Recomeçar de novo

Acreditamos não estar muito longe da realidade percepcionada nas escolas se afirmarmos que uma das maiores vulgatas, já quase transformada em lugar comum, e que se apoderou do discurso informal de professores e de formadores, é aquela que se sintetiza no “faz o que eu digo; não faças como eu faço”. Razão para não se poder dissociar a formação teórica da formação prática dos docentes, dando a esta o relevo, importância e necessária adequação, fugindo ao facilitismo do receituário, indagando os resultados da investigação e perspectivando as exigências da sociedade e da escola do próximo milénio.
Daí que a orientação e a avaliação da prática instrucional dos professores em formação (inicial ou contínua) realizada por professores (formadores ou colegas) mais experientes, ou especializados, tenha sido, e continue a ser uma das componentes mais importantes de todos os sistemas de preparação para a docência e que conviria rememorar neste início de ano lectivo.
A orientação pedagógica tem mantido entre os professores alguma carga negativa. A tal situação não é alheio o facto de, ao longo das últimas décadas, a supervisão/orientação pedagógica ter vindo a assumir diferentes “atitudes no terreno” baseadas em princípios orientadores diversos e mesmo divergentes, consoante os paradigmas de formação que conjunturalmente servia, e de que o sistema educativo também se foi servindo.
Neste enquadramento, começaremos por recusar a “aplicação” (mais ou menos normativa; mais ou menos consentida) de um “tipo único” (ou exclusivo) de orientação pedagógica extensível a todo o sistema nacional de formação de professores, até porque as práticas de formação estão dependentes de inúmeras variáveis que fogem aos interesses conjunturais das políticas e dos políticos da educação.
Logo, o “formador da prática”, terá que conhecer perfeitamente o quadro em que irá desenvolver a sua actividade para que possa enfrentá-la com a dose de realismo e pragmatismo que se lhe impõe.
Perante este enquadramento, recusamo-nos a entender, desde logo, a orientação pedagógica como um procedimento meramente administrativo, condicionador e sancionador. Pelo que conviria, então, encaminharmo-nos para o desenvolvimento de uma perspectiva de orientação pedagógica que sirva o sistema educativo e, sobretudo, o desenvolvimento pessoal e profissional dos docentes. Que sirva a busca da melhoria das aprendizagens dos alunos que devem sentir como não desperdiçado o tempo que passam na escola. Ou seja, uma aproximação às práticas de estratégias reflexivas de formação apoiadas por formadores experimentados, ou através de apoio profissional mútuo de colegas.
Identificamo-nos, pois, com um conceito de formação enquanto “ajuda e crescimento”, isto é, com um estilo que não descure o desenvolvimento pessoal através da reflexão na e sobre a acção. Enquadramo-nos em tal conceito, já porque, nessa perspectiva, consegue penetrar no espaço e no tempo “reais” da vida profissional do professor; já porque proporciona um contexto de relações inter-pessoais (entre formadores e formandos, ou entre formandos que procuram a reflexão e retroacção formativa dessa reflexão) que consideramos, indiscutivelmente, estimulante para todos os intervenientes desse processo. Assim seja possível levar este conhecimento teórico à pratica formativa que agora se
reinicia.
João Ruivo
ruivo@rvj.pt
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