GENTE & LIVROS
Bernhard Schlink
“- Lê-me em voz alta!
- Lê tu mesma, eu trago-tos.
- Tens uma voz tão bonita, miúdo, gosto mais de te ouvir ler do que ser eu própria a ler.
- Ora, não sei.
Mas quando cheguei no dia seguinte e quis beijá-la, desviou a cara.
- Primeiro, tens que ler em voz alta”.
in O Leitor.
Bernhard Schlink nasceu em Bielefeld, Alemanha em 1944. Advogado e juiz, Schlink é também professor de Direito Constitucional na Universidade Humboldt em Berlim e autor de um manual sobre os direitos fundamentais do cidadão. Passou alguns meses em Nova York onde ensinou direito na Universidade
Yeshiva.
Autor conhecido pelos seus romances policiais, publicou Justiça Própria, Ilusão e O Nó Górdio.
O Leitor é o último romance de Schlink e uma reflexão sobre a Alemanha nazi. O escritor passou por Portugal e deu uma entrevista ao jornal Expresso. Ao ser questionado se “ na altura da publicação original de O Leitor, a apresentação dos autores dos crimes contra a Humanidade como homens de carne e osso ainda seria um tabu”, respondeu “Sim, mas tratava-se de um tabu que começava a ser posto em causa. Enquanto se apresentava os criminosos como monstros, era fácil ignorá-los. O desassossego começa quando o criminoso se revela um homem e não um monstro. Os monstros não nos inquietam, os nossos próximos sim. Quando publiquei o meu romance na Alemanha, as pessoas estavam a começar a aperceber-se disso.” O livro já foi traduzido para 24 línguas.
O
LIVRO. O Leitor. Michael Berg conhece Hanna, quando ao sair do colégio se sente mal e ela o ajuda. Ele tem 15 anos e ela 36 mas ficam amantes. Os seus encontros são pontuados pelo banho e pela leitura. Hanna pede-lhe sempre para ler e Michael «apresenta-lhe» Goethe, Schiller e Dickens. Mas ela possui um segredo e desaparece da cidade. Sete anos depois voltam a encontrar-se, Michael é estudante de advocacia e Hanna está envolvida num processo, acusada de crimes de
guerra...
Eugénia Sousa
Florinda Baptista
Novidades
PIAGET. O Instituto Piaget publica A Gestão das Ideias- da Criatividade à Inovação, do matemático e filósofo Luc de Brabandere. Se é ponto assente para os gestores que a criatividade é fundamental, o mesmo não se passa ainda com as ideias. Só muito raramente estas são objecto de gestão e consequentemente de inovação. Um livro em forma de manual de criatividade e um estudo sobre a problemática do mundo económico. Uma boa ideia.
ASSÍRIO & ALVIM. A Editora Assírio & Alvim acaba de publicar, na colecção «Grãos de Pólen», Ou o Poema Contínuo de Herberto Helder. São do poeta as palavras: «Este pequeno livro - Ou o Poema Contínuo - deve ser o obstáculo ao poema prometido que não chegou, interprete-se como a ainda excessiva miséria e melancolia de quem não andou bastante o caminho das montanhas. (...)». Ao poeta, o nosso
Bem-Haja.
EDIÇÕES ASA. As Edições Asa publicaram recentemente o último romance de Milan Kundera, A Ignorância. Um homem e uma mulher encontram-se 20 anos depois, na viagem de regresso à sua terra. Ainda é possível continuar a história de amor começada à tanto tempo? Depois de A Lentidão e A Identidade segue-se A Ignorância numa triologia indispensável a todos os fãs do autor da Insustentável Leveza do Ser.
EUROPA-AMÉRICA. As publicações Europa-América editaram Tralha do escritor inglês Joseph
Connolly. Uma decoradora de interiores a bater no marido, um vizinho falido e agressivo, uma prostituta em part-time, um sequestro, um assassino insuspeito e três mulheres completamente loucas tudo isto numa comédia, irónica e crua, sobre a classe média. As suas obsessões e desejos, as banalidades e pretensões e muita, muita
tralha.
BOCAS DO GALINHEIRO
Filmes que vieram da
TV
A entrada da televisão, salas dentro, sem necessidade de bilhete ou convite, originou uma onda de pânico para os lados do cinema que se veio a mostrar injustificado. Mas que abanou seriamente os interesses instalados lá para a Meca do cinema, é facto incontornável. Porém, como em tudo na vida, o hábito vai criando o monge, ou seja, nisto de cinema, os dois mundos depressa aprenderam a conviver um com o outro. A televisão passava regularmente filmes e, a pouco e pouco, foi explorando o pequeno formato: era o nascimento das séries. Muitas delas ganharam foros de objecto de culto. Vai daí os senhores do cinema, zás, começaram a adaptá-las para o grande écran ao ponto de hoje se contarem pelos dedos as que não viraram longas metragens. De repente, como se de uma epidemia se tratasse, os heróis da televisão invadiram as salas de cinema para gáudio de muitos e irreprimível ira dos fanáticos de alguns serials, cuja transposição foi um rude e traiçoeiro golpe na sua militância televisiva. Porém, mais do que estas guerrilhas intestinas, o que ressalta disto, íamos dizer namoro, mas se calhar já é mais do que isso, é a corrida de realizadores e actores consagrados a um lugar nestas adaptações.
Uma das primeiras sérias a ganhar o estatuto de série de culto foi The Twilight Zone (!959-1965), escrita e apresentada por Rod Serling. Por ela passaram dos melhores guionistas dos géneros de ficção científica e de terror, de que destacaria Ray Bradbury, esse mestre da FC. Do lado dos realizadores e actores a lista é certamente longa, com nomes como Don Siegel e Richard Donner, ou Robert Redford e Lee Marvin, entre outros. O filme, de 1983, Twilight Zone: The Movie, ficou a anos luz da série, apesar de na realização dos sketches estarem Joe Dante, John Landis e o próprio Steven Spielberg. Outra série de culto, Star Trek, deu origem ao filme Star Trek – The Motion Picture, de 1979, realizado por Robert Wise que, apesar da oposição que lhe foi movida pelos trekkies, foi um êxito, dando origem a para aí umas oito sequelas e, pelo meio, ao ressurgir da série. Um caso raro de osmose.
Dois meninos bonitos do cinema americano, Tom Cruise e Val Kilmer, deixaram-se apanhar nas teias das adaptações de séries. Cruise, com realização de Brian de Palma, aventura-se numa milionária Missão Impossível, em 1996, depois de receber uma mensagem que, inevitavelmente se auto destruiu em cinco segundos. O êxito de bilheteira foi enorme e o actor não resistiu a uma Segunda, Mission: Impossible 2 (na foto), desta vez sob a direcção de um mestre da acção e dos efeitos especiais made in Hong Kong, John Woo. Por seu lado, Val Kilmer deixou-se enfeitiçar pela figura de Simon Templar, “O Santo”, da série do mesmo nome que povoou a nossa televisão nos anos 60, com apresentação do famoso Inspector Varatojo. Se Roger Moore, um futuro 007, nos agarrava ao sofá nas noites de Segunda-feira, o filme de Philip Noyce já nem tanto. Aliás, se o personagem da série já fugia à criação de Leslie Charteries, o do filme é uma caricatura de qualquer coisa que não vislumbrámos, mas a que falta o fino sentido de humor do original.
Se os filmes que referimos ainda conseguiram sobreviver por si, uma vez que a semelhança com a série era remota, outros como Os Vingadores foram um “flop” total. É que não basta agarrar em duas ou três estrelas famosas para o êxito sorrir, E, Jeremiah Chechik pouco mais fez do que isso. Ralph Fiennes não nos faz esquecer Patrick McNee e Uma Thurman poderia bem ser Diana Rigg, só que o John Steed que enfrenta a sua Emma Peel, apesar da sua fleuma britânica, não soube, ou não o conseguiram fazer estar à altura. A ambiguidade da relação original, também aqui falhou. Há subtilezas que não se podem matar. A afundar ainda mais o conjunto, Chechik mete para ali um Sean Connery, armado em manda-chuva, rodeado de efeitos especiais por todos os lados o que, diga-se, não era apanágio da série. Uma grande oportunidade perdida.
Mas, não se pense que todas as adaptações são para esquecer. Os universos são diferentes. O que é preciso é saber trabalhá-los. Senão vejamos. Para os que fundadamente acham que Twin Peaks (1990-91), realizada por David Lynch, foi a melhor série jamais feita em televisão, que dizer do filme que é, não a adaptação, mas uma precuela da série. Ambos são geniais: no ambiente, nos personagens, na música. Ou desses super divertidos “Naked Gun”, dos inspirados David Zucker, Jim Abrahams e Jerry Zucker que agarraram numa sitcom sem história, “Police Squad” e a transformam nos filmes que conhecemos? É claro que Leslie Nielsen também não é alheio ao êxito. O que é bom.
Podíamos, se o espaço ajudasse, escalpelizar outros tantos filmes, como “Os Intocáveis”, de Brian De Palma, o retomar da luta de Elliot Ness contra Al Capone e associados, com muito sangue e alguns piscar de olhos a outras fitas, como é apanágio de De Palma, com figuras como Sean Connery e a então estrela em ascensão, Kevin Costner, ou essas peças de humor sediadas no velho oeste das coboiadas como são “Maverick” e “Wild Wild West”, de cujas séries já nos havíamos há muito esquecido.
Faltaram-nos alguns filmes? Muitos, de certeza. Talvez cá voltemos, como também podemos ir visitar os filmes que deram séries. Porque o inverso também é tema. Mas, uma coisa é certa. À medida que formos recordando outros, vai-se nos deparar o anúncio de uma nova estreia baseada numa qualquer série. Apostamos?
Luís Dinis da Rosa
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