TESE SOBRE AGOSTINHO DA
SILVA
Conversas vadias
Para muitos foi o maior pensador português. Agostinho da Silva ficou conhecido em Portugal pelas suas Conversas Vadias que apresentava na RTP. Eram de facto conversas vadias, como vadios eram os pensamentos ali retratados por um homem que privilegiou sempre o pensamento em detrimento do aprender à força. Num dos seus muitos cadernos de iniciação, escreveu: “é preciso dar ao aluno aquilo que ele não aprende na escola”. Agostinho da Silva nasceu no Porto, em 1906 e faleceu 88 anos mais tarde em Lisboa, como cidadão do mundo, um mundo que ele desejava que fosse mais mundo e menos imundo.
Sete anos após a sua morte, Agostinho da Silva continua a ser uma referência na cultura portuguesa. As suas ideias e a sua maneira de ver as coisas mantêm-se vivas. Natércia Belo é docente na Escola Secundária Nuno Álvares, em Castelo Branco e decidiu chamar para a sua tese aquele senhor de barbas brancas e cara de quem já passou por muito, de quem viajou e ensinou mundo. “Agostinho da Silva é um génio, mas foi pouco compreendido em Portugal, enquanto que no Brasil foi muito respeitado”, começa por referir.
Denominada «O Pensamento Pedagógico de Agostinho da Silva» a tese de Natércia Belo foi bem aceite pelo júri e levou a professora da Secundária Nuno Álvares a aprofundar os seus conhecimentos sobre um dos grandes filósofos portugueses. Daí até à Fundação Agostinho da Silva foi um salto. “A Fundação ajudou-me muito na recolha de informação. Encontrei lá pessoas que trabalham muito bem e que não estão lá para serem conhecidas, formando um circulo cultural onde se debate tudo o que é possível”.
Os contactos com a Fundação Agostinho da Silva permitiram também agendar uma série de colóquios sobre o grande pensador português, em Castelo Branco. “Nos dias 12 e 13 de Outubro vamos realizar um ciclo de conferências sobre Agostinho da Silva, no Instituto Português da Juventude”, sublinha Natércia Belo, para quem as ideias do Professor continuam actuais, “mas impraticáveis. Já na Idade Média, quando eram os frades que ensinavam, sentavam-se com quem aparecia e iam respondendo às perguntas dos alunos. E assim as pessoas aprendiam. Agostinho da Silva defendia um pouco esse sistema, pois para ele o professor não sabe tudo e também pode aprender com os alunos. O objectivo do professor é fazer com que os alunos procurem investigar e saberem a razão das coisas”.
Nas suas aulas, Natércia Belo foi lançando algumas citações de por Agostinho da Silva. Citações que por vezes levam os alunos a ter reacções inesperadas, “como perguntar ao professor porque é que determinadas coisas são assim, porque é que os professores dão as aulas de uma maneira e não de outra. Daí que eu não tenha insistido muito nisso. No entanto no ensino recorrente esse esquema já funciona, pois se o ensino recorrente fosse dado à maneira de Agostinho da Silva funcionaria muito bem”. Natércia Belo dá ainda outro exemplo: “na classe Alfa, no Brasil, que corresponde à nossa primeira classe, as crianças fazem inúmeras experiências. Por exemplo, encher um balão. Depois de cheio de ar, verificam que ele de um lado para o outro. Depois fazem uma segunda experiência, agora com ar quente, e verificam que o seu comportamento é diferente. A partir daí descobrem o ar, as árvores, a floresta, a amazónia... e o mundo nas suas várias vertentes. Ou sejam habituam as crianças a pensar, o que era defendido por Agostinho da Silva”.
Mestre em Ciências da Educação, Natércia Belo e a Fundação Agostinho da Silva têm já programado o ciclo de conferências que se vai realizar em Castelo Branco. Paulo Borges será o primeiro prelector, que abordará o tema «Deus e a criação em Agostinho da Silva». Depois seguir-se-á António Telmo que falará sobre «a espiritualidade em Agostinho da Silva». Numa outra prelecção, Maria Conceição Azevedo vai abrir o debate sobre Agostinho da Silva e a Pedagogia.
O ciclo de conferências decorre durante dois dias e integra ainda comunicações de Filiciano Pipa (Comunicação e Transmissão do Saber em Agostinho da Silva), Natércia Belo (A Pedagogia de e em Agostinho da Silva), Anaí Vitorino (O horóscopo de Agostinho da Silva), Romana Valente (A Graça como Fundamento ontológico no Pensamento de Agostinho da Silva) e Helena Mota (Agostinho da Silva e a
PIDE).
Paralelamente aos colóquios realiza-se também uma exposição de artes plásticas. “Como também estou ligada às artes, através da Artemísia, decidi desafiar alguns artistas da cidade para apresentarem quadros sobre Agostinho da Silva. Nessa perspectiva, forneci-lhes algumas citações para eles as transporem para as telas”. Para quem gosta de Agostinho da Silva esta é uma boa oportunidade para recordar o grande pensador português. O homem, que aos quatro anos de idade aprendeu a ler e que faleceu a dominar quinze
idiomas...
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