CO-RESPONSABILIDADE NO
FINANCIAMENTO
Contratualizar é
preciso

O Governo tem actuado com rigor acrescido
na detecção de fraudes na Acção Social Escolar, garante o ministro da
Educação.
Júlio Pedrosa considera ser essencial continuar a assegurar que nenhum
aluno deixará de fazer o seu curso superior por falta de recursos
financeiros, nomeadamente os que são oriundos de regiões longínquas.
Em relação ao financiamento do Superior, o governante considera que cada
instituição deve contratualizar o seu projecto com o Ministério, num
acordo que define em cada caso as necessidades financeiras. E as
responsabilidades: umas do Estado, outras das universidades e
politécnicos.
Sobre a polémica criação do Instituto Universitário de Viseu, o ministro
“não abre o jogo” e anuncia apenas uma decisão antes de cessar funções.
Que relevância
atribui às instituições de Ensino Superior enquanto “motores” do
desenvolvimento regional?
Uma importância, sem dúvida, muito grande. As instituições de Ensino
superior têm cumprido essa missão, mas as exigências de progresso variam
com o tempo e as circunstâncias. Neste momento, preconizo que cada
estabelecimento faça um exercício de reflexão sobre qual é hoje a situação
da região em que a respectiva instituição está integrada, quais os
problemas com que se debatem e os factores de desenvolvimento mais
relevantes aos quais as instituições do superior podem estar associadas.
O modelo de
financiamento do Ensino Superior continua em debate. O que defende, a este
nível?
Deixe-me dizer-lhe que o orçamento para 2002 foi preparado com muita
responsabilidade por todos: instituições, conselhos de Reitores e dos
Politécnicos e pelo Governo, de modo a se chegar a um orçamento que
permitisse aos estabelecimentos de Ensino Superior funcionarem com
normalidade este ano. As instituições conhecem o quê que lhes está
destinado, como componente desse orçamento. Antes de cessarmos funções,
pensamos que poderemos ter à nossa disposição um primeiro trabalho sobre o
que poderá ser o desenvolvimento do modelo de financiamento que existe
actualmente. É um trabalho que deverá continuar, constituindo um
contributo e uma base para a próxima equipa governativa. Se cada escola
passar a dispor de um projecto institucional próprio, contratualizado com
o Ministério da Educação, no acordo deverá surgir o modelo de
financiamento que essa escola acolherá. Serão definidas, naturalmente, as
responsabilidades do Estado e da instituição, em termos da procura e uso
de outro tipo de receitas que aquela poderá obter. O objectivo final do
projecto é o de ser desenvolvido com qualidade e de modo adequado por uma
escola em concreto. Em resumo, defendo instituições com projectos,
contratualizados nos seus objectivos e enquadrados na política nacional de
Ensino Superior. Estes são aspectos que constam do trabalho que será
objecto de debate ainda antes de cessarmos funções.
Muitos dos
principais investigadores portugueses têm-se afirmado e alcançaram um
grande êxito no estrangeiro. Porque não o conseguiram em Portugal?
Temos excelentes equipas de investigação em Portugal, nomeadamente nas
universidades públicas, com reconhecimento internacional. Publicam a bom
ritmo em meios prestigiados. Um grande “salto” que as universidades
públicas conseguiram nos últimos anos foi o da sua capacidade de
realizarem formação pós-graduada. Nem as universidades privadas, nem as
públicas mais novas nem os politécnicos teriam se desenvolvido ao ritmo a
que progrediram se não tivesse existido uma grande capacidade de formar
mestres e doutores. Os índices de publicação científica em revistas de
mérito não teriam sido tão bons se não se tivessem formado equipas de
investigação de tão elevada qualidade como as que se constituíram nas
universidades. A avaliação que foi efectuada pela Fundação para a Ciência
e Tecnologia das equipas de investigação portuguesas, por parte de júris
internacionais classificou algumas delas como excelentes. Os indicadores
demonstram-no. É um caminho a prosseguir. O que acontece é que o país tem
o desenvolvimento que tem e há um passivo para corrigir. Defendo que devem
ser dadas melhores condições para possibilitar uma ainda mais forte
capacidade de investigação. Precisamos de ter mais investigadores a tempo
inteiro nas instituições. Os investigadores jovens que queiram realizar as
suas pesquisas devem poder fazê-lo. O trabalho que estamos a efectuar com
as universidades e politécnicos no domínio da revisão do estatuto da
Carreira Docente integra o objectivo de dar um impulso à investigação
científica nas escolas de Ensino Superior.
Há famílias que têm os seus filhos a estudarem
longe de casa, suportando grandes encargos financeiros. São cada vez mais
os alunos que o fazem. O que tem feito o Governo no sentido de apoiar?
Esse apoio deve ser a principal missão dos Serviços de Acção Social. Todos
os alunos carenciados devem ter condições para estudarem e fazerem o seu
curso superior. Os serviços têm de ser cada vez mais eficientes a
identificar reais alunos carenciados, no combate às fraudes que,
infelizmente, ainda ocorrem. Tal é preciso para que existam recursos
disponíveis de modo a que nenhum aluno carenciado fique sem o apoio da
Acção Social, com os requisitos normais de progressão dos estudos. Há
meios para apoio directo, através de bolsas e por meio da disponibilização
de residências, refeições e outro tipo de apoios. O Governo tem prestado
uma atenção sistemática aos recursos da Acção Social, que têm aumentado,
quer em investimentos para refeitórios e residências, quer para as bolsas
de estudo. Temos também verificado regularmente o cumprimento do objectivo
essencial de que ninguém deixe de fazer o seu curso por falta de ajudas do
Estado. Posso adiantar que está a ser ultimado um estudo sobre o modelo de
financiamento da Acção Social para podermos ser, também a este nível, mais
rigorosos e justos no uso e distribuição de recursos.
Numa altura em
que se coloca a hipótese de fusões entre universidades privadas, como
encara o panorama actual do sector privado?
Temos vindo a colaborar com a Associação Portuguesa de Ensino Superior
Privado e Cooperativo no sentido da definição de áreas prioritárias de
intervenção, tendo para o efeito sido constituído um grupo de trabalho
conjunto. Vamos continuar, na medida do possível, a elaboração do Estatuto
do Ensino Superior Privado e Cooperativo, enquanto preparamos legislação
de enquadramento das instituições para responder a eventuais problemas de
reajustamento na rede. A questão que colocou de associação ou fusões de
instituições integra esta lista de matérias do referido grupo de trabalho.
Foi, por outro lado, identificada a necessidade de se acelerar o
desenvolvimento das metodologias de avaliação de cursos. São matérias
consideradas como prioritárias. Naquilo que forem questões do âmbito de um
Governo de gestão iremos resolver as que pudermos; as outras serão
consideradas em trabalhos que ficarão para a próxima equipa governativa
analisar e dar continuidade, se assim o entender. Mas, não estamos parados
com sentido de responsabilidade.
Confirma a
decisão de aprovação do Instituto Universitário de Viseu, duramente
criticada pelo Conselho de Politécnicos por não se inserir no âmbito de um
Governo de gestão?
Assumiremos as nossas responsabilidades. Em relação a essa matéria, o que
foi dito é que antes do Governo cessar funções tomará uma decisão. E não
acrescento nada mais em relação a esse assunto.
BÁSICO E SECUNDÁRIO
Reformar com precaução
Júlio Pedrosa tem nas reformas do Básico
e Secundário as políticas mais marcantes da sua governação.
Tal como revelou ao «Ensino Magazine», são mudanças que têm vindo a ser
preparadas e organizadas com todo o cuidado. Não são visíveis aos olhos da
opinião pública, mas é um trabalho “de bastidores” que dará frutos,
garante o ministro.
Semear para o futuro é o que pode fazer a escasso tempo de cessar funções,
depois da inesperada decisão de António Guterres de pedir demissão de
Primeiro-Ministro.
Oriundo da Universidade de Aveiro, onde era Reitor, com um trabalho
reconhecido nessa instituição e uma actuação marcante como Presidente do
Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, não teve tempo para
revelar o mesmo brilhantismo no Executivo socialista.
Mesmo assim, deixa ao seu sucessor no Ministério da Educação estudos que
constituem bases de trabalho importante. Pontos de partida para decisões
políticas, sejam elas ou não no mesmo sentido. Nas suas palavras, é
notória uma preocupação com a necessidade das instituições de Ensino
Superior em ajudarem ao desenvolvimento do país. No interior sobretudo,
têm sido “motores” do progresso. É por aí o caminho, defende Júlio Pedrosa,
para quem a qualidade do Secundário é indispensável para que os alunos
cheguem às universidades e politécnicos melhor preparados. Daí a aposta em
mudanças curriculares, mas não só. O ministro lembra e relembra
constantemente que a intervenção chega à melhoria das instalações das
escolas. Mais laboratórios, bibliotecas e computadores, aliados ao ensino
experimental. Formas de se ultrapassar a tradicional crítica que os
empresários portugueses formulam de que a Educação do país é demasiado
teórica e sem ligação à prática. Por isso, o ensino profissional está a
ser acarinhado, salienta o governante.
Ao nosso jornal, o ministro revelou sempre precaução. Nada de “revoluções”
abruptas de um sistema complexo, grande e que “mexe” com todos os
portugueses, sejam eles pais e/ou professores. E que, afinal, “mexe”
especialmente com o futuro de Portugal como nação que se pretende moderna
e mais próxima da Europa.
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