Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano IV    Nº42    Agosto 2001

Opinião

CRÓNICA

Falta de educação

Resulta esta crónica dos restos de mais um ano lectivo. Tem que se aproveitar tudo. Em casa de pobre o que mais sobra é a fome.

Não tenho à mão os números actualizados relativos à percentagem de analfabetismo da população adulta portuguesa. Se os tivesse não adiantaria grande coisa. Naturalmente nem saberia que crédito lhes haveria de dar. Seja qual for a percentagem, não chega para explicar um rol de coisas, velhas e relhas, a começar no 1°. Ciclo e terminar no Superior, o que é uma grande baliza, que um dia foram paixão súbita dum político bem falante.

Manda a boa educação que não ponha aqui um palavrão atrás dum ponto de exclamação, e a humildade de reconhecer que nas páginas do Magazine há quem trate o assunto por tu, o que não é, definitivamente, o meu caso. Porém, como cidadão, faz-me espécie que se encontrem culpados para todos os gostos com a mesma absoluta certeza de que dois mais dois são quatro e tudo continue na mesma ano após ano. 

Professores incompetentes, Sindicatos anacrónicos, programas inadequados, absentismo, mau estado das infra-estruturas, geração rasca, são alguns dos diagnósticos com adeptos. Não tenho, como acima referi, competência para ajuizar esta complexa teia de interesses. Mas tenho vergonha por tanto desinteresse. 
Para já estamos de férias. Ficámos a saber que o ministério podia trabalhar melhor na avaliação das suas políticas. Podia, disse a Secretária de Estado. Quer dizer, não vamos agora pensar muito a sério nestas coisas. Provavelmente o assunto é mais estilo pós-estival. O lema é desopilar, mergulhar como a avestruz, perdão, em águas mansas, retemperar do esforço de um ano inteiro de canseiras e recarregar baterias, para que em Outubro, mais coisa menos coisa, possamos augurar um novo ano lectivo, pelo menos tão bom como o que passou...

Quando, ciclicamente, surgem estatísticas, estudos, simples indicadores, acerca da má prestação dos nossos alunos, vem-me sempre à memória uma frase, inscrita a vermelho, num muro degradado para os lados do Porto de Abrigo, na Nazaré: “Semos Probes”. 

Quando, ciclicamente, instâncias nacionais, comunitárias ou de proveniência mais abrangente, dão conta da nossa posição na escala do conhecimento da língua (e da matemática) recordo sempre a imagem patética do PM a fazer, de cabeça, contas ao PIB e de um turista inglês, que, de forma simpática, agradecia o favor da orientação pretendida entre Seia e as Penhas Douradas: gracias - dizia para me compensar o esforço pelo melhor itinerário apontado. 

Quando, ciclicamente, tudo isto acontece, e os media fazem alarde com parangonas a condizer, o Estado ou o Governo por ele inventa um programa especial, um exame ou uma desculpa, a mim faz-me lembrar o menino a quem na escola foi injectada a primeira lição sobre a Pátria e, na composição a propósito escreveu: Eu gosto muito da Pátria. A Pátria tem um jardim com flores e um coreto com música ao fim de semana. A Pátria é muito bonita. Eu nunca fui à Pátria.

João de Sousa Teixeira

 


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