Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano IV    Nº45    Novembro 2001

Universidade

NA VISITA À UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR

Jorge Sampaio exige qualidade

O presidente da República, Jorge Sampaio considera que o ensino superior tem que ganhar a batalha da qualidade, uma vez que a batalha da quantidade está ganha, pois o número de vagas é superior ao dos candidatos. Nesse sentido, aproveitou a sua visita à UBI, a 9 de Novembro, para lançar este desafio, o qual considera fundamental e a única solução para combater o insucesso escolar.

Sampaio não se furtou também à questão do financiamento do ensino superior, alegando que não vê qualquer problema no facto das instituições gerarem receitas próprias, uma vez que as instituições da sociedade civil precisam cada vez mais dos resultados das investigações dos meios académicos, os quais podem e devem ser pagos. Essas receitas, na óptica do chefe de Estado, poderiam servir para as instituições rumarem à qualidade, sendo certo que ao Estado continuará a caber o apoio financeiro mais significativo, no caso do ensino público.

“Que mal há no facto das universidades se preocuparem cada vez mais com as suas receitas próprias, desde que o Estado assegure o essencial. Deve é haver uma ligação permanente entre as instituições de ensino superior e as instituições das cidades e da região, que cada vez mais precisam de pareceres científicos em vários campos de actividade”, referiu.

Ainda em relação ao ensino superior, Jorge Sampaio considera que os edifícios e os equipamentos têm grande qualidade, a formação dos professores é uma realidade. Mas ainda há áreas em que é necessário apostar, caso da área da Saúde, pelo que elogia a UBI no processo de criação da nova faculdade, uma vez que “não há nada mais difícil do que criar uma faculdade de ciências da saúde. É preciso criar uma boa ligação com o meio, com os médicos, com as instituições, é preciso encontrar professores...”.

Saúde à parte, em matéria de educação, Jorge Sampaio considera que é fundamental repensar o sistema do ensino superior, de modo a formar os profissionais que a sociedade necessita, uma vez que actualmente, em Portugal, existem 26 mil licenciados no desemprego. É nesse sentido que postula uma maior cooperação entre universidades e politécnicos. “O investimento nos próximos anos terá de privilegiar a qualidade do ensino e a investigação científica, bem como a organização de novas respostas à evolução da sociedade e às exigências da criação de um espaço de ensino superior europeu”.

PLURIESCOLAS. As preocupações de Jorge Sampaio em relação ao ensino não ficam porém pelo superior. Segundo diz, é necessário trazer de novo à escola aqueles que foram excluídos do sistema ainda cedo, pessoas que hoje têm mais de 35 anos e qualificações baixas. “Trata-se de um dos maiores obstáculos ao nosso desenvolvimento e de uma injustiça social que é necessário atenuar”, referiu, alegando que as oportunidades de formação cresceram muito para os jovens mas muito pouco para estas pessoas.

Jorge Sampaio refere a necessidade de evitar que surjam casos de abandono precoce da escola, como é prática em Portugal e reafirmou o imperioso rumo à qualidade. “Argumenta-se hoje que não se aprende porque existe facilitismo e porque se tolera em demasia a indisciplina. Esta imagem de escola preocupa-me por se tratar da instituição pública com maior peso nas vida de todos os cidadãos do país”.

E como o não aprender nem sempre é sinónimo de facilitismo, Jorge Sampaio recordou a necessidade de encontrar respostas diferenciadas na escola para poder responder a alunos com necessidades educativas especiais, gerando assim uma escola inclusiva, onde ninguém se sinta excluído.

“A escola que defendo é uma escola de trabalho e exigência para todos os alunos e professores. É uma escola que premeia o mérito daqueles que trabalham para que todos os alunos aprendam, mas é também uma escola que não aceita a indiferença face às dificuldades dos alunos e que cria condições para ajudar os professores a serem mais competentes e eficazes”.

REFLEXÃO. Nesta visita à UBI, Jorge Sampaio deixou ainda pontos de reflexão que considera importantes no actual panorama educativo português. Segundo diz, a “avaliação das instituições, das aprendizagens realizadas e competências desenvolvidas, da qualidade dos diplomas e da investigação são essenciais ao desenvolvimento da excelência”. Nesse sentido, pensa que seria de reflectir na forma de aperfeiçoar os sistemas de avaliação e no modo de garantir que os resultados sejam tidos em conta.

Outra vertente passa por melhorar a organização do trabalho de professores e alunos, de modo a rentabilizar o trabalho desenvolvido nas escolas superiores. Aqui entra a necessidade de encontrar estratégias para reduzir o insucesso escolar e de garantir que a formação adquirida responde às necessidades do mundo do trabalho. Jorge Sampaio considera ainda que é necessário reflectir sobre os modelos pedagógicos, de modo a que o processo seja centrado no aluno, para que lhe seja exigida uma permanente actividade de aprendizagem, o que acontece no curso de Medicina da Universidade da Beira Interior.

A Declaração de Bolonha e a necessária integração do ensino superior português na malha europeia é outra das suas preocupações, pelo que pergunta se “as universidades e os institutos politécnicos se estão a preparar para integrar o espaço de ensino superior europeu”, uma questão fundamental a nível dos graus académicos e também da mobilidade de professores e alunos.

Sampaio pretende ainda que se pense numa forma de “adaptar processos pedagógicos, ritmos de trabalho e programas às características e interesses dos novos públicos e de programas de educação ao longo da vida. Por último, apela às universidades e institutos politécnicos no sentido de desenvolverem dinâmicas para que a investigação científica se torne uma dimensão essencial da vida das instituições, uma vez que “a investigação científica tem de estar indissociavelmente ligada ao desenvolvimento da qualidade do ensino superior”.

 

 

 

CARLOS PINTO FALA DO ENSINO NA COVILHÃ

UBI arrasta investimentos

A criação da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior já está a dar frutos e a Câmara está a receber cada vez mais solicitações de investimento, quer nas zonas industriais, quer no futuro parque tecnológico, o Parkurbis, onde se poderá instalar em breve uma empresa que irá concretizar um investimento de centenas de milhares de contos. A garantia é do presidente da Câmara da Covilhã, Carlos Pinto, numa entrevista concedida ao Ensino Magazine, onde revela os projectos da cidade na área da educação.

Na óptica do autarca, cidade, Câmara e Universidade estão neste momento de mãos dadas no desenvolvimento, o qual tem de ser acompanhado pelos outros sectores de actividade. Só assim, adianta, é possível fixar quadros na região. “O melhor exemplo de que a cooperação funciona é a criação do parque de ciência e tecnologia, o Parkurbis, que necessita de uma colaboração no plano da investigação e do desenvolvimento, uma vez que queremos alargar o tecido industrial a novos sectores”.

Aquele parque, a nascer junto ao cruzamento para o Tortosendo, foi criado por um conjunto de entidades, da Câmara, à UBI, ao Iapmei, a Caixa Investimento, PT, entre outras e nesta altura Carlos Pinto espera um grande sucesso. “Vamos ter um investimento estrangeiro, na área de equipamentos inovadores para a indústria da saúde, o qual criará cerca de 450 postos de trabalho em quatro anos. Trata-se de uma unidade que abastecerá toda a Europa a partir da Covilhã e esse grupo tem ainda unidades no Japão e nos Estados Unidos”.

DESENVOLVIMENTO. Com esta dinâmica, Carlos Pinto afirma que, nos próximos anos, a Covilhã “será uma cidade em franco desenvolvimento no conjunto do País”. E nesta matéria, o facto novo é mesmo a Faculdade de Ciências da Saúde. “A Faculdade deu uma tónica de requalificação do ensino nessa área. Hoje, a UBI distingue-se como uma escola que tem as licenciaturas que os outros têm e ainda a saúde, que é uma área diferenciadora do ponto de vista da exigência técnica e sobretudo no desafio à formação de mais médicos e técnicos de saúde. Abre ainda perspectivas no campo da investigação na área do medicamento, entre outras”.

Prevendo o impacto de uma estrutura deste tipo no desenvolvimento da região, a autarquia associou-se à UBI desde início, “para que esta faculdade não fosse para outra cidade. Do ponto de vista político, a Câmara esteve profundamente envolvida, procurando demonstrar que deveria ser esta a localização”. Uma associação que resultou e que continua a dar frutos. Ainda este mês, a autarquia anunciou que irá conferir uma bolsa de estudo ao melhor aluno do curso de Medicina.

Já em relação à UBI como um todo, Carlos Pintos considera-a muito importante, mas não aceita que se diga que, sem a Universidade, hoje a cidade não seria cidade. “Prefiro dizer que a Universidade é um dos pilares do nosso desenvolvimento. Vale por si em termos de região e em termos nacionais, ao nível da formação de quadros e da transmissão do saber. É um pólo de desenvolvimento regional que honra a Covilhã e que permite que a cidade aspire a um conjunto de iniciativas e áreas de desenvolvimento importante”.

INVESTIMENTOS. Nos outros níveis de ensino, Carlos Pinto afirma que a cidade está também com uma forte dinâmica e não envereda por falsas modéstias. “Hoje temos a melhor rede de jardins de infância, com uma cobertura de 97 por cento do Concelho. A nossa rede de escolas do 1º Ciclo está completamente renovada e asseguramos que qualquer jovem, viva onde viva, tem transporte e acesso ao ensino”.

Carlos Pinto mostra-se ainda preocupado com as implicações de mudanças futuras em termos de responsabilidade sobre equipamentos educativos. “Estamos ainda a acompanhar o que se passa no Preparatório e no Secundário, a fim de preparar as estruturas internas da Câmara para que, quando houver a nível nacional uma decisão de responsabilizar as Câmaras pelo preparatório, termos já as estruturas e a logística adequadas”.

Outra área cara ao autarca é a da cultura, onde refere que a Câmara tem apostado a dois níveis. Um deles é o da construção de infraestruturas. “Lançámos já o concurso internacional para o centro de artes, que é uma obra de um milhão e meio de contos que estará concluída dentro de dois anos. Abrimos uma nova biblioteca e uma ecoteca, vamos abrir um arquivo no próximo dia 27 de Novembro”.

A outro nível, o autarca aponta o que foi feito na área da cultura propriamente dita: “Relançámos o Teatro-Cine onde, em quatro meses, passaram 13 mil espectadores e estamos a apoiar o associativismo, já com um milhão de contos neste mandato. Temos ainda o calendário cultural permanente, o qual assegura a existência de eventos culturais, recreativos e de lazer. Nesta ponto de vista, asseguramos uma resposta à comunidade local”.

Finalmente, no que diz respeito à cidade, Carlos Pinto perspectiva os próximos quatro anos como sendo aqueles em que “terão de ser concluídos investimentos que estão em curso, o parque desportivo, que custa quatro milhões de contos, o Centro de Artes, o Parkurbis, o novo aeroporto, com uma pista com dois mil metros, além de melhorar o mais possível a qualidade de vida e o campo urbanístico”.

 


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