivo@rvj.pt
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