Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano IV    Nº43    Setembro 2001

Opinião

CRÓNICA

Rentrée

Não fosse o tamanho desproporcionado e a epígrafe poderia ser: Os manos Dupont & Dupont no mercado abastecedor de Lisboa, après Hergé, e os estranhos casos do grande jardineiro que deixou murchar a rosa versus a morte anunciada do desparasitar da Lapa.

Ninguém entenderia semelhante atrevimento. Pelo tamanho ousado do título e pela conotação detectivesca, francamente despropositada.

Rentrée fica melhor, pese embora o senão de se tratar duma piedosa mentira: ninguém entra quando nunca de cá saiu!

O discurso é repetido, os argumentos estão gastos e as caras são as mesmas de sempre, tal como no inevitável acordar dos ursos, as diferenças resumem-se aos evidentes sinais da dieta e na fome da ressaca.

As áreas de intervenção são as devotas (de votos), as paixões, as críticas, as promessas já foram vistas noutros filmes. Nada de novo. O queijo flamengo poderá vir outra vez a impor-se e nunca se ouvirá em público uma frase do género:

- Oh porra, eu próprio nunca sei quando estou a mentir!

Felizmente temos um ministro das Finanças, que é aquele homem de porte austero, a dar ares de quem sabe que duas moedas de vinte e cinco tostões somam cinco paus, embora esteja a precisar que o informem de que as moedas de cinco coroas já não circulam.

Disse ele para não fazermos em Janeiro o que podemos fazer hoje. Isto é, benesses só até Dezembro. Em vésperas de autárquicas e da aprovação do orçamento, é obra, sabendo como se sabe de mais que certa promiscuidade entre ambos os eventos. E então permitam-me estas contas: ou não passa o orçamento e é já uma crítica antecipada ao novo executivo, aparecendo então com o mesmo ar austero, dizendo: foi o que eu disse; ou os eleitores tomam lugar neste autocarro e em 2002 o ministro perderá o fôlego e o lugar a desmentir o que, sem ele, poderia ter acontecido.
Entretanto, uma fila interminável e ansiosa de boys e girls acotovelam-se a porta de ministérios, fundações e outros albergues da política que nos saiu na rifa, cuja quermesse tinha tão boas intenções na bênção de 95.

Quero lá saber das outras pastas. Está tudo dito. Este Oliveira sabe-a toda; esteve em todas.

João de Sousa Teixeira

 


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