Bolonha aí à porta
Com a aplicação em Portugal da recomendações da Declaração de Bolonha o ensino superior em geral e a formação de professores, em particular, irão assistir a uma mudança significativa e, digamos, mesmo indispensável.
A livre circulação de diplomados em toda a Europa assim o exige. A normalização de diplomas e graus a isso o obriga.
No que respeita a formação de docentes tal oportunidade não devia ser perdida para se proceder a toda uma revisão da estrutura curricular e dos objectivos da formação, aproximando-os da realidade vivida nas nossas escolas de ensino básico e secundário que, nos últimos anos evoluíram exponencialmente. No fundo, conviria reconhecer que em muitas escolas de formação há alguns formadores que deixaram de formar para... “darem aulas”, no pior dos sentidos da expressão popular.
Por isso entendemos que, formar professores para a próxima década deveria significar:
- O reconhecimento de que uma formação inicial plástica e em banda larga que permita melhorar a reconversão profissional, a adaptação à mudança dinâmica, contribuindo para anular o que já aqui, nas páginas deste jornal, designámos por “Complexo de Dinossauro”.
- A prioridade ao desenvolvimento de programas de formação permanente, centrados nas escolas, admitindo que a formação de professores é um investimento e não um custo social consentido.
- Que os docentes devem ser formados para saber a aprender, buscando, manipulando, e utilizando a informação, com domínio das novas tecnologias, designadamente as novas tecnologias da informação e da comunicação.
- Que se revalorizem os aspectos éticos e culturais da formação, levando os professores ao auto-conhecimento, à reflexão, à crítica e auto-crítica construtivas, acompanhando esses progressos no respeito pela pessoa humana.
- Que para promover o desenvolvimento permanente se torne urgente flexibilizar os curricula de formação. Currículos flexíveis, são estruturas orientadoras pedagogicamente ecológicas. Isto é: possibilitam a permanente adaptação desse mecanismos às modificações dos ambientes socio-culturais. Logo, em nosso entender, muitos desses currículos terão que ser “descartáveis” e “bio-degradáveis”. Só assim serão pedagogicamente “ecológicos”, não deixando sinais de destruição no ambiente educativo. Um verdadeiro de formação de docentes é aquele que não nos obriga a pensar, constantemente, de que se trata de um currículo de formação.
- A revalorização da função docente. A melhoria da imagem social dos professores. O reajustamento do seu estatuto remuneratório. A motivação dos melhores alunos para o ingresso na carreira docente. O ajustamento das condições de trabalho às condições que lhes são exigidas... Os docentes não podem responder aos desafios do futuro se não possuírem conhecimentos e competências
actualizadas, qualidades pessoais, motivação e satisfação profissionais.
- E que, finalmente, a formação de professores contemple a educação de técnicos altamente qualificados mas, simultaneamente, a de profissionais visionários, empreendedores e responsáveis pela construção e desenvolvimento da sociedade que integram. Na compreensão de que os professores também são um dos pilares, indispensáveis, da construção do
futuro.
João Ruivo
ruivo@rvj.pt
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