As bases do ensino
Há muito que professores, alunos e pais levantavam a suspeita sobre os ensinos básico e secundário, criticando-os por não preparar os jovens, nem para entrar no ensino superior, nem para ingressar no mundo do trabalho.
Há muito que técnicos e educadores reclamavam para o ensinos básico e secundário uma diversificação das trajectórias escolares dos alunos, a par do reconhecimento da diversidade dos talentos, através de fases de orientação que ofereçam, de facto, possibilidades de recuperação e reorientação.
Há muito que a sociedade civil e, sobretudo os nossos jovens criticam a escola por estar demasiado separada da vida. Por serem obrigados a frequentar currículos desadequados às competências exigidas nos seus quotidianos. Por serem sujeitos a provas de avaliação que só medem uma parte do todo a que corresponde o desenvolvimento pessoal de cada indivíduo, mas que o marcam durante todo o percurso escolar e condicionam as suas futuras opções de formação. Por sentirem dentro das paredes da escola um clima de angústia, concorrência permanente e um constante apelo ao individualismo, enquanto única forma de superar as barreiras e as dificuldades.
Sabemos que estudar exige esforço, dedicação, trabalho constante e treino de competências. Mas não é condição necessária que tudo isso ocorra num clima em que estão ausentes a alegria e a solidariedade que acompanha a partilha de saberes.
O que apenas era suspeita, ou base de opinião, acaba de ser certificado por mais um relatório da OCDE, divulgado na passada semana, o qual qualifica os nossos alunos, face a um conjunto de competências básicas elementares, com notações tristemente negativas.
Nesse documento, não são poupados atributos negativos aos resultados e ao produto final do ensino português. Critica-se a preparação que proporciona, com implicações em termos de continuação de estudos no ensino superior; duvida-se da eficácia da formação que confere para a vida activa; e questiona-se a sua credibilidade enquanto processo de formação de base para o exercício da cidadania. Ou seja: quem suspeitava, afinal, tinha razão.
Aliás, tanto bastava falar com os jovens. Acompanhar a sua angústia de vivenciarem currículos obsoletos, dispersivos e intermináveis; de se submeterem a sistemáticas provas de avaliação, que mais parecem querer acreditar o que se ensina, do que certificar o que se aprende; de se socorrerem de manuais escolares concebidos ao velho estilo dos seus avós.
Bastava tomar-lhes o pulsar do desencanto, ao saberem que estariam condenados a serem técnicos qualificados no desemprego, mas saídos de cursos superiores que não desejavam e para os quais nem se sentiam vocacionados.
Bastava estar atento ao que se passava em muitas escolas, fechadas sobre si próprias, e comandadas por uma administração escolar centralizadora e autista.
Resta saber, agora, se há vontade de mudar. Os repetidos diagnósticos têm obrigação de convencer os mais cépticos. Aguardemos pela vontade política de lançar o sistema de ensino português de nos carris que nos aproximem dos nossos companheiros da comunidade
europeia.
João Ruivo
ruivo@rvj.pt
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