Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano III    Nº29    Julho 2000

 

Figura

NO MUNDO DAS EDITORAS

Elsa Ligeiro na cultura

Chama-se Elsa Ligeiro. É natural de Alcains. A idade não vo-la digo, porque isso são coisas que não se perguntam a uma senhora. Neste caso a uma jovem, que depois de uma aventura pelos jornais, decidiu investir o seu tempo na cultura, na poesia. É proprietária da editora A Mar Arte e da produtora de actividades culturais Alma Azul, além de ser sócia da livraria A Mar Arte, em Castelo Branco. É aquilo a que se chama uma mulher no mundo das letras, da poesia, da cultura. Mas com uma diferença. Tem ideais bem definidas sobre aquilo que quer, leva a poesia aos mais novos, através de sessões em bibliotecas e é responsável pelo aparecimento de novos valores no mundo da poesia.

Ainda recordo aquela tarde em que Elsa Ligeiro fez a sua primeira apresentação do primeiro livro lançado pela A Mar Arte. Uma antologia de Fernando Pessoa, que em Coimbra, onde em Outubro de 1993 nasceu a editora, teve uma boa recepção por parte do público, mas que em Castelo Branco ficou um pouco aquém das expectativas. Hoje, não há iniciativa promovida pela A Mar Arte, ou pela Alma Azul, que não tenha a sala cheia. A insistência de Elsa Ligeiro, fez com que quer a editora de que é proprietária, quer a recém criada Alma Azul, sejam sinónimo de promoção cultural e acima de tudo de poesia.

“Quando constituí a A Mar Arte, pensei em lançar um projecto, que não passasse só pela edição de livros, mas que tivesse uma componente de promoção cultural”, lembra Elsa Ligeiro. “Acabei por apostar mais na edição, dando oportunidade a novos poetas. Estava decidida em fazer uma editora só de poesia, sobretudo que divulgasse novos nomes”, lembra Elsa Ligeiro. E assim nasceu a A Mar Arte. Um nome que surge do trocadilho de amar a arte, com o mar como símbolo. No total foram publicadas 87 obras, na sua maioria poesia. “Houve um livro que me marcou. O Ofício Imperfeito, de Paulo Ramalho, que quando o li, pela primeira vez, percebi que iria ficar...”.

A sua experiência enquanto editora diz-lhe que “nem sempre são as obras com melhor qualidade literária que mais vendem. Isto porque são poesias muito próprias capazes de rasgar novas linguagens. E tudo o que é novo é mais difícil. As pessoas ainda gostam mais de rimas do que da poesia linear em que é preciso mergulhar-se nela”. Por outro lado, diz Elsa Ligeiro, “as vendas estão também condicionadas pela publicidade que se faz. Hoje em dia a poesia não chega aos «media». Trata-se de um mundo que não é tão visível, logo não é tão vendável”. 

E porque editar livros de poesia exige um grande esforço financeiro e uma grande disponibilidade física, Elsa Ligeiro optou por colocar em “stand by” a A Mar Arte editora. “A A Mar Arte vai editar quando tiver autonomia financeira para editar aquilo que realmente quer. Ou seja, quero manter o projecto inicial inalterado. Não vamos editar obras que não estejam enquadradas nesse projecto”, explica. Daí o aparecimento da Alma Azul, que além de editora, é também uma produtora de actividades culturais. “A A Mar Arte só é viável, mantendo o projecto inicial, se houver mecenato a investir na poesia, ou se existir uma produtora de actividades culturais que a possa financiar. E essa produtora poderá ser a Alma Azul”.

Elsa Ligeiro acredita que a cultura, desde que seja promovida com criatividade, “pode ser uma indústria a desenvolver como prestação de serviços, como uma outra qualquer. Logo a Alma Azul, criada em Outubro de 1999, pretende não só lançar novos livros para o mercado, mas também promover a cultura. Nos próximos 10 ou 20 anos, as indústrias ligadas à cultura e ao lazer, serão as grandes indústrias. Vai haver mais tempo disponível por parte das pessoas. Os horários de trabalho estão a diminuir e a cultura pode ser a forma de prazer encontrada para ocupar os tempos livres”.

A Alma Azul editou, no último mês o Manifesto do Imaginário, de José Pires, mas Elsa Ligeiro salienta as outras actividades promovidas pela produtora. “Temos feito animação em bibliotecas municipais, promovendo a poesia portuguesa. Estamos a promover a acção sete poetas do século XX. Levo gente conhecida como Álvaro de Campos ou Mário Sá Carneiro, mas também outros poetas mais recentes como Al Berto, Eugénio de Andrade e Sophia Mello Breyner. E para envolver os jovens na poesia utilizo a multimédia como factor inovador. Ou seja, muitas vezes são os próprios autores que recitam os seus poemas. Tem sido uma experiência muito interessante e gratificante. Os jovens pedem-nos mesmo indicações de leitura e até enviam poemas seus”.

Uma das próximas iniciativas da Alma Azul será o encontro de poesia entre Coimbra e Castelo Branco. “É o primeiro encontro do género a funcionar, em simultâneo na casa Municipal da Cultura e na Quinta das Lágrimas, em Coimbra, e muito provavelmente no cine teatro, em Castelo Branco. Entre 1 e 4 de Novembro vamos fazer uma antologia de 40 poetas brasileiros, onde também serão apresentados filmes”
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