Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano III    Nº28    Junho 2000

 

Destaque

INVESTIGADORES REÚNEM EM CASTELO BRANCO

Conselho regional avança

O Conselho de Investigadores da Beira Interior vai avançar e já tem uma comissão encarregue de dar os primeiros passos. Este é o resultado de um encontro de investigadores realizado em Castelo Branco a 16 de Junho, e que reuniu cerca de 30 investigadores da Beira Interior, ou a ela ligados, que votaram favoravelmente a proposta apresentada.

O encontro foi promovido pela Associação Cultural Outrém, representada por José Carlos Moura, em conjunto com o IPJ e o Governo Civil de Castelo Branco, contando ainda com o apoio do Ensino Magazine. A comissão encarregue de avançar com o Conselho é constituída por José Luís Adriano, José Carlos Moura e Jorge Gouveia.

Inicialmente, este Conselho será uma estrutura informal, que contará com a ajuda de rectaguarda da delegação regional do Instituto Português da Juventude, local onde já se realizou esta primeira reunião. O Instituto encarregar-se-á de fazer chegar mais longe os livros publicados pelos investigadores e até de levar a informação à Internet.

Aquela instituição assumirá também a tarefa de organizar e editar o livro dos investigadores da Beira, onde constará a identificação, trabalhos publicados e as áreas que investiga, de modo a facilitar o contacto entre investigadores.

Inicialmente, a proposta não reuniu o consenso de todos, mas depois de uma discussão de cerca de duas horas e meia chegou-se a acordo. Mais difícil esteve porém a hipótese de cada investigador pertencente ao Conselho ter um cartão de investigador com o carimbo do Governo Civil, que apadrinhou para já o Conselho.

Alguns investigadores não concordaram que fosse uma instituição ligada ao poder que emitisse os cartões. Outros acharam que limitaria a acção de investigadores que viessem de fora para a Beira, bem como limitaria a actividade dos iniciados nesta área. Porém, Francisco Abreu, delegado regional do IPJ, esclareceu que quem passa os cartões será o Conselho e que “o cartão terá de ser entregue a todos aqueles que o necessitem”.

PRÉMIO. Também presente neste segundo encontro de investigadores (o primeiro decorreu em 1998) esteve o Governador Civil do Distrito de Castelo Branco, que apoiou a iniciativa desde a primeira hora. Sampaio Lopes referiu que é preciso “algo mais do que palavras para dar visibilidade ao trabalho desenvolvido pelos investigadores da Beira”.

Nesse sentido, aquele responsável falou na possibilidade de ser criado “um prémio, sob a responsabilidade do Governo Civil, que tenha como objectivo chamar à praça pública os trabalhos que os investigadores da Beira fazem de facto e que corre o risco de passar despercebido”. É que, diz o Governador, é hora de dar valor às pessoas que sabem e não àquelas “que sabem tudo sem nunca terem aprendido nada”.

O prémio recolheu assim mais apoios do que a ideia do cartão de investigador. Mas ainda assim, o cartão irá mesmo avançar. Depois de alguma discussão, surgiram opiniões bem mais favoráveis à ideia. Um dos presentes referiu mesmo que “o investigador, ou está reconhecido ou terá problemas em alguns organismos públicos. E o cartão pode ser um início de abertura de portas importantes”.

Outras vozes juntaram-se à ideia: “Para mim é uma honra ter esse cartão. Não para pertencer a uma elite, mas até em termos de auto-estima”, disse uma delas, enquanto terceiros referiam que “o cartão vai trazer algo de importante, que é a afinidade entre os investigadores. É um elo de ligação e o assegurar de uma identidade”.

Após a discussão, ainda alguns investigadores referiram que seria preferível organizar um outro encontro, mais participado. Mas Francisco Abreu explicou que “há questões patrimoniais para as quais começa a ser tarde. Não sei se para essas questões, o trabalho feito só daqui a dois anos ainda virá a tempo”.

Uma ideia defendida também por Pedro Salvado, que veio dizer que não interessa para já o perfil do investigador. Interessa é “saber também o que é que o Ministério da Tecnologia pensa em relação à investigação na Beira Interior”. Uma questão que para já não tem resposta.

Mas há questões importantes a que se deve responder já. E como os investigadores trazem à luz do dia problemas, por exemplo, de património ou de ambiente que têm de ser resolvidos, será tempo de agir quanto antes. Caso contrário, como diz Pedro Salvado, qualquer dia, os investigadores serão todos arqueólogos, porque o que andam a investigar pertence à história arqueológica.

 

 

 

CRISTINA LIMA SATISFEITA

Conservatório dá música

Cristina Lima, directora do Conservatório Regional de Castelo Branco, está satisfeita com o último ano lectivo. “Este foi um ano muito positivo, apesar de atribulado, já que seis dos nossos professores foram fazer a sua profissionalização. Facto que aconteceu pela primeira vez a nível nacional e que nos obrigou a uma grande sobrecarga, mas tudo correu muito bem”, diz Cristina Lima, enquanto explica que “o Conservatório foi a instituição do género do País que mais professores teve em profissionalização”.

Terminado o ano lectivo, o Conservatório está a promover a sua semana aberta. Uma semana onde o conservatório abre as suas portas à comunidade, sobretudo aos jovens que pretendem vir a frequentar aquela escola. “Nessa altura faremos a ronda dos instrumentos. Uma iniciativa que pretende colocar os jovens em contacto com os diferentes instrumentos musicais. Deste modo, torna-se mais fácil a que eles mais tarde venham a escolher aquele que querem aprender”. 

A ronda dos instrumentos realiza-se nos dias 28 e 29 de Junho, entre as 16 e as 18 horas, e no ano passado registou uma grande adesão. Além da Semana Aberta, que antecede o período das matrículas, que vai de 1 a 15 de Julho, sendo a primeira semana apenas para os actuais alunos do Conservatório, Cristina Lima lembra outras iniciativas. “O crescer com a música deste ano está a terminar. realizámos dois espectáculos em Castelo Branco, com cerca de 1600 crianças, e no dia 30 vamos realizar o concerto de Alcains”. Além disso, diz, “o festival de música de Castelo Branco, Primavera Musical também correu muito bem. O programa foi excelente e, nesta altura, penso que já conseguimos criar um público fiel aos concertos. Ou seja, o festival já está a criar raízes fortes na Região”. 

Outra das actuações que Cristina Lima salienta, foi a efectuada, este mês, na Igreja Matriz da Sobreira Formosa. “No ano passado, através da Orquestra de jovens interpretes, que estagiou em Castelo Branco, promovemos um espectáculo que agradou aos responsáveis da Câmara de Proença-a-Nova. Daí que tenham respondido positivamente ao desafio de actuarmos com o nosso coro e a nossa orquestra”.

A grande festa de encerramento do ano lectivo está agendada para o próximo dia 1 de Julho, na Escola Superior Agrária, onde será feita uma demonstração, pelos alunos, daquilo que foi feito durante este ano. “Além disso, e até essa data, haverá mais algumas audições no Conservatório”.

E assim se encerra mais um ano lectivo, uma ano muito especial, já que assinalou também as bodas de prata daquela instituição. Uma data assinalada com um concerto, Glória de Vivaldi, apresentado na Igreja de Santa Maria do Castelo. Um concerto que pode ser visto, novamente, no dia 8 de Julho, na Sé Catedral de Castelo Branco.

 

 

 

ESCAVAÇÕES NO CASTELO DE CASTELO BRANCO

Aqui há balas de canhão

A construção de um novo depósito de águia na cidade de Castelo Branco foi motivo da descoberta de objectos antigos, como cerâmica, ossos e vidros, de onde se partiu para um estudo arqueológico mais aprofundado, através do qual já forma encontradas 17 balas de canhão, em ferro, e outros objectos metálicos.

Os trabalhos arqueológicos, que já atrasaram as obras em cerca de um mês e meio, começaram no final de Maio e agora estão a ser tiradas as primeiras conclusões. O terreno foi escavado até ao substrato rochoso e procedeu-se à quadriculagem do terreno, ou seja, à divisão do terreno em quadrículas de dois metros quadrados, num total de 12 metros por quatro.

À medida que a escavação decorreu foram aparecendo outros objectos, como um anel de criança em vidro, vários objectos metálicos e várias balas de canhão, quase todas na mesma quadrícula, bem como cavilhas e pregos em ferro. Encontraram-se ainda pedras em granito, talhadas, o que indicia a antiga muralha, dado que a zona é de xisto.

Pelo entulho encontrado, Pedro Salvado, professor da Escola Superior de Artes, e Sílvia Moreira, arqueóloga, que dirigem os trabalhos, consideram que o local já tinha sido remexido aquando da colocação as manilhas do esgoto. Mas só agora se notou uma preocupação com o achado, que colocou a descoberto alguma cerâmica do século XVIII.
Daí que, para Pedro Salvado, “esta é a primeira vez em que se nota uma atitude firme por parte da autarquia na defesa dos valores histórico-patrimoniais. Houve um aumento da sensibilidade da Câmara para este facto, um facto registado num espaço onde nasceu a comunidade albicastrense”.

OCULTO. Aquele docente considera ainda que “muitos albicastrenses desconhecem que a actual silhueta castelã resultou apenas de um incrível pastiche arquitectónico concebido nos anos 40 pelos monumentos nacionais”. Por isso, afirma: “Não estou muito longe da verdade ao afirmar que o verdadeiro castelo de Castelo Branco ainda se encontra oculto”.

Para isso, será necessário que os trabalhos arqueológicos continuem. Pelo menos é o que se poderá dizer quando se afirma que “arqueologicamente falando, a ocupação humana no morro genético de Castelo Branco remontará à idade do bronze (século X A.C.), constituindo a altitude um grande valor estratégico. Infelizmente, ainda não há estruturas datadas desse período”.

Até agora, as certezas remontam apenas à presença romana. “Mas também para este período há um total desconhecimento actual quanto à existência de estruturas”. Mais fácil será seguir a história do castelo a partir da época medieval, pois existem outras fontes documentais. Mas ainda se impõe perguntar: Se documental-mente se sabe que o castelo foi uma fundação templária, onde estão essas primitivas fundações?”.

Enquanto a pergunta permanece sem resposta, vai sendo avaliado o trabalho realizado na presente escavação. Para já tudo aponta para que se trate de “uma estrutura defensiva onde se encontraram 17 balas de canhão, o que não é muito comum. Pode ser um sector da antiga estrutura acastelada datável do último grande impacto bélico que o castelo de Castelo Branco sofreu no século XVIII”.

As peças encontradas seguirão agora para o Museu, embora um dos alunos da Escola de Artes que tem auxiliado na escavação (onde a colaboração dos trabalhadores dos Serviços Municipalizados foi importante) defenda a realização de uma exposição no Hotel Colina do Castelo.

A avançar essa ideia, a exposição poderá ser mais alargada, pois, a intervenção agora realizada “é uma compensação arqueológica a uma obra de construção civil e entrou também em contacto com o complexo do cemitério do Adro da Igreja de Santa Maria, escavado na década de 80 pelo Dr. João Ribeiro. Uma pessoa a quem se deve, dentro da história do nosso castelo, o retomar do interesse e a preservação e estudo das nossas origens”. Falta agora saber se esse interesse vai ser retomado de novo.

 


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