GENTE & LIVROS
Emily Brontë
“Fiquei completamente
aterrorizado pela intensidade do pesadelo. Tentei largar a mão, mas ela
agarrou-se ainda com mais força. Subitamente, escutei uma voz extremamente
melancólica e triste, soluçando.
«Deixe-me entrar, por favor, deixe-me entrar!»
«Quem és tu?» perguntei, lutando desesperadamente para me libertar da mão
que me agarrava.
«Catherine Linton» respondeu a voz, trémula…
(…)
«Vai-te!» gritei. «Nunca te deixarei entrar, nem que implores vinte anos».
«Vinte anos» lamentou-se, «Há vinte anos que ando a penar!»”
In O Monte dos Vendavais
Emily Brontë é uma das três irmãs que se tornaram escritoras conhecidas.
Nasceu a 30 de Julho de 1918 em Thornton, Yorkshire, no Norte de
Inglaterra. O pai amava a poesia e publica vários livros de poesia, de
prosa e escreve para jornais locais. A mãe morre de cancro em 1821 e a tia
vem viver com a família.
Entre 1824 e 1825 Emily frequenta escola mas depois da morte das duas
irmãs mais velhas passa a ser educada em casa. Para escapar a uma infância
infeliz os irmãos Brontë criam mundos imaginários - talvez inspirados nas
viagens de Gulliver de Jonathan Swift.
Em 1835 estuda em Roe Head, onde a irmã é professora, mas fica doente e
regressa a casa. Em 1838 ensina, durante apenas seis meses, na escola de
Miss Hatchett, para retornar novamente a casa. Volta a estudar (Francês e
Inglês) em 1842, mas a tia morre e Emily volta para o funeral e acaba por
ficar a tomar conta da casa.
O irmão morre a 24 de Setembro de 1848 depois de “três anos de excessiva
indulgência com álcool e drogas”. Emily fica doente no seu funeral e
recusa qualquer ajuda médica. Morre a 19 de Dezembro do mesmo ano vitimada
pela tuberculose.
O Monte dos Vendavais reproduz muito da atmosfera pesada em que viveram as
irmãs Brontë. Triângulo amoroso passado na Inglaterra pré-vitoriana
transporta-nos às charnecas bucólicas do Yorkshire e a uma propriedade
açoitada por ventos devastadores. A história é narrada por Lockwood um
cavalheiro de visita ao Yorkshire e por Mrs Dean, a governanta da família
Earnshaw. A narrativa gira em torno de Heathcliff.
Mr Earnshaw no regresso de uma viagem traz consigo Heathcliff, que passa a
ser tratado como Catherine e Hindley, seus filhos. Após a morte de Mr
Earnshaw, Heathcliff farto do ódio de Hindley, vai-se embora só voltando
três anos depois. Entretanto Catherine casou com Edgar Linton e Heathcliff
transforma num inferno a vida de todos os que estavam no caminho da sua
paixão por Catherine Earnshaw... 
Eugénia Sousa
Florinda Baptista
LIVROS
Novidades
PIAGET. As Políticas da Água na Europa de Bernard Barraqué . As
necessidade de água tem vindo a crescer de forma incomensurável sendo
prioritário rever as políticas europeias para a água. A gestão deste
recurso deverá ser pública ou privada? centralizada ou descentralizada?
São algumas questões abordadas nesta obra que integra ainda um conjunto de
estudos, sobre a política da água, por cada um dos 15 países membros da
União Europeia.
GRADIVA. Primeiro Constrói-se uma Nuvem de K. C. Cole
acompanha-nos ao mundo da física, partilhando com o leitor as suas
conversas com cientistas tão famosos como Richard Feynman, os irmãos
Oppenheimer, Victor Weisskopf e Philip Morrison. «O entusiasmo de K.C.
Cole pelas grandes teorias da física moderna - a sua beleza, poder,
profundidade filosófica e, é verdade, relevância para a vida moderna - é
irresistível». - Martin Garden.
ASSÍRIO & ALVIM. Levar a cabo a tarefa de publicar, na integra,
a obra de Almada Negreiros é o que se propõe a editora. Na colecção «Obra
Literária de José de Almada Negreiros» estão disponíveis os títulos:
Poemas, Nome de Guerra, Ficções, Teatro, Manifestos e Conferências,
Artigos, Entrevistas, Ensaios, Ver e Correspondência. A edição de K4 O
Quadrado Azul (edição fac-similada) inicia outra série de títulos. A
publicar, as reedições do catálogo Almada - A Cena do Corpo (em
colaboração com o Centro Cultural de Belém), o álbum de desenhos
Maternidade e uma recolha da sua actividade no período Futurista.
ASA. O Direito à Educação: Uma Educação para Todos Durante Toda
a Vida é um relatório da UNESCO que nos apresenta uma reflexão sobre o
direito à educação, desde o ensino básico até à aprendizagem permanente. O
Direito à Educação e a sua importância como pilar fundamental para a paz,
o desenvolvimento dos povos, a necessidade de novos compromissos e
intensificação de esforços para a Educação de Todos.

BOCAS DO GALINHEIRO
O regresso dos
fantasmas

Num curto espaço de tempo
tivemos oportunidade de ver no S. Tiago dois filmes da dupla, se é que lhe
podemos chamar assim, Tom Cruise e Alejandro Amenábar: “Vanilla Sky” e “Os
Outros”.Com “Os Outros”, o cineasta Alejandro Amenabár, chileno de 29
anos, radicado em Espanha, desde os sete, assina a sua terceira longa
metragem, e fá-lo de maneira brilhante, marcando assim a sua primeira
experiência no cinema americano, à “custa” dos dólares de Cruise, o
produtor, admirador do jovem realizador depois de “Abre los ojos”, uma
mistura de fantasia com a realidade, bem acolhida pelo público e da qual
Cameron Crowe rodou o “remake” norte-americano, exactamente “Vanilla Sky”,
com Tom Cruise e Penélope Cruz, o novo par da moda.
Ao assistirmos à projecção de “Os Outros”, vem-nos à memória, o excelente
filme de Jack Clayton , “Os Inocentes”, quanto a nós a adaptação mais
significativa de “The turn of the screw” (Calafrio), de Henry James.
Também a acção tinha lugar numa velha mansão, onde vivem sozinhas duas
crianças com uma governanta e uma tutora (Deborah Kerr) e os fantasmas
“acordavam” criando uma atmosfera inquietante. No ar pairavam o medo e o
terror.
Em “Os Outros”, detectam-se várias referências a filmes clássicos, de
James Whale a Hitchcock, passando por William Dietenle ou pelo “A casa
maldita” (The hounting”) de 1963, uma “fita” onde os fantasmas são
habilmente conduzidos por Robert Wise, até ao “6º Sentido”, de M.Night
Shyamalan (1999).
Amenábar, também autor do argumento e da banda sonora, situa a intriga
numa mansão victoriana, localizada numa ilha de Jersey, no Canal da
Mancha, que tinha sido ocupada pelos alemães.
Ali habitam Grace (Nicole Kidman, numa notável interpretação, claramente
favorita ao Oscar deste ano por “Moulin Rouge”) esperando o regresso do
marido, desaparecido durante a II Grande Guerra, e os seus dois filhos,
Anne (Alakina Mann) e Nicholas (James Bentley). Estes parecem sofrer de um
estranho mal que os impede de enfrentar a luz natural.
Logo na abertura do filme, o grito angustioso de Grace, dá o mote, para
sentirmos e entrarmos num clima carregado de uma atmosfera opressiva e
ameaçadora.
Certo dia chegam do “casarão” três estranhas personagens que parecem saber
mais do que aparentam para oferecer os seus serviços: Mrs. Mills (Fionulla
Flanagan), uma veterana, no papel de uma governanta possuidora de uma
presença um pouco misteriosa e dominadora), Mr.Tutlle (Eric Sylkes), o
jardineiro e Lydia (Elaine Cassidy), uma criada muda. Irão receber ordens
rigorosas, para que as cortinas estejam sempre corridas, e as inúmeras
portas existentes nos corredores sempre fechadas e quando uma se abre a
outra terá de ser imediatamente cerrada.
A iluminação é dada apenas por velas e candeeiros a petróleo, mesmo em
pleno dia. Assim, um piano que se ouve sem ninguém tocar, passos
indefinidos e outros ruídos, vão afectando Grace e os filhos. Até aqui os
ingredientes habituais de uma história normal e corrente, tão típica dos
chamado “ghost story”, já tantas vezes vistas no ecrã.
Mas Amenábar consegue, “fugindo ao exibicionismo e sem efeitos especiais,
graças a uma impecável realização, obter um equilíbrio perfeito entre a
referência e a originalidade, sem renunciar ao «dejá vu» cinéfilo,
apresentando ideias inovadoras para fazer da sua obra uma porta original
do «gótico cinematográfico»”.
Poderá dizer-se que o final surpreende e a luz inunda o ecrã; no entanto
quanto a nós, o sucesso do filme fica muito a dever-se ao excelente
trabalho de iluminação executado pelo fotógrafo Javier Aguirresarobe.
Anote-se a sequência, em que Grace caminha num bosque nubloso e aterrador
.
Passamos a palavras a Amenábar: “muito do terror que existe no meu filme
projecta-se no espectador através dos olhos de Nicole Kidman”, definindo a
fita como “uma reflexão sobre a culpa, esse sentimento católico espanhol“.
Alguém disse que “Os Outros” é mais um filme sobre a “culpa e a expiação
que sobre o medo ou o terror”.
Em determinado momento Mrs. Mills diz, à guisa de explicação que: “temos
de viver com os nossos mortos (são-nos mostradas, ao longo da narrativa,
fotografias de pessoas retractadas depois de mortas). É ainda Mrs. Mills,
a enigmática governanta que acrescenta: ”NÃO HÁ SEMPRE uma explicação para
todas as coisas”. Tem razão: o bom cinema não se explica, vê-se.

Luís Dinis da Rosa
com Joaquim Cabeças
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