Os olhos e a barriga

Em verdade, em verdade se diga: dá gozo olhar para trás e folhear as duas dúzias de exemplares do Ensino Magazine que foram fruto e obra destes dois anos que hoje não queremos aqui deixar esquecidos.
Valeu a pena o esforço, foi gratificante o empenho, revelou-se imensurável o acumular de experiências que as dinâmicas equipas da RVJ e do semanário Reconquista imprimiram a este jornal.
Porque às vezes o falar incomoda, e não fora o hábito destas rotinas que nos obrigam à comemoração dos eventos mais significativos da vida, bem podíamos estar calados. Ou procurar outro tema de editorial que não nos obrigasse a dizer que este projecto é claramente um êxito, apesar das suas características e especificidades que, para nós, nunca constituíram um obstáculo, mas, antes, um permanente e reflectido desafio.
Há dois anos, para muitos, a aposta num jornal distribuído gratuitamente nas escolas e direccionado a um público alvo específico estava, à partida, condenado ao fracasso. Tretas! Os leitores do Ensino não só provaram que o projecto era viável, como revelaram que viemos preencher uma lacuna na diversidade dos órgãos de comunicação da região.
Para 1999 apontávamos, nas páginas deste mensário, quatro grandes objectivos: 1- Alargar a distribuição do Ensino aos distritos de Portalegre e da Guarda; 2- Penetrar, progressivamente nas escolas dos ensinos básico e secundário; 3- Aumentar a tiragem em mais mil exemplares;
4- Expandir, para lá da educação, o cunho cultural do Magazine, promovendo a divulgação de temas relacionados com a literatura, as artes, o espectáculo, a ciência, a música e o cinema.
Em Fevereiro de 2000 podemos orgulharmo-nos do que conseguimos alcançar. Hoje este jornal chega a todas as escolas politécnicas de Portalegre e da Guarda, sendo gratificante o acolhimento aí recebido e que se tem vindo a traduzir no aumento de notícias e de colaboração diversa que desses distritos nos chegam. Falta-nos muitas vezes o espaço para publicação de artigos de docentes e investigadores, dos diferentes graus de ensino, de vários pontos do País e até, ultimamente, das regiões da Estremadura e de Castela-Leão da nossa vizinha Espanha. Atingimos uma tiragem de 14.500 exemplares, o que nos coloca à frente da maioria dos jornais “especializados” de âmbito nacional. Demos direito de primeira página a inúmeras figuras que são referência na educação, na literatura, no teatro, no cinema, no
jornalismo... Mais não poderíamos esperar.
Por isso julgamos poder falar de êxito. Êxito de uma pequena equipa de jornalistas, profissionais de corpo inteiro, que conseguiram editar um jornal que partiu da cidade para a região, da região para o país e que, como referimos, bordeja já as mais prestigiadas instituições universitárias do interior de Espanha. Êxito na divulgação e conhecimento nacional do Ensino Magazine, que se vem traduzindo no aumento dos pedidos de publicação de artigos e de envio de jornais que, quantas vezes ultrapassam as nossas capacidades técnicas e materiais de os satisfazer. Êxito na ligação à comunidade educativa (pais, professores, estudantes, autarcas...) local, regional e nacional. Êxito no público e insuspeito reconhecimento da importância e qualidade do trabalho que por aqui se vai fazendo.
Por tudo isto, o ano de 2000 terá de ser de consolidação da excelente curva de crescimento alcançado. Consolidação e fidelização dos leitores; consolidação e aumento da tiragem (pelo menos para os 15.000 exemplares); consolidação da progressiva internacionalização dos leitores e colaboradores, pelo que colocamos claramente a hipótese de edição de artigos em castelhano; consolidação e melhoramento da nossa página na Internet, pelo que colocamos a hipótese de constituir um segundo jornal “virtual” onde qualquer interessado possa ter acesso ao texto integral de artigos de que, eventualmente, apenas publiquemos o resumo; consolidação da teia de amigos e colaboradores, pessoais ou institucionais, que já hoje nos permitem comemorar o nosso segundo aniversário com um conjunto de iniciativas de qualidade e diversidade inquestionáveis (ver nota).
E é porque nos sentimos bem, com nós próprios e com os leitores, que não queremos embarcar no pecado da gula e avançar para projectos não sustentados e insustentáveis nesta fase de crescimento e maturidade do jornal. Por agora basta assim. É que, como dizia a minha avó Judite, do pior que um homem pode padecer é do mal de ter mais olhos que
barriga.
João Ruivo
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