CRÓNICA
Cavalo Russo
Ouvi já, como nunca, os mais variados epítetos sobre um ministro, a propósito de Fernando Gomes. Desde incompetente, inadaptado, mal entendido, sobrecarregado, a cavalo de Tróia e erro de casting. Na verdade, com excepção do seu chefe, não vi ninguém vir a terreiro com uma palavra de apreço ou simpatia. É por isso que me sinto na (humilde) obrigação de salvar a honra do convento.
É verdade que ninguém gosta de ter a polícia à perna. Quantos de nós já fugimos a sete pés à frente dessa espécie de big brother institucional? Quem de nós não disse duas ou três palavritas a mais? E porque teremos de ser nós a apagar os fogos que outros ateiam? Que se acuse o que não comentou de forma negativa o martírio do espectáculo taurino?
Cavalgou o homem do norte, qual cristão de lança em riste, cruzado das melhores intenções e pela primeira vez os infiéis negam-lhe o histórico sucesso. Não havia esse direito. Qual menino triste e choroso a quem não é permitido o usufruto de uma simples rosa, como o criado por Daniel Filipe na Invenção do Amor, não haverá mais esperança e todos os analistas dirão tratar-se de um caso típico de inadaptação congénita.
Foi, no entanto, uma aposta séria de quem foi responsável pela sua inclusão no elenco governativo - S. Jorge que o diga... - pois assim se prova que à sua exclusiva saída do governo- e aqui não faremos caso de outra saída, por que também não demos conta da sua estada - lhe possamos chamar remodelação, como se de ene ministros se tratasse e bem merecido era.
Sinceramente, também não gostei de lhe ouvir aquela do Estádio da Luz ser prescindível ao Euro 2004. Mas toda a gente tem obrigação de saber que o homem não morre de amores pelo Benfica, carago. Temos ou não direito às nossas idiossincrasias? Ah, ministro não. Ok. Por outro lado, a parte de mandar prender os moços da CREL e dizer que o problema estava resolvido e afinal não estava e depois estava quase, não julgo ser de sobrevalorizar. Até parece que nunca tivemos problemas de indecisão. Aliás, a polícia de Setúbal é que lhe baralhou as contas, isso é que foi. Está bem, foram os bombeiros e os fogos, os polícias e o SEF, os touros de morte e os protectores de animais que constituíram este lobi fantástico que pôs fim a um ano de mandato de um ministro infeliz.
Como quem diz: em certos rebanhos, quem tem lobi é rei.
É claro que não possuo nenhum alvará para defender este ou qualquer ministro. Se, porventura lhe dou o benefício da dúvida num ou noutro aspecto do seu mandato, é apenas por puro humanismo e tendência própria para o apoio às minorias. E por falar nisso, não resisto a contar aqui o comentário que o meu amigo Necas fez, quando os barranquenhos decidiram levar a deles avante. Como é sabido, isto de touradas e fados está de alguma forma ligado. De forma simples, no dia em que na vila alentejana concretizaram a primeira tourada, o Necas, sempre oportuno e atento à coisa política em geral e ao ministério de Fernando Gomes em particular, atirou-me: foi um toiro que o matou.
João de Sousa Teixeira
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