Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano V    Nº50    Abril 2002

Opinião

CAPITAL EUROPEIA DA CULTURA

Cultura em Salamanca

Como é sabido, o Porto passou a Salamanca o testemunho da Capital Europeia da Cultura. Como cidade europeia da cultura, Salamanca assume-se como um importante centro pedagógico - cultural que todos os portugueses, devem ter em conta.

O distrito de Castelo Branco, como centro geodésico nacional, pode orgulhar-se da interioridade ter destas coisas: se por um lado está arredado dos grandes centros artísticos litorais, por outro está no centro geográfico da anterior e da actual Capital Europeia da Cultura.

A título de exemplo aqui deixamos algumas actividades agendadas que irão decorrer até ao final do mês de Abril; entre elas, algumas prolongam-se até ao mês de Junho:
Desde 22 de Abril, exposição das obras fundamentais do museu de Arte Moderna e Arte Contemporânea de Lieja, no cento de Arte de Salamanca. Autores como Claude Monet, Camille Pissarro, Paul Gauguin, Pablo Picasso, Marc Chagall entre muitos outros, cujas obras são objecto de estudo obrigatório, estarão patentes até 16 de Junho.

Ainda no mesmo dia será inaugurada a exposição de tapeçaria flamenga do século XV ao século XVII. A mostra decorrerá na Catedral de Salamanca 30 de Junho.

A exposição intitulada “Quadros de História” de Carl de Keyzer decorrerá no centro de Arte de Salamanca de 24 de Abril a 16 de Junho.

No dia 25 de Abril será inaugurada mais uma exposição - Lorna Simpson no centro de Arte de Salamanca, que estará patente até ao dia 23 de Junho.

A Fotografia também tem o seu lugar, no dia 26 de Abril inaugurar-se-á a exposição “Salamanca: um projecto fotográfico” no centro de Arte de Salamanca. Esta mostra poderá ser apreciada até ao dia 16 de Junho.

No dia 27 de Abril a orquestra o Concerto das Nações e o coro da Capela Rei da Catalunha, actuarão às 20h30 no Teatro Liceo. De todas estas actividades apresentadas, esta é a única com bilhete de ingresso com custo entre 12 a 22 Euros. 
Estes são apenas alguns bons exemplos da actividade cultural da Cidade de Tornes até ao final do mês de Abril. Se pensa em visitar Salamanca brevemente, poderá consultar mais detalhadamente a sua oferta cultural em www.salamanca2002.org
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Sérgio Pereira

 

 

 

NO FINAL DO MILÉNIO

Jovem versus Juventude

A problemática das gerações determina no desenvolvimento das sociedades uma preocupação pela juventude. Este sentido amplo da questão tem raízes filosóficas e psicopedagógicas antigas, provenientes da antiga Grécia (Homero, Socrates, Platão, Aristóteles), de Roma (Lucrécio, Cícero, Séneca, Quintiliano), da Idade Média (visão teológica), em Espinoza, etc., e, ainda, nas relações entre pais e filhos. Tivemos que esperar ao Século XVIII, com Rousseau (‘O Emílio’), para que a juventude começasse a ter um valor social, integrando-se no modo de pensar optimista e inovador da classe burguesa e da Ilustração. A infância foi conhecida de forma tardia, ao conhecer-se que ela necessitava de um tratamento socioeducativo diferenciado do adulto. Não nos esquecemos que nos encontramos numa época em que a criança começa a ter impacto na vida do lar, na estrutura social, nas pautas socializadas na família e na escola, contribuindo-se a cristalizar a ideia que a ‘juventude’ está por ‘fazer-se’, por adquirir a sua condição de etapa de vida e de dignidade própria.

Posteriormente, esta preocupação estendeu-se a outros pensadores entre eles Ribeiro Sanches e mais recentemente a Spranger, S. Hall, Mannheim, Stern, Bühler, Piaget, Köhlberg, Erikson, Keniston, etc. Parece que o termo ‘juventude’ entrou no debate contemporâneo, desde a burguesia, idealizando-se cada vez mais a sua presença e protagonismo social na dinâmica das sociedades. Por isso, esta etapa de ‘transição’ entre a ‘infância’ e o adulto vai procurando a sua identidade, como uma superação de provas à sociedade, de tal modo que se entranha numa axiologia e em normas comportamentais e atitudinais próprias, para além duma posição que ocupa na educação, no trabalho, nos grupos sociais, na responsabilidade dos direitos e deveres sociais, etc. Sabemos, quão difícil são as discrepâncias existentes quando vinculamos os jovens aos processos de inserção socio-profissional, de tal modo, que configurou-os numa ‘categoria social’ sui generis.

Não é por acaso que autores como Johnson, Jousselin, Touraine, Goodman e os defensores da autogestão (Mendel, Vogt, Neil, etc.) esboçam os problemas da juventude, demonstrando a sua conversão em ‘classe’ (ideológica), recusando a sociedade mercantilista adulta e enfrentando-se à ideologia vigente (burguesa, capitalista, marxista, etc.). De facto, não é fácil explicar o que é a juventude e o que significa ‘ser-se jovem’, pois, encontrar-nos-emos entre um enfoque que substitui a simplificação demográfica (significado da juventude em termos evolutivos, biológicos e psicossociais, unido a certos períodos de idade) pela complexidade das realidades sociais (esta considera-a como uma ‘categoria sociológica’ manifestada pelas estruturas sociais).

Trata-se, efectivamente, de uma polivalência de um conceito que não só expressa um modo de ‘sentir’, de ‘ser’ e de ‘querer’, como experiências, modos de agir e actuar em público nos vários sectores da sociedade. Atrevemo-nos a dizer que os jovens são o marco de referência nos diversos discursos públicos, institucionais, políticos, literários, nos meios de comunicação social, na publicidade, na moda, no consumo, etc., constituindo uma presença e um referencial habitual na actualidade.

Devido à ambiguidade do termo, não existe uma só juventude, mas ‘juventudes’ ou ‘jovens’, sendo muito diferente o que ela própria significa para os jovens dentro do mesmo grupo etário. De opinião contrária está P. Bourdieu (1980: 143 ss) dizendo que ‘a juventude é uma simples palavra’, ou D. Coupland (1990) que a tipifica como ‘geração X’, ou mesmo a polémica designação portuguesa de ‘geração rasca’, tópico ou marca de uma época própria. Pondo de parte estas dificuldades terminológicas, os desafios conceptualizadores são difíceis, pois, pretendem definir a juventude com critérios complementares amplos (biológicos, psicológicos, antropológicos, legislativos, jurídicos, demográfico, económicos, culturais, etc.) que possibilitam a sua interpretação diferenciada. Os próprios organismos internacionais, a administração pública e os especialistas de política da juventude não ficam atrás nesses atributos.

Este debate conceptual não está à margem da preocupação pelos seus perfis na sociedade contemporânea. O tema da juventude, segundo estatísticas emitidas pela UNESCO, é um dos mais significativos nas publicações científicas desde a década dos 70. A inquietação dos especialistas sociais coincide com a nova história que escrevem os jovens na sociedade, desde que a começaram preocupar com os seus discursos e intervenções. Os estudos dos fenómenos relacionado com a juventude são contributos importantes para diagnosticar muitos dos aspectos relevantes das sociedades e da época.

Seja qual for a análise que façamos, jovens e/ou juventude é uma realidade humana e social que quotidianamente designamos como tal, supondo um momento de vida do ser humano em que se define e se estrutura os quadros de valores (implícitos e explícitos) do sujeito. Daí que estudar a juventude supõem ultrapassar o marco dos problemas biológicos, psicológicos, sociológicos e educativos para situar-nos em variadas circunstâncias e factores determinantes para analisar o seu papel na sociedade actual, principalmente em relação à sua formação, inserção social e profissional, direitos e liberdades, ócio e tempos livres, conflito de gerações e desviação social, formas de acção e políticas de juventude, etc. Deste modo hoje em dia faz falta uma Sociologia da Juventude e uma Pedagogia ou Psicopedagogia da Juventude que analise este colectivo geracional que teve em 1985 o seu Ano Internacional.

Ernesto Candeias Martins
(Professor Adjunto e subdirector da ESE de Castelo Branco)

 


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