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Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano V    Nº48    Fevereiro 2002

Cultura

GENTE & LIVROS

Emily Brontë

“Fiquei completamente aterrorizado pela intensidade do pesadelo. Tentei largar a mão, mas ela agarrou-se ainda com mais força. Subitamente, escutei uma voz extremamente melancólica e triste, soluçando.

«Deixe-me entrar, por favor, deixe-me entrar!»

«Quem és tu?» perguntei, lutando desesperadamente para me libertar da mão que me agarrava.

«Catherine Linton» respondeu a voz, trémula…

(…)

«Vai-te!» gritei. «Nunca te deixarei entrar, nem que implores vinte anos».

«Vinte anos» lamentou-se, «Há vinte anos que ando a penar!»”

In O Monte dos Vendavais

Emily Brontë é uma das três irmãs que se tornaram escritoras conhecidas. Nasceu a 30 de Julho de 1918 em Thornton, Yorkshire, no Norte de Inglaterra. O pai amava a poesia e publica vários livros de poesia, de prosa e escreve para jornais locais. A mãe morre de cancro em 1821 e a tia vem viver com a família.

Entre 1824 e 1825 Emily frequenta escola mas depois da morte das duas irmãs mais velhas passa a ser educada em casa. Para escapar a uma infância infeliz os irmãos Brontë criam mundos imaginários - talvez inspirados nas viagens de Gulliver de Jonathan Swift.

Em 1835 estuda em Roe Head, onde a irmã é professora, mas fica doente e regressa a casa. Em 1838 ensina, durante apenas seis meses, na escola de Miss Hatchett, para retornar novamente a casa. Volta a estudar (Francês e Inglês) em 1842, mas a tia morre e Emily volta para o funeral e acaba por ficar a tomar conta da casa.

O irmão morre a 24 de Setembro de 1848 depois de “três anos de excessiva indulgência com álcool e drogas”. Emily fica doente no seu funeral e recusa qualquer ajuda médica. Morre a 19 de Dezembro do mesmo ano vitimada pela tuberculose.


O Monte dos Vendavais reproduz muito da atmosfera pesada em que viveram as irmãs Brontë. Triângulo amoroso passado na Inglaterra pré-vitoriana transporta-nos às charnecas bucólicas do Yorkshire e a uma propriedade açoitada por ventos devastadores. A história é narrada por Lockwood um cavalheiro de visita ao Yorkshire e por Mrs Dean, a governanta da família Earnshaw. A narrativa gira em torno de Heathcliff.
Mr Earnshaw no regresso de uma viagem traz consigo Heathcliff, que passa a ser tratado como Catherine e Hindley, seus filhos. Após a morte de Mr Earnshaw, Heathcliff farto do ódio de Hindley, vai-se embora só voltando três anos depois. Entretanto Catherine casou com Edgar Linton e Heathcliff transforma num inferno a vida de todos os que estavam no caminho da sua paixão por Catherine Earnshaw...

Eugénia Sousa
Florinda Baptista

 

 

LIVROS

Novidades

PIAGET. As Políticas da Água na Europa de Bernard Barraqué . As necessidade de água tem vindo a crescer de forma incomensurável sendo prioritário rever as políticas europeias para a água. A gestão deste recurso deverá ser pública ou privada? centralizada ou descentralizada? São algumas questões abordadas nesta obra que integra ainda um conjunto de estudos, sobre a política da água, por cada um dos 15 países membros da União Europeia.
 

GRADIVA. Primeiro Constrói-se uma Nuvem de K. C. Cole acompanha-nos ao mundo da física, partilhando com o leitor as suas conversas com cientistas tão famosos como Richard Feynman, os irmãos Oppenheimer, Victor Weisskopf e Philip Morrison. «O entusiasmo de K.C. Cole pelas grandes teorias da física moderna - a sua beleza, poder, profundidade filosófica e, é verdade, relevância para a vida moderna - é irresistível». - Martin Garden.
 

ASSÍRIO & ALVIM. Levar a cabo a tarefa de publicar, na integra, a obra de Almada Negreiros é o que se propõe a editora. Na colecção «Obra Literária de José de Almada Negreiros» estão disponíveis os títulos: Poemas, Nome de Guerra, Ficções, Teatro, Manifestos e Conferências, Artigos, Entrevistas, Ensaios, Ver e Correspondência. A edição de K4 O Quadrado Azul (edição fac-similada) inicia outra série de títulos. A publicar, as reedições do catálogo Almada - A Cena do Corpo (em colaboração com o Centro Cultural de Belém), o álbum de desenhos Maternidade e uma recolha da sua actividade no período Futurista.
 

ASA. O Direito à Educação: Uma Educação para Todos Durante Toda a Vida é um relatório da UNESCO que nos apresenta uma reflexão sobre o direito à educação, desde o ensino básico até à aprendizagem permanente. O Direito à Educação e a sua importância como pilar fundamental para a paz, o desenvolvimento dos povos, a necessidade de novos compromissos e intensificação de esforços para a Educação de Todos.


 



BOCAS DO GALINHEIRO

O regresso dos fantasmas

Num curto espaço de tempo tivemos oportunidade de ver no S. Tiago dois filmes da dupla, se é que lhe podemos chamar assim, Tom Cruise e Alejandro Amenábar: “Vanilla Sky” e “Os Outros”.Com “Os Outros”, o cineasta Alejandro Amenabár, chileno de 29 anos, radicado em Espanha, desde os sete, assina a sua terceira longa metragem, e fá-lo de maneira brilhante, marcando assim a sua primeira experiência no cinema americano, à “custa” dos dólares de Cruise, o produtor, admirador do jovem realizador depois de “Abre los ojos”, uma mistura de fantasia com a realidade, bem acolhida pelo público e da qual Cameron Crowe rodou o “remake” norte-americano, exactamente “Vanilla Sky”, com Tom Cruise e Penélope Cruz, o novo par da moda.

Ao assistirmos à projecção de “Os Outros”, vem-nos à memória, o excelente filme de Jack Clayton , “Os Inocentes”, quanto a nós a adaptação mais significativa de “The turn of the screw” (Calafrio), de Henry James. Também a acção tinha lugar numa velha mansão, onde vivem sozinhas duas crianças com uma governanta e uma tutora (Deborah Kerr) e os fantasmas “acordavam” criando uma atmosfera inquietante. No ar pairavam o medo e o terror.

Em “Os Outros”, detectam-se várias referências a filmes clássicos, de James Whale a Hitchcock, passando por William Dietenle ou pelo “A casa maldita” (The hounting”) de 1963, uma “fita” onde os fantasmas são habilmente conduzidos por Robert Wise, até ao “6º Sentido”, de M.Night Shyamalan (1999).

Amenábar, também autor do argumento e da banda sonora, situa a intriga numa mansão victoriana, localizada numa ilha de Jersey, no Canal da Mancha, que tinha sido ocupada pelos alemães.

Ali habitam Grace (Nicole Kidman, numa notável interpretação, claramente favorita ao Oscar deste ano por “Moulin Rouge”) esperando o regresso do marido, desaparecido durante a II Grande Guerra, e os seus dois filhos, Anne (Alakina Mann) e Nicholas (James Bentley). Estes parecem sofrer de um estranho mal que os impede de enfrentar a luz natural.

Logo na abertura do filme, o grito angustioso de Grace, dá o mote, para sentirmos e entrarmos num clima carregado de uma atmosfera opressiva e ameaçadora.

Certo dia chegam do “casarão” três estranhas personagens que parecem saber mais do que aparentam para oferecer os seus serviços: Mrs. Mills (Fionulla Flanagan), uma veterana, no papel de uma governanta possuidora de uma presença um pouco misteriosa e dominadora), Mr.Tutlle (Eric Sylkes), o jardineiro e Lydia (Elaine Cassidy), uma criada muda. Irão receber ordens rigorosas, para que as cortinas estejam sempre corridas, e as inúmeras portas existentes nos corredores sempre fechadas e quando uma se abre a outra terá de ser imediatamente cerrada.

A iluminação é dada apenas por velas e candeeiros a petróleo, mesmo em pleno dia. Assim, um piano que se ouve sem ninguém tocar, passos indefinidos e outros ruídos, vão afectando Grace e os filhos. Até aqui os ingredientes habituais de uma história normal e corrente, tão típica dos chamado “ghost story”, já tantas vezes vistas no ecrã.

Mas Amenábar consegue, “fugindo ao exibicionismo e sem efeitos especiais, graças a uma impecável realização, obter um equilíbrio perfeito entre a referência e a originalidade, sem renunciar ao «dejá vu» cinéfilo, apresentando ideias inovadoras para fazer da sua obra uma porta original do «gótico cinematográfico»”.

Poderá dizer-se que o final surpreende e a luz inunda o ecrã; no entanto quanto a nós, o sucesso do filme fica muito a dever-se ao excelente trabalho de iluminação executado pelo fotógrafo Javier Aguirresarobe. Anote-se a sequência, em que Grace caminha num bosque nubloso e aterrador .

Passamos a palavras a Amenábar: “muito do terror que existe no meu filme projecta-se no espectador através dos olhos de Nicole Kidman”, definindo a fita como “uma reflexão sobre a culpa, esse sentimento católico espanhol“. Alguém disse que “Os Outros” é mais um filme sobre a “culpa e a expiação que sobre o medo ou o terror”.

Em determinado momento Mrs. Mills diz, à guisa de explicação que: “temos de viver com os nossos mortos (são-nos mostradas, ao longo da narrativa, fotografias de pessoas retractadas depois de mortas). É ainda Mrs. Mills, a enigmática governanta que acrescenta: ”NÃO HÁ SEMPRE uma explicação para todas as coisas”. Tem razão: o bom cinema não se explica, vê-se.

Luís Dinis da Rosa
com Joaquim Cabeças

 


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