Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano V    Nº48    Fevereiro 2002

Editorial


Comemorar os quatro

Parece ter sido ontem que apresentámos aos leitores e à comunicação social da região o número zero do Ensino Magazine e já lá vão quatro anos!

Talvez por isso o comemorar destas datas comece a ficar salpicado de palavras tentadoras do lugar comum. Mas se não formos nós a relembrar o caminho percorrido e a desafiar o imaginário futuro, quem o fará?

Perdoem-nos, pois, os leitores se uma vez mais aqui salientarmos o orgulho que constitui termos o privilégio de partilharmos com esta equipa de nobres jornalistas e editores a indisfarçável alegria de ver este projecto consolidado e com força anímica para se atrever a novos desafios.

Como se sabe, ao longo desta quase meia centena de edições o jornal atingiu a mítica tiragem de quinze mil exemplares e é distribuído e conhecido nos distritos de Castelo Branco, Portalegre, Guarda e Viseu. Alargou a qualidade e diversidade dos seus colaboradores, ganhou audiência na região da raia espanhola, lançou-se na publicação online das suas edições e, perdoem-nos a momentânea imodéstia, não recordamos um único objectivo que não tenha sido alcançado.

Talvez por isso a segurança que nos assalta e que confirmará a nossa presença, cada vez mais inovadora, em casa dos leitores em cada um dos meses do nosso quinto ano de vida que agora se iniciou.

Este aniversário comemora-se numa conjuntura em que educação e o ensino têm sido acusados de inércia e inoperância. O dedo acusador visa as escolas, os educadores mas, sobretudo, os responsáveis políticos que nas últimas décadas não souberam ou não quiseram colocar o sistema educativo português ao nível dos seus congéneres europeus.

A prová-lo, a passada semana ofereceu-nos um Manifesto para A Educação da República, assinado por quinhentas insuspeitas personalidades em que a educação e a função social da escola são postos em causa.

No Manifesto salienta-se que todos os estudos, nacionais e internacionais, apontam para a conclusão de que o País está a educar mal os seus filhos e essa é uma das razões fundamentais por que os portugueses continuam a não ser capazes de produzir a riqueza que consomem, sendo que Portugal, por essa via, se está a afastar dos padrões civilizacionais dos países com quem decidiu partilhar um futuro comum.

Segundo os autores, os países desenvolvidos renovaram os seus sistemas de educação e de formação profissional em pontos de viragem da sua história, enquanto Portugal, em vez da intervenção profunda e coerente que se impunha, viu os sucessivos governos optarem por encarar os problemas educativos à medida que surgiam, envolvendo-os numa densa teia de interesses e irracionalidades da qual agora ninguém se quer desenvencilhar.

Somos o país da comunidade europeia com maior taxa de abandono escolar e os que resistem a esse abandono recebem na escola uma educação deficiente e que não os prepara para o futuro.

Tudo isto apesar de sermos o país da União que, proporcionalmente, mais gasta com a educação mas que, surpreendentemente, piores resultados obtém.

Para os subscritores do documento excesso de democracia que chegou às escolas é hoje por muitos associado à ignorância, à demagogia, ao egoísmo e, sobretudo, à indisciplina e à irresponsabilidade.

O diagnóstico não poderia ser mais demolidor, mas talvez indispensável. O que se pretende, agora, é não mais disfarçar o que, de facto, a comunidade educativa envergonhadamente sentia mas que, por hábitos corporativos que urge ultrapassar, sistematicamente omitia.

Ninguém melhor que os professores e os alunos sabem o que se passa dentro das paredes das nossas escolas. Ninguém melhor que eles estão habilitados a abrir o debate, sem receios nem complexos, com vista a que se ultrapassem, definitivamente estes escolhos que nos envergonham e intimidam.

Por isso apelamos aos leitores que aproveitem as páginas deste jornal como espaço plural para a troca de ideias e ideais. Por isso apelamos a que cada um de vós contribua para a busca de uma solução educativa que reponha as nossas escolas no caminho da excelência. É este o desafio que aqui vos deixamos, sabendo que com vocês não estaremos sozinhos na difícil tarefa de questionar os problemas da educação e do profissionalismo docente.

João Ruivo
ruivo@rvj.pt

 


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