Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano III    Nº27    Maio 2000

 

Opinião

POLITÉCNICO DA GUARDA

Planos de Alves


O presidente do Instituto Politécnico da Guarda abriu o jogo e, em conferência de Imprensa, traçou as linhas orientadoras para o organismo a que preside, e fez uma retrospectiva daquilo que tem sido feito. José Alves justificou o facto de só agora ter convocado a imprensa, facto que prometera há cerca de dois anos. Mas na opinião daquele responsável só agora o “Politécnico está calmo e sereno”.

Uma das novidades divulgadas por José Alves diz respeito a conclusão das obras da residência feminina do Politécnico. Obras que deverão estar concluídas no próximo mês. Uma estrutura que, no entender de José Alves, vem colmatar uma lacuna existente, e que terá capacidade para albergar 105 alunas, o que aumenta para 400 o número de camas disponíveis para os alunos do Politécnico. A nova residência tem ainda uma camarata de 20 camas, que servirá para acolher alunos que venham a participar em actividades desenvolvidas no Politécnico.

Ainda no que respeita a obras, José Alves recordou o projecto de construção do Pavilhão Multiusos. Uma estrutura que o presidente do Politécnico anunciou, em entrevista ao Ensino Magazine, há cerca de um ano, cujo estudo preliminar está quase concluído. O Pavilhão é mais um espaço destinado à prática de diversas actividades desportivas, que permitirá ainda a realização de congressos, seminários e exposições. A obra está orçada em cerca de 900 mil contos, sendo que 300 mil serão para o equipamento, já que aquele espaço ficará dotado de uma pista de atletismo coberta, ideal para a prática do treino para atletas profissionais.

BIBLIOTECA. Um dos primeiros pontos salientados por José Alves foi a inauguração da nova biblioteca, inaugurada ainda este mês. O novo espaço está dotado de vários serviços, como uma ludoteca, salas para internet e audiovisuais, e uma outra polivalente, com capacidade para 30 pessoas. Além disso, e como frisou José Alves, a Biblioteca está dotado de um espaço ao ar livre, onde serão instaladas máquinas de sumos, cafés e alimentos.

A biblioteca funcionará entre as 9 e as 19 horas, durante o período escolar, passando a utilizar o horário administrativo durante as férias. Uma das curiosidades divulgadas é que a biblioteca estará aberta a toda a comunidade e não só aos estudantes.

TELECONSULTAS. Os projectos Internet nas Escolas e Teleconsultas foram outros dos aspectos sublinhados pelo presidente do Politécnico da Guarda. Projectos integrados no programa Guarda – Cidade Digital. Internet nas Escolas pretende dotar as escolas do ensino básico do Distrito da Guarda de computadores multimédia, ligados à Internet e à Rede Ciência, tecnologia e Sociedade.

Relativamente ao projecto das teleconsultas, José Alves lembrou que essa aposta será feita, numa primeira fase, os concelhos de Seia, Guarda, Trancoso e Almeida. Um projecto que tem como objectivo colocar os médicos a efectuarem consultas à distância e que permitirá também aos doentes não ficarem em filas de espera, quando apenas querem renovar receitas.

Mas a grande novidade, na área das tecnologias, é o Laboratório de Internet e Informática Aplicada. Um laboratório que tem por objectivo disponibilizar serviços nas áreas da internet e intranet. Refira-se ainda que o Instituto Politécnico está a desenvolver um programa que permitirá o estado da água na Guarda, uma vez que as análises já são feitas naquele organismo.

SEIA. João Brás, ex-presidente da Escola Secundária de Seia, é o futuro director da Escola Superior de Turismo e Telecomunicações de Seia. Esta foi outra das novidades divulgadas por José Alves, que pretende abrir os cursos de Turismo e Turismo Ambiental e Rural já em Outubro, anunciou ainda que a escola ficará a funcionar provisoriamente nas actuais instalações do Pólo de Seia. No entanto está já em projecto a construção da nova escola, num terreno cedido pela autarquia. As obras custarão 500 mil contos e a escola ficará com capacidade para 600 alunos.

ESTUDANTES. A Associação de Estudantes do Instituto Politécnico da Guarda poderá ter, a curto prazo, uma nova sede social. As antigas instalações da Junta Autónoma de Estradas, situadas junto ao Politécnico, poderão ser a solução para que os estudantes daquele estabelecimento de ensino ganhem outras condições. Segundo apurámos, para a obra já estarão destinados 50 mil contos, em verbas do Piddac.

A própria Direcção Geral de Património, proprietária das antigas instalações da JAE, respondeu afirmativamente à proposta de José Alves, presidente do Politécnico. Junto à nova sede da Associação de Estudantes ficará também um outro edifício destinado aos serviços centrais.

O anuncio da construção da nova sede da Associação de Estudantes vem de encontro às linhas orientadoras da candidatura de José Alves ao cargo de presidente do Politécnico, e surge numa altura em que João Pedro Borges tomou posse como presidente da Associação de Estudantes. Uma tomada de posse realizada no início deste mês, onde os novos corpos sociais anunciaram lutar “por melhorar a qualidade do ensino superior, de modo a criar um clima de estabilidade no seio do Politécnico”. Isto porque só assim é que o IPG pode tornar-se um ponto de referência no ensino público português
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NAS ESCOLAS DA GUARDA

Colóquios para todos os gostos

O Instituto Politécnico da Guarda tem agendados diversos colóquios para o final deste mês e para Junho. Uma mão cheia de iniciativas, que demonstram o dinamismo das suas escolas. “Levantar o Passado para Implantar o Futuro” é um dos colóquios a realizar, já nos próximos dias 30 e 31 de Maio. De acordo com a organização, a iniciativa pretende “sensibilizar as comunidades civil e estudantil para a importância destas áreas no desenvolvimento do País”. Após a sessão de abertura, a primeira prelecção ficará a cargo de António Monteiro, da Superior de Tecnologia da Guarda, que falará sobre os cursos de bacharelato em Engenharia Topográfica. Ainda antes do intervalo para o café, Vitor Charneca, da Universidade do Algarve, Luís Machado, do Politécnico de Beja, e João Paulo Hespanha, da Universidade de Aveiro, abordarão também aquele tema.
As jornadas de topografia apresentam ainda, no primeiro dia, prelecções de João Manuel Torres, presidente do Conselho Nacional do Colégio de Engenharia Geográfica, Luísa Bastos, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, e Jacinta Almeida, da Socarto. Em análise vai estar também a Geodesia. Para o dia 31 também está prevista a participação de prelectores bem conhecidos, casos de Nuno Neves, da Universidade de Évora, Pedro Barata, da Portugal Telecom, António Abel, da Universidade de Évora, João Sousa Cruz, Gil Rito Gonçalves, da Universidade de Coimbra, Artur Seara e José Gaspar, da Escola Superior Agrária de Coimbra. No final actuará a tuna do Politécnico, Copituna D’Opipddana”. De referir que as jornadas abordarão não só a topografia em si, mas em todas as suas vertentes, como urbanismo, detecção remota ou sistemas de informação geográfica.

EDUCAÇÃO. A Escola Superior de Educação da Guarda realiza, nos dias 24 e 25 de Maio, as jornadas da comunicação. Uma iniciativa que terá como oradores Javier Nó, da Universidade de Salamanca, Pedro Cid, José Magalhães, Carlos Andrade, José Maria Gonçalves (Juiz Conselheiro), José Marques, do Tribunal Superior de Justiça, e José Rodrigo Carvalho, do Instituto de Comunicação de Aveiro. O grande destaque vai, no entanto, para o Secretário de Estado da Comunicação Social, Arons de Carvalho, que falará, no dia 25, sobre as obrigações do Estado na Sociedade de Informação. Ao longo dos dois dias outros temas estarão em análise, como os novos paradigmas da comunicação na sociedade digital, e direito e privacidade.

CIVIL. Quem também vai promover as suas jornadas é o curso de engenharia civil. 7 e 8 de Junho foram os dias escolhidos para o evento, que terá lugar no Instituto Politécnico da Guarda. Durante os dois dias da iniciativa falar-se-á sobre temas bem distintos, como “fundações em solos residuais”, “aterros sobre solos moles”, “sistemas de qualidade em obras públicas na construção”, “recursos hídricos e ambiente” e a “concepção de sistemas depuradores e licenciamento de descargas de águas residuais”. Participam nestas jornadas diversos especialistas em engenharia civil, casos de Carlos Rodrigues, Viana da Fonseca, Fernando Castelo Branco, Vitor Abrantes, António Pinheiro, Armando Lencastre, Carlos Ramos, José de Matos, Pedro Serra, António Cavalheira, António Relvão, José Santiago e António Tadeu, entre outros. Durante os dois dias será ainda efectuada uma visita aos laboratórios de engenharia civil da Escola Superior de Tecnologia e Gestão da Guarda.

MECÂNICA. As segundas jornadas de engenharia mecânica da Guarda realizam-se já nos dias 1 e 2 de Junho, no auditório central do Instituto Politécnico. A iniciativa tem início às 9 horas, embora a primeira prelecção só seja lida uma hora mais tarde, por José Carlos Góis, da Universidade de Coimbra, que falará sobre o estudo dos materiais energéticos. Para o primeiro dia das jornadas estão agendadas intervenções de Rui Figueiredo, também da Universidade de Coimbra, Maria João Pessoa, da Comissão de Coordenação da Região Norte, Maria Rita Herédia, da Direcção Regional do Ordenamento do Território, e Abel João Lopes, da Transgás. Ainda no primeiro dia, Simões dos Reis, administrador da empresa Enernova, que se dedica à exploração de energia eólica (em Setembro inaugura o primeiro parque eólico do Distrito de Castelo Branco), também falará sobre a sua experiência sobre a implantação dos parques eólicos em Portugal. O mesmo acontecerá com Carlos Laia, do Centro de Conservação para a Energia, Jorge Mariano, do Instituto Superior de Engenharia de Coimbra, Amilcar Ramalho, da U. Coimbra, Arlindo Ferreira, do Politécnico da Guarda, e João Alves de Sousa, da Universidade da Madeira, que abordarão outros temas interessantes. O segundo dia também se prevê longo e abordará, entre outros temas, o sistema de conforto em veículos automóveis, o controlo e a supervisão de caldeiras e as moldações compósitas.

MÚSICA. A música também esteve presente no Politécnico da Guarda. Depois das sessões realizadas a 17 e 23 daquele mês, a Escola Superior de Educação prepara-se para concluir o seu ciclo de música, no dia 31. A experiência pedagógica com crianças em idade escolar e pré-escolar é o primeiro dos temas a ser abordado. Mas durante o dia falar-se-á ainda sobre espaço de timbres/cores do tempo e temporalidades/existências efémeras. O ciclo de música termina com a actuação dos alunos finalistas da Escola Superior de Educação da Guarda.

 

 

OBRIGATORIEDADE EM CAUSA

Resistências à escolaridade

«Tudo o que seja diminuir a asa é dificultar o voo.»
Aquilino Ribeiro, Portugueses das Sete Partidas. 

Um em cada dez portugueses não sabe ler nem escrever. Apesar de consagrada legalmente desde 1835, a escolaridade obrigatória continua por cumprir, volvidas todas estas décadas. Como explicar esta resistência estrutural à escolarização? Não é com certeza um problema só de regime, pois tanto a monarquia, como a república, a ditadura ou a democracia, se mostraram incapazes de levar à plenitude este direito universal. Também sectores específicos da população (tradicionalmente ciganos e do mundo rural, e agora de nichos urbanos), têm fugido ao dever de escolarizar os seus filhos, obstaculizando o acesso ou o seu percurso escolar. A escassa procura por parte destas famílias (mesmo perante uma oferta que progressivamente se generaliza) e os entraves colocados no processo de escolarização, explicam-se por dois tipos de razões:

(i) económicas: o ensino obrigatório nunca foi, em Portugal e em termos práticos, sinónimo de gratuito; se não eram as propinas, eram as despesas com o material escolar básico (livros, cadernos, lápis) e os encargos colaterais (deslocações, vestuário, alimentação) que nem a “caixa escolar” nem o “SASE” conseguiam satisfazer. Despesas incomportáveis em contextos de pobreza e até de alguma miséria. Hoje, o consumismo, subiu a fasquia do que se considera “básico” no equipamento que cada aluno deve possuir (como se comprova pela campanha sazonal dos hipermercados sob o slogan do «regresso às aulas»). A hierarquia que se estabelece entre alunos na mesma classe, de acordo com o que se tem, evidencia a incapacidade de evitar mais esta “montra de vaidades” em que as escolas também se transformaram (a abolição da bata, por exemplo, veio desocultar desigualdades e despoletar pressões para se vestir apenas roupa ou calçado “de marca”). 

(ii) culturais: a alfabetização pouco ou nada dizia às comunidades acústicas e/ou ágrafas que a percepcionavam como um certo modelo cultural elitista. Para as sociedades agrárias, de tradição oral, onde os saberes pragmáticos do quotidiano agro-pastoril se transmitem de forma directa no trabalho compartido de adultos e crianças (Iturra, 1990), a escola não só é pouco atractiva (não parece fornecer os instrumentais imediatos a uma reutilização na actividade produtiva) como chega a ser referenciada como um luxo (não lhes dá nada como ainda lhes tira elementos da força de trabalho; mais do que um ganho é vista como um prejuízo económico). Num país com um estrutura produtiva muito assente nas PME, de forte base familiar, estes argumentos são recorrentes nas opções do “padre padrone”. Por sua vez, a vontade de ascensão social, traduziu-se sempre mais no fenómeno emigratório que na frequência escolar (Matos, 1997). 

«Na prática, pouco ou nada nos distinguia dos analfabetos: a única chama que queríamos ver acesa dentro de nós era a preciosa arte de assinar um nome. Receber carta de chamada, ir correr papéis para o embarque e poder dizer que tinha um nome e que o sabia assinar. Na hora desse aperto final, qualquer tolo aliás o aprenderia de véspera. Bastava encarreirar as letras por cima duma linha mais ou menos direita, pôr a cabeça à banda e a língua de fora, as mãos bem arrochadas sobre uma pena de molhar ou uma caneta de tinta permanente – e pronto. O importante era convencer os cônsules, os solicitadores, toda essa barreira de gente que teimava em cortar-nos o caminho e em pôr-se entre nós e a América.»

(Gente Feliz com Lágrimas, João de Melo.)

A escolaridade cumpria-se como obrigação para alcançar objectivos imediatos e bem precisos, desde o minimalismo do saber assinar, a uma 4ª classe (nocturna, na maioria das vezes) para a obtenção da carta de condução ou o acesso a certos cargos públicos. E assim, não admira que esses grupos sociais tenham, numa tenaz recusa, contornando impunemente (com mais ou menos subtileza) os dispositivos legais da obrigatoriedade do ensino formal:

«– Tenho quatro filhos, meu senhor, quatro bocas, com a minha cinco, o meu senhor sabe o que é uma mulher na minha idade ter de ganhar pra cinco bocas?

O senhor professor não sabia nem queria saber, ele sabia apenas que Rei Preto era o seu melhor aluno, uma distinção garantida no exame; voltou ao decreto e à multa: arranjasse-se lá como quisesse, mas as leis eram feitas para se cumprirem, claro, para se cumprirem, ou o que é que ela imaginava?

– Bom, lá faça, mas a senhora a tirar o rapaz da escola e o carteiro a levar-lhe o aviso da multa, e a voz do mestre era sem apelação. 

– Bem me importa a mim o aviso!, respondeu mãe Piripau, cheia de confiança na sua pobreza. – Eu não tenho por onde pagar…»

(“Arte” in Povo, Afonso Ribeiro).

Parece que os actuais governantes estão a conseguir melhores resultados com certos estratos de “excluídos”, nas grandes áreas metropolitanas, que outros, no passado, conseguiram com as populações rurais; a “cenoura” do rendimento mínimo garantido revela-se mais eficaz que o “cacete” das sanções jurídicas (multas). Não admira, num contexto de “diálogo e concertação”, o actual sistema de subsídio-dependentes, fornece o quadro para que as partes se assumam como “parceiros” e, portanto, com algo para negociar. Tão simples quanto isto: tu dás-me o subsídio e eu mando o miúdo à escola / eu abono e escolarizo para evitar rupturas sociais e a falência do sistema).

Com todos os incumprimentos históricos, não espanta que neste início do 3º milénio, 70% da população portuguesa só tenha o 6º ano como máximo de escolaridade (a meta dos 9 anos está estabelecida desde 1986). A questão dos dias de hoje não se coloca tanto no acesso à escolaridade mas mais na prossecução dos vários ciclos da educação básica. A divisão por três ciclos (tradicional, corporativa e pedagogicamente desajustada), tem dificultado mais que facilitado o cumprimento de uma escolaridade que progressivamente se vai alargando. O abandono escolar ocorre principalmente nas mudanças de ciclo. As escolas integradas podem atenuar essa estratificação do sistema, mas a sua implementação não tem sido tão célere quanto o desejado.

Diversos segmentos populacionais não valorizam devidamente, não já as utensilagens básicas que o 1º ciclo fornece (sobre isso há unânime consenso), mas as aprendizagens dos ciclos subsequentes. O prolongamento de uma escolaridade com resultados menos visíveis e de menor impacto que o «ler, escrever e contar», onde «depois de todos aqueles anos de estudo não saem com nenhum ofício», como ouvimos os pais frequentemente confessar, não justifica, para estas pessoas, os sacrifícios familiares suplementares que esse ensino acarreta. E quando observam a dificuldade em obter o primeiro emprego, mesmo em jovens licenciados, mais se reforçam as baixas expectativas dos que avaliam, a curto prazo e de modo pragmático, os benefícios da escolarização. E se o quadro em que vivem é o de uma empresa familiar, com o lugar de trabalho naturalmente assegurado, só falta o pretexto para se abandonar a escola. E o pretexto é, em regra, o insucesso escolar; «enquanto for passando…» não há “desculpas” socialmente válidas para retirar os filhos do ensino, mas em caso de reprovação, a legitimidade social está assegurada.

Apesar de tudo isto, o “pleno quantitativo” está próximo, dizem os mais optimistas (normalmente o discurso de quem está no poder). Pois, desde que se resolva a situação crónica das crianças e jovens ciganos, circenses e surdos, assim como a dos novos excluídos, vítimas da pós-modernidade, ou antes, da Civilização do Caos (Ramonet, 1997), que origina bolsas de pobreza, não impede o trabalho infantil e fomenta marginalidades várias (ligadas ao narcotráfico e à prostituição). Continuamo-nos a cruzar diariamente com crianças e jovens que, em vez da estarem nos bancos da escola, andam a pedir, arrumar carros, a fazer biscates… Em termos numéricos, estas são minorias residuais, dirão os demógrafos, mas que não nos podem deixar indiferentes, como se de um fatalismo se tratasse. Eles colocam fortes desafios a uma sociedade que erige, na lei e na ética, o direito ao ensino e à igualdade de oportunidades para todos, como um dos princípios fundamentais do nosso viver colectivo.

Se, no domínio quantitativo, temos vindo a diminuir o fosso que nos separa dos países mais avançados, o mesmo não se aplica à qualidade (quer do ensino quer da aprendizagem); nem os optimistas se atrevem a negá-lo… o “pleno qualitativo” é ainda uma miragem. Importa investir nesta vertente, todos estamos de acordo. Ninguém se satisfaz com as condições em que exerce a sua profissão: melhorar os edifícios e a sua funcionalidade, equipar as escolas com os materias técnicos e pedagógicos que se impõem nesta sociedade altamente tecnológica de 3ª vaga (quando muito das nossas escolas são de facto primárias, no sentido literal do termo). No campo das tecnologias de informação e comunicação parece haver uma enorme vontade em alterar profundamente a situação de quase penúria em que muitas ainda se encontram; as metas informáticas são ambiciosas (ligação de todos os estabelecimentos de ensino até ao ano 2002, um computador por cada seis alunos até 2004). Os ventos sopram de feição: os propósitos não são só nossos mas de toda a comunidade europeia… E estamos em crer que também na Educação, só a pressão de factores externos (leia-se da UE) através da definição de “critérios de convergência” poderá superar as fragilidades do nosso, ainda débil, sistema educativo, onde o analfabetismo é a chaga que ninguém consegue sarar.


Referências

ITURRA, Raúl (1990) Fugirás à Escola para trabalhar a terra. Lisboa: Escher. 

MATOS, Sérgio Campos (1997) “Política de Educação e Instrução Popular no Portugal

Oitocentista”. Clio, nova série, vol. 2, pp. 85-107. 

RAMONET, Ignacio (1997) Géopolitique du Cahos. Paris: Galilée.

Luís Souta
ESE de Setúbal

 

 


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