MÁRIO PISSARRA, CAMPEÃO
EM ANGOLA
Acabou o tempo dos
doutores

Natural de Penha Garcia, paredes meias com Espanha, onde noutros tempos, não muito longínquos o contrabando era a principal actividade, Mário Pissarra, é mais conhecido como sub-delegado do Instituto Nacional do Desporto. Cargo que ocupa há mais de 20 anos. Licenciado em Educação Física, Mário Pissarra Pires apresenta um percurso invejável e no seu currículo aparece o título de campeão de futebol de Angola, como treinador. Decorria então a época 1972/73, quando o recém licenciado em educação física foi chamado, pela segunda vez para cumprir o serviço militar. “Quando cheguei ao leste de Angola, disseram-me que afinal já não iria para o Lumege a orientar as tropas. Fiquei noutra zona e convidaram-me para treinar o Futebol Clube de Mochico, que ficava lá nas terras do fim do mundo”, recorda Mário Pissarra.
No início o agora sub-delegado do Ind em Castelo Branco pensou que se tratava de uma praxe. “Ainda lhes perguntei se estavam a praxar o capitão maçarico. Mas era mesmo séria a proposta e acabei por aceitar. Na altura a equipa ocupava a segunda posição após seis jornadas disputadas. O único campo pelado era o nosso, o que não impediu de somarmos pontos atrás de pontos”. Mário Pissarra lembra que a determinada altura a equipa quebrava na segunda parte. “Nós treinávamos bem durante a semana, mas no segundo tempo os jogadores quebravam fisicamente. Pensei que eles não cumprissem as regras do treino, ou que fizessem noitadas. Mas não. Como o tempo era muito quente, ao intervalo eles tomavam duche, o que lhes relaxava os músculos. Logo não correspondiam no segundo tempo”.
Com uma equipa recheada de grandes valores, como Seninho, que mais tarde foi para o Futebol Clube do Porto e para o Cosmos, Mário Pissarra conseguiu levar a bom porto a sua campanha, sagrando-se campeão de Angola em futebol. “Houve, no entanto, um encontro que esteve em causa. Fomos a Sá da Bandeira, que está situada a uma grande altitude, e no treino de adaptação ao campo, muitos jogadores começaram a ter tonturas. Pensámos que fosse da alimentação. Mas depois lembrei-me daquilo que um jogador da equipa, natural daquela cidade me disse, que tinha nevado na região. Acabámos por dar Infortil aos nossos atletas, ou seja o medicamento que era ministrado às nossas tropas para as operações. Na altura não era considerado doping. Hoje, um treinador teria que ser informado sobre os locais onde iria jogar e preparar os atletas em conformidade”. Ganho o campeonato angolano, o Futebol Clube do Mochico veio disputar a Taça de Portugal, com a CUF. “É claro que perdemos. Os atletas estavam mais preocupados em ver as famílias e em passarem algum tempo com elas. E esse foi também o nosso objectivo, pois estávamos longe do País há algum tempo”.
Mas as aventuras em África não se ficam por aqui. Mário Pissarra lembra que enquanto Capitão, sempre tentou ter as populações do lado das tropas. “Além dos panfletos que distribuíamos entre os militares das guerrilhas, para que eles se entregassem com as armas, recebendo em troca uma bicicleta (kinga) e um rádio, mais 1500 escudos por cada arma, ajudávamos as populações, fornecendo-lhes alimentos e assistência médica”. Deste modo recorda Mário Pissarra, “os próprios elementos das populações diziam quando é que nós poderíamos ir ao Luso sem perigo”. Já depois do 25 de Abril, elementos da Unita solicitaram, várias vezes, autorização para falarem às populações, o que era concedido.
REGRESSO. Em Portugal, mesmo antes de ir para Angola, Mário Pissarra leccionou no Liceu Nacional de Guimarães, onde foi também treinador de voleibol do Francisco de Holanda, e no Liceu de Castelo Branco. Altura em que também forma a equipa de voleibol do Benfica e Castelo Branco. “Nessa altura muitos jogos eram feitos ao ar livre, no quartel de cavalaria, já que o ginásio não tinha as dimensões adequadas”.
Depois de África, regressou a Castelo Branco, para a Escola Amato Lusitano. É na cidade albicastrense que volta a exercer as funções de treinador, desta vez de andebol, orientando a equipa do Benfica e Castelo Branco na 1ª Divisão Nacional. “Fizemos um bom campeonato, também tínhamos bons atletas. Além dos jovens da cidade, a equipa foi reforçada com três internacionais, que eram o Borges, vindo do Benfica, o Anaia, guarda-redes da selecção, e o Castanheira, do Sporting. Ficámos em quarto lugar, ou seja fomos os campeões do mais pequenos”.
DGD. Mário Pissarra foi ainda docente na Escola Superior de Educação de Castelo Branco, responsável por vários cursos de treinadores, mas é conhecido como um dos responsáveis pelo desenvolvimento desportivo na Região. Delegado da antiga Direcção Geral dos Desportos há mais de 20 anos, considera que “houve uma grande evolução desportiva no distrito. Um dos factores que condicionava o desenvolvimento desportivo era o espaço. A DGD, o Ministério da Educação e as autarquias, instalaram novos equipamentos nos concelhos e nas freguesias. Hoje todas as sedes de concelho têm um ou mais pavilhões. Algumas vilas também os construíram. Os campos de futebol também foram aparecendo um pouco por todo o lado, e nas freguesias incentivou-se o aparecimento dos polidesportivos”, lembra.
Para o sub-delegado regional do Instituto do Desporto, “agora há que melhorar os espaços existentes. Ainda faltam espaços importantes, como piscinas de água aquecida, que nem todos os concelhos possuem, mas as autarquias estão motivadas para essa situação. No que respeita a campos relvados, o Distrito começa a ficar bem servido, o concelho de Castelo Branco, por exemplo, tem três, e dentro em breve terá mais alguns. Houve uma grande evolução”. Mário Pissarra lembra mesmo que o Euro 2003 para sub 16, poderá vir a ser disputado no Distrito. “Durante a fase de apuramento para o Euro 2000, realizada em Castelo Branco, o delegado da Uefa lançou o desafio ao autarca albicastrense. O que é um bom indicador”.
Tal como quando tomou posse de responsável da DGD no Distrito, Mário Pissarra continua a afirmar que o Instituto do Desporto em Castelo Branco funciona como uma equipa. “Somos todos técnicos e procuramos trabalhar e ajudar os nossos parceiros. Não somos políticos. Aquilo que fazemos é ser porta voz das associações, autarquias e entidades junto do poder central, tentando arranjar soluções para o desenvolvimento do desporto”.
CANADA. Outra das paixões de Mário Pissarra é Penha Garcia. Foi lá que fundou a empresa A Canada – Actividades Turísticas. Reviver o passado de uma das aldeias mais antigas da raia portuguesa, tem sido um dos objectivos de Mário
Pissarra.
As rotas do Contrabando em veículos de todo o terreno e a cavalo, que levam os participantes até Espanha, pelos trilhos anteriormente percorridos pelos contrabandistas, é sinónimo disso mesmo.
É também em Penha Garcia que surgem outros desportos como a canoagem, percursos pedestres, ténis ou o slide. Mas há outras actividades, como o corte de chouriça caseira com bolo de azeite da região e o levantamento do tinto ou da imperial no Bar Frágua, em Penha
Garcia.
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