
Comemorar os quatro
Parece ter sido ontem que apresentámos
aos leitores e à comunicação social da região o número zero do Ensino
Magazine e já lá vão quatro anos!
Talvez por isso o comemorar destas datas comece a ficar salpicado de
palavras tentadoras do lugar comum. Mas se não formos nós a relembrar o
caminho percorrido e a desafiar o imaginário futuro, quem o fará?
Perdoem-nos, pois, os leitores se uma vez mais aqui salientarmos o orgulho
que constitui termos o privilégio de partilharmos com esta equipa de
nobres jornalistas e editores a indisfarçável alegria de ver este projecto
consolidado e com força anímica para se atrever a novos desafios.
Como se sabe, ao longo desta quase meia centena de edições o jornal
atingiu a mítica tiragem de quinze mil exemplares e é distribuído e
conhecido nos distritos de Castelo Branco, Portalegre, Guarda e Viseu.
Alargou a qualidade e diversidade dos seus colaboradores, ganhou audiência
na região da raia espanhola, lançou-se na publicação online das suas
edições e, perdoem-nos a momentânea imodéstia, não recordamos um único
objectivo que não tenha sido alcançado.
Talvez por isso a segurança que nos assalta e que confirmará a nossa
presença, cada vez mais inovadora, em casa dos leitores em cada um dos
meses do nosso quinto ano de vida que agora se iniciou.
Este aniversário comemora-se numa conjuntura em que educação e o ensino
têm sido acusados de inércia e inoperância. O dedo acusador visa as
escolas, os educadores mas, sobretudo, os responsáveis políticos que nas
últimas décadas não souberam ou não quiseram colocar o sistema educativo
português ao nível dos seus congéneres europeus.
A prová-lo, a passada semana ofereceu-nos um Manifesto para A Educação da
República, assinado por quinhentas insuspeitas personalidades em que a
educação e a função social da escola são postos em causa.
No Manifesto salienta-se que todos os estudos, nacionais e internacionais,
apontam para a conclusão de que o País está a educar mal os seus filhos e
essa é uma das razões fundamentais por que os portugueses continuam a não
ser capazes de produzir a riqueza que consomem, sendo que Portugal, por
essa via, se está a afastar dos padrões civilizacionais dos países com
quem decidiu partilhar um futuro comum.
Segundo os autores, os países desenvolvidos renovaram os seus sistemas de
educação e de formação profissional em pontos de viragem da sua história,
enquanto Portugal, em vez da intervenção profunda e coerente que se
impunha, viu os sucessivos governos optarem por encarar os problemas
educativos à medida que surgiam, envolvendo-os numa densa teia de
interesses e irracionalidades da qual agora ninguém se quer
desenvencilhar.
Somos o país da comunidade europeia com maior taxa de abandono escolar e
os que resistem a esse abandono recebem na escola uma educação deficiente
e que não os prepara para o futuro.
Tudo isto apesar de sermos o país da União que, proporcionalmente, mais
gasta com a educação mas que, surpreendentemente, piores resultados obtém.
Para os subscritores do documento excesso de democracia que chegou às
escolas é hoje por muitos associado à ignorância, à demagogia, ao egoísmo
e, sobretudo, à indisciplina e à irresponsabilidade.
O diagnóstico não poderia ser mais demolidor, mas talvez indispensável. O
que se pretende, agora, é não mais disfarçar o que, de facto, a comunidade
educativa envergonhadamente sentia mas que, por hábitos corporativos que
urge ultrapassar, sistematicamente omitia.
Ninguém melhor que os professores e os alunos sabem o que se passa dentro
das paredes das nossas escolas. Ninguém melhor que eles estão habilitados
a abrir o debate, sem receios nem complexos, com vista a que se
ultrapassem, definitivamente estes escolhos que nos envergonham e
intimidam.
Por isso apelamos aos leitores que aproveitem as páginas deste jornal como
espaço plural para a troca de ideias e ideais. Por isso apelamos a que
cada um de vós contribua para a busca de uma solução educativa que reponha
as nossas escolas no caminho da excelência. É este o desafio que aqui vos
deixamos, sabendo que com vocês não estaremos sozinhos na difícil tarefa
de questionar os problemas da educação e do profissionalismo docente.

João Ruivo
ruivo@rvj.pt
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