Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano III    Nº23    Janeiro 2000

 

Editorial

 

Ano novo, velhos desafios

Regressar à abordagem da formação de professores neste primeiro número do ano 2000 é um desafio que deve de ser continuado, já que o tema, apaixonante e complexo, se mantém impregnado de actualidade, sobretudo quando os docentes são, diariamente, confrontados com a necessidade de decantar modelos de formação que sirvam expectativas múltiplas e diversificadas.

Ele são as dos professores que querem ver melhorada a sua eficácia profissional; as dos alunos que desejam ver correspondidas as suas necessidades de aprendizagem; as das escolas que procuram uma cultura profissional e um clima de trabalho necessários ao seu desempenho sistémico e social; as dos pais que manifestam a preocupação com os custos da educação e com a qualificação escolar dos seus filhos; as do sistema educativo que prescreve funções cada vez mais diversificadas aos docentes; enfim, as da Administração que requer dos professores e das escolas, mais e mais exigências quanto à qualidade do ensino e aos produtos de aprendizagem dos alunos.

Poderíamos assim convergir na opinião, cremos que generalizada, que abrir, uma vez mais, o debate sobre a formação de professores não só é tarefa urgente quanto irrecusável, dada a reconhecida necessidade de: 1 - Garantir uma melhoria na qualidade do ensino enquanto chave mestra para a optimização do funcionamento do sistema educativo; 2 - Anular a perversão de fixar apenas critérios administrativos para a formação de docentes; 3 - Provocar a mudança e a inovação necessárias nesta época de profunda evolução científica, técnica, económica, cultural e social que caracterizam a aproximação do novo milénio.

Admitimos que a temática tem merecido um amplo tratamento, tanto através da reflexão de professores e investigadores, quanto à produção em termos quantitativos e qualitativos, da investigação educacional. Mesmo assim, atrevemo-nos a entender que o assunto não se encontra esgotado, tanto mais que não são poucos os estudos que reflectem sobre a não transposição para a formação docente dos resultados das pesquisas conhecidas e disponíveis na literatura especializada.

Acresce ainda que, não poucas vezes, formadores e formandos se encontram confrontados com o desencanto: os primeiros, no que respeita à diferença entre o seu empenhamento e os resultados das suas práticas formativas; os segundos, quanto à preparação para um desempenho que garanta a sua sobrevivência e desenvolvimento pessoal e profissional.

A formação de professores converte-se, assim, num campo de análise de crescente preocupação e interesse para professores e formadores; bem como para as instituições responsáveis pela formação inicial e permanente, quando questionadas pelas perplexidades que emergem da desarticulação entre as orientações conceptuais e os modelos de formação, por um lado, e por outro, pela incoerência revelada, na prática, por algumas dessas estratégias formativas.

Considerar, deste modo, a actividade docente como um contributo para a praxis de uma profissão dinâmica e em desenvolvimento é, igualmente, admitir que os professores são parte integrante, activa e fundamental, da mudança educativa, das reformas curriculares, da eficácia das escolas, do sucesso do sistema educativo, e da formação de cidadãos capazes de enfrentar os desafios do futuro.

Entendemos, pois, se outras razões mais não houvesse, que reflectir sobre os fundamentos das teorias, modelos e estratégias necessárias à compreensão e melhoria da formação de professores, não deve ser entendida como tarefa meramente académica, mas antes como um processo necessário à busca de respostas perante as perplexidades que, quantas vezes, se nos deparam no dia-a-dia da nossa actividade de formadores.

Hoje, cabe aos professores e às escolas um papel insubstituível quanto ao delinear das suas necessidades e estratégias de formação. Uma formação que se quer ver reflectida na mudança das atitudes e das mentalidades que enquadram as práticas escolares. Uma formação, enfim, que deixará de fora todos aqueles que lhe quiserem ser alheios. Porque no ensino já não há mais espaço para os indiferentes.

João Ruivo

 


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