
Viver para a
formação
Hoje, o que se exige de um sistema de formação de professores é que procure corresponder, simultaneamente, ao desenvolvimento pessoal e profissional dos docentes, ainda que este desenvolvimento esteja repartido em diversas etapas.
A formação inicial deverá ser, necessariamente, global e integrada, embora a prática seja por vezes simulada e fique quase sempre por demonstrar como será a posterior integração de teorias e práticas, supostamente assimiladas.
Se bem que, por via da influência daquilo que vulgarmente se designa por “currículo oculto” os professores em exercício prestem pouca atenção ao contexto social, político e cultural das escolas e sejam pouco sensíveis a uma formação pluralista dos seus alunos, em boa parte devido ao facto de terem tido formadores “produto” de uma formação
monocultural.
Os dados da investigação educacional que os indivíduos já trazem para a escola de formação um mundo representativo sobre a actuação docente, pelo que “pouco” se disponibilizam para a alteração das suas percepções. As representações finais dos professores formados constituem, então, uma amálgama de outras representações hauridas no percurso escolar, nos seus professores, nos curricula e nas percepções adquiridas no progressivo contacto com a prática lectiva.
Poderíamos, então, confluir num entendimento da formação inicial como condição necessária, mas não suficiente, para a formação definitiva e integral dos professores. Bem como não ser um dado adquirido pela investigação de que o aumento do período e do tempo de formação inicial melhorasse significativamente essas competências desejadas para o eficaz desempenho profissional (dilema: ter mais tempo para aprender, ou aprender durante mais tempo?).
Logo, todo o processo de formação permanente não se deve assumir como uma ruptura com a formação inicial, mas antes como um prolongamento da mesma e que não deverá situar-se apenas numa perspectiva de aprendizagem de novos conhecimentos, mas também através da negociação de temáticas, conteúdos e objectivos numa colaboração permanente entre formandos e formadores.
Ainda que possamos incorrer no risco de elevar a formação permanente ao centro do palco desta discussão, pensamos que será no equilíbrio entre as distintas funções destes dois procedimentos formativos, que se querem complementares, que encontraremos a solução mais equitativa e consensual para o sucesso dos processos que visem a formação de docentes empenhados na seu próprio desenvolvimento pessoal e profissional.
Neste enquadramento, e porque entendida como uma continuação da formação inicial, a formação permanente deverá fundamentar-se na necessidade e exigência da alteração de atitudes, mentalidades e competências profissionais e pessoais, para um melhor desempenho da prática lectiva, tendo como horizonte a consequente melhoria da aprendizagem e desenvolvimento integral dos alunos.
Em síntese, poderemos então afirmar que a formação permanente dos professores foi evoluindo de uma visão que pretendia “ensinar” um docente que teria atingido estágios de “incompetência” e “ignorância” profissionais, para se centrar na perspectiva de encarar o professor como um elemento de um contexto escolar, pessoal e interpessoal, valorizando a sua personalidade, as suas crenças, valores e expectativas, como variáveis influenciadoras do seu crescimento pessoal e profissional. Poderíamos, também, e em consequência, considerar três tendências actuais na organização e desenvolvimento de “programas” de formação permanente dos docentes : 1 – Formação centrada na escola. 2 – Continuidade entre a formação inicial e a formação contínua. 3 – Participação dos professores na organização, planificação, implementação e avaliação dos projectos formativos.
É nosso entender, todavia, que compete aos formadores, sobretudo quando investigam e analisam os resultados das pesquisas e da literatura, aceitar o desafio de buscar entre a divergência de campos conceptuais quais as linhas conducentes a uma formação que se deseja gratificante, consolidada, permanentemente inquiridora e positivamente reflectida na melhoria da aprendizagem dos alunos e da organização da
escola.

João Ruivo
ruivo@rvj.pt
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