Director: João Ruivo    Publicação Mensal    Ano III    Nº24    Fevereiro 2000

 

Gente & Livros

Marguerite Duras

“Anos depois da guerra, depois dos casamentos, dos filhos, dos divórcios, dos livros, ele veio a Paris com a mulher. Telefonara-lhe. Sou eu. Ela reconhecera-o logo pela voz. Ele dissera: queria só ouvir a sua voz. Ela dissera: sou eu, bom dia. Ele estava intimidado, tinha medo como dantes. A sua voz tremia de repente. E com o tremor, de repente, ela voltara a encontrar a pronúncia da China. Ele sabia que ela tinha começado a escrever livros, soubera-o pela mãe dela que voltara a ver em Saigão. E depois dissera-lho. Dissera-lhe que era como dantes, que ainda a amava, que nunca poderia deixar de a amar, que a amaria até à morte“.

in O Amante

 


Marguerite Duras nasceu a 4 de Abril de 1914 em Gia Dinh, Indochina, e morreu a 3 de Março de 1996.

Filha de professores franceses, passou a infância e a juventude naquela antiga colónia francesa, o que lhe marcou a vida e a escrita.

Aos dezoito anos vai para Paris, onde estuda Direito e Matemática. Durante a Guerra faz parte da Resistência e publica os seus primeiros livros. Depois da libertação filia-se no Partido Comunista Francês que abandona em 1955. Anti-colonialista, milita contra a guerra da Argélia.
 
Em 1939 casa com Robert Antelme e em 1947 com Dionys Mascolo, do qual tem o único filho, mas de quem também acabará por se separar.

Duras disse, um dia, numa entrevista “O que escrevem sobre mim é sempre muito mais difícil do que aquilo que eu escrevo. Porque se escreve sobre os escritores? Os seus livros deveriam bastar”. E têm de bastar pois foram cerca de quarenta livros, alguns autobiográficos, mas também peças de teatro, filmes, crónicas e artigos de jornal.

Da sua bibliografia destacamos: Vida Tranquila (1944), Uma Barragem contra o Pacífico (1950), O Marinheiro de Gibraltar (1952), O Vice-Cônsul (1965), A Amante Inglesa (1967), O Amante (1984), A Dor (1985), Olhos Azuis Cabelo Preto (1986), Yann Andréa Steiner (1992) e É Tudo (1996). Destacamos ainda o argumento para cinema Hiroxima, Meu Amor (1959) e os filmes que realizou baseados nos seus romances Destruir, Diz Ela (1969) e India Song (1974).

O Amante foi prémio Goncourt em 1984. É uma obra autobiográfica que relata os anos de juventude da escritora na Indochina. É aí que conhece e tem o seu primeiro e, talvez, o mais marcante dos seus amantes. Ela, europeia, tem quinze anos e meio e é pobre; ele, oriental, tem vinte e sete anos e é rico. Desta ligação a família dela só aceita o dinheiro. Na família dele, o pai não aceita nada. Um dia ele parte para casar com a noiva escolhida pelo pai. E é o fim inevitável de uma ligação, desde sempre assente na sua própria queda.

Eugénia Sousa
Maria F. Baptista

 


Novidades

A Europa-América publica a obra As Mãos Sujas, do escritor e filósofo francês, Jean-Paul Sartre (1905-1980). As Mãos Sujas acontecem na oposição entre o idealismo e o realismo. Quando um líder revolucionário colabora com os inimigos partidários, uma facção do partido designa um jovem idealista para o assassinar. As obras de Sartre assentam sobre o Existencialismo do qual foi o melhor representante. Em 1964 ganha o Prémio Nobel da Literatura que recusa.

A Assírio & Alvim aposta forte na poesia e publica "Poesia" de Alexander Search.Os poemas em inglês de Fernando Pessoa (1988-1935) sob o pré-heterónimo de Alexander Search. A obra contém os poemas adolescentes de Pessoa na sua primeira língua poética, o Inglês. Poesia sai em edição bilingue e numa tradução de Luísa Freire, premiada por este trabalho. A oportunidade de revisitar Pessoa.

O Instituto Piaget editou Um Novo Pacto Com a Natureza de Richard Heinberg. O autor com este livro defende que cada cultura estabelece um pacto com a natureza. Contudo, o acordo da nossa cultura está a quebrar-se, e é necessário selar um novo pacto. É urgente rever os princípios em que se estabelece a sociedade.

 


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